Capítulo 2

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Vítima de uma estudante desesperada

CASSANDRA

Não existe melhor lugar para se esconder do que os corredores das estantes de uma biblioteca. Não que dessa vez eu quisesse me esconder; o problema era o grupo de estudantes na mesa próxima à minha, que não estavam quietos como demanda as regras de toda biblioteca. Até entendo que montar a maquete de uma ponte metálica pode ser emocionante, mas alôô... biblioteca é lugar de silêncio.

Vencida pelo cansaço e a perda da esperança do grupo se calar, pego meu material e me encaminho em direção ao corredor onde ficam os livros sobre computação. Tenho um trabalho para entregar dali algumas horas e não consigo descobrir a causa de um maldito erro na hora de compartilhar um arquivo.

Amo o curso que decidi fazer. Não lembro como descobri do que se tratava Ciência da Computação, mas eu já sabia que queria seguir essa carreira desde muito nova. Entretanto, já estou há dois dias batendo cabeça em um código e são em momentos como esses que me questiono se esse curso vale realmente a pena as horas perdidas de sono e o estresse causado. Quem nunca duvidou da faculdade que decidiu cursar, que atire a primeira pedra.

Ando pelas prateleiras e, depois de pegar alguns livros que espero serem de grande ajuda, procuro um lugar ali perto que tenha uma tomada. Como se não fosse o bastante, meu notebook está prestes a descarregar.

A área onde se localiza os livros sobre computação fica mais ao fundo do prédio, logo tenho toda paz e silêncio que preciso para me concentrar. Escolho o corredor da última prateleira como refúgio, pois sei que poucos vão procurar os livros que se encontram ali. Afinal, quase ninguém mais programa em Pascal e COBOL. Muitos devem pensar que dormi nessa biblioteca, visto que cheguei aqui praticamente no raiar do dia; já passa da hora do almoço e ainda me encontro aqui.

Ao me sentar no chão, encostada na parede, plugo meu notebook na tomada minutos antes de descarregar completamente. Coloco o volume do áudio bem baixo, seleciono aleatório no Spotify e volto toda minha atenção às linhas de código que estão aparecendo na tela.

Não sei quanto tempo se passa até que eu percebo alguém parado na minha frente. Antes de tirar o olhar da tela do notebook, faço uma pequena oração pedindo que não seja nenhuma assombração que habita esta biblioteca. Sim, há boatos que a biblioteca é assombrada, mas ainda é dia e eu tenho certeza que os fantasmas ainda estão dormindo. Pelo menos isso que espero. Quando o intruso da minha concentração entra em foco, eu preferia muito mais que fosse um Gasparzinho da vida.

Victor Rutledge me encara de cima, com uma expressão de diversão no rosto. Alguns dias depois do nosso encontro armado, Ally e Theo assumiram o namoro (o que era algo que todo mundo sabia que estava acontecendo, menos os dois). Por ser melhor amigo do namorado da minha melhor amiga, Victor e eu acabamos nos cruzando mais vezes do que eu gostaria. Ele nunca perde a oportunidade de jogar algumas indiretas sobre a questão do sexo no banheiro do bar. Em minha defesa, pensei que nunca mais veria aquele rosto na vida. Fica aí um ensinamento para o futuro: não oferecer mais como opção sexo no banheiro do bar para estranhos.

Estamos nos aproximando do fim do inverno e o clima em Melbourne oscila entre as temperaturas. Quando saí de casa pela manhã, estava frio o suficiente para me fazer vestir um suéter, jeans e sapatilhas. A temperatura deve ter melhorado, já que Victor está de bermuda, camisa de manga longa e tênis. Contra vontade, me pego analisando seu tórax bem marcado pela camisa preta e suas pernas torneadas. Malditos hormônios!

— A seção sobre leis fica do outro lado – aponto por cima de seu ombro, indicando o caminho. Ele está no curso de Direito, juntamente com Theo.

A Louca Problemática do Nosso Destino [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora