capítulo 7

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     Anos...
Se passaram mais alguns anos...

    Nove anos, para ser exato, nove anos desde que Mariana e Heitor pararam com os passeios, nove anos desde que Mariana parou de brincar com as crianças no parque e levar Laura para lá, nove anos...
       A pequena Laura já não era pequena, o corpo da menina tinha quatorze anos sob a terra, quando na verdade deveria estar debaixo dela.

     O corpo da garota continuou a se desenvolver, ela aparentava até um pouco mais de que os quatorze anos que tinha. Se alguém via a garota, era pelas janelas, Mariana realmente parou de sair e de levar a filha as ruas, o único local o qual nunca havia deixado de frequentar era a casa de sua vizinha da frente, a casa de Carla.
       As duas continuavam muito amigas, embora somente Mariana fosse a casa dela, jamais o contrário.
    Ela disse a Carla que a fase da adolescência da filha chegou até antes do previsto, por isso ela não saia de casa, estava revoltada com o mundo e não queria ver ninguém que não fossem os próprios pais. Carla achou estranho, mas não disse nada, apenas concordou.

     Ao longo desse tempo todo que passou, Mariana desenvolveu uma tristeza profunda, ela sentia falta do parque, das crianças correndo, da paz que ela sentia estando lá, mas ao mesmo tempo ela sentia que fazendo isso estava abando Laura. O problema é que ficar dentro de casa com o corpo da filha já estava se tornando agonizante, era sufocante viver trancada em uma casa em função de um ser morto! E mesmo assim ela não queria desistir.
      Pensou por diversas vezes nessa possibilidade, mas não conseguiu levar adiante, ela não quis desapegar daquele corpo por tanto tempo, que agora parecia que ela tinha alguma obrigação com ele, e a obrigação, era não deixá-lo.

        Era noite, Mariana deitou-se ao lado de Heitor, mas não conseguiu pregar os olhos hora nenhuma, ela começou a pensar em como aquilo a estava deixando triste, e o quanto era assustador. Eles mantiveram um cadáver, dentro da própria casa por quatorze anos! Será que aquilo era mesmo amor? Ou era doença?
      Mariana se revirava na cama e assim se seguiu por toda a noite. Na cabeça dela aquilo parecia errado mas de algum modo parecia certo, era como se alguém estivesse sempre atrás dela dizendo " é sua filha, você não vai deixá-la, vai?" Aquela voz dentro de sua cabeça era torturante, e era ela quem não deixava Mariana seguir em frente.
     Depois de pensar a noite toda e também a manhã seguinte inteirinha, ela chegou a conclusão que aquele voz era ela mesma tentando se convencer de que precisava daquilo, mas ela não precisava, ela precisava sentir a vida, ver pessoas de verdade, estar com crianças VIVAS.
   No fim da tarde daquele mesmo dia, Mariana sentou-se na sala ao lado de Heitor para conversarem.

A decisão estava tomada, eles finalmente, enterraria o corpo de Laura.

Laura..Where stories live. Discover now