Sem proteção você pode morrer.

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[20.11.19      14:37pm]

— Desgraçado! Por que simplesmente não me mata de uma vez? — MinHo murmurava roucamente enquanto andava a passos cautelosos pelos diversos cômodos da enorme casa — Eu lhe encontrei. Eu deveria vencer o jogo ou ao menos morrer, mas por quê perde seu tempo me torturando?

O Lee havia acordado depois de seis dias no mesmo lugar que desacordou, com dores de cabeça que o fazia chorar e grunhir em sofrimento. Os machucados quase cicatrizados em seu rosto incomodavam por tanto coçar assim como seus braços que estavam no mesmo estado. Seu pescoço machucado era manchado em leves tons roxos com uma leve presença do preto e verde, e latejava. Sua palpitação acelerava à medida que se esforçava para caminhar. Sua garganta ardia, ora por falta de líquido, ora pelos gritos da primeira noite na casa.
E então após tanta busca pelo cômodo da cozinha, encontrou o que tanto queria. Abriu silenciosamente a geladeira, ainda com medo de encontrar o endemoniado, e então tirou de lá uma garrafa de água bebendo rapidamente a substância líquida que lá havia. O moreno ainda se entregava aos leves tiques fazendo com que um pouco da água molhasse sua pele pálida.
Estava tão concentrado em beber metade de uma garrafa de água que não percebeu a falta de talheres no local, não percebeu ao menos a falta de objetos pontiagudos por ali.

Ao finalizar a ação, trabalhou com suas pernas até a sala e viu, por uma das únicas janelas de vidro contidas ali, que os raios ultravioletas reluziam o dia assim como também fazia com as folhas das árvores que se mexiam por conta da brisa fresca. Chegou perto do objeto de vidro, passando os dedinhos levemente por ali, criando alguns desenhos. Sol; nuvens; flores; casa; gato; cachorro; pessoas.
Desejava estar do lado de fora aproveitando do aconchegante calor, mesmo que fosse entregando pizzas pela cidade. Sentia-se deprimido e amedrontado, e então percebeu a diferença de tudo, inclusive da temperatura.
Do lado de fora se encontrava luz e calor, e dentro da casa se encontrava o leve breu e o inexpressivo frio. Até mesmo as paredes eram gélidas. Com tanta coisa em mente, sentiu uma gota de lágrima fazer um rápido rastro por suas bochechas, mas limpou-as rapidamente e foi em direção à porta. Tentou abrí-la, sem sucesso. Tentou chutá-la e assim quebrá-la, sem sucesso. O moreno sentia vontade de gritar, mas não podia pois além da sua garganta lesionada, sentia-se aterrorizado e amedrontado, não queria ver Jisung em sua frente mais uma vez.

Lembrou-se então de seu celular, e checou todos os bolsos de sua calça jeans até encontrar o objeto. Porém, toda sua energia se esvaiu ao perceber que não havia carga no mesmo.
Arremessou o telemóvel ao chão com toda a força e raiva que acumulava dentro de si, sentando-se no sofá que ali havia e se entregando aos choros e soluços intensos.

— ME DEIXE SAIR! - ele tentou gritar, mas foi impossível visto que sua rouquidão ainda não havia melhorado — EU VOU SAIR DAQUI QUEIRA VOCÊ OU NÃO, HAN JISUNG.

Levantou do confortável sofá para assim se encaminhar até a porta que ali perto havia, chutando, batendo e socando, tendo esperanças de que em algum momento a mesma quebraria ou alguém o salvaria porém sentiu-se tonto logo após tantos movimentos.
Sentou-se no chão ao que tudo se tornou escuro para si. Sua cabeça latejava e mais lágrimas caíam de seus olhos.

— O que quer que eu faça? Porra, Jisung, só me deixa, eu faço qualquer coisa.

Um estrondo foi produzido na parede; móveis da casa estalavam e MinHo escutou barulhos de correntes arrastando-se pelo chão da casa. Se assustou de imediato e desejou nunca ter dito aquilo. Não havia pensado antes de dizer, e sabia que o endemoniado não deixaria barato, o pedindo sacrifícios.
Os barulhos cessaram porém as correntes ainda eram arrastadas lentamente agora no quintal da casa. MinHo decidiu não focar naquilo, então voltou para a cozinha onde atacou a geladeira até saciar um pouco da sua fome, tinha certeza que havia perdido alguns quilinhos conforme os dias foram passando.
Ao abrir a geladeira para assim então guardar os alimentos que dali tirou, sentiu um calafrio atacar seu corpo e seu coração acelerar, não sabia o que estava sentindo e porquê estava sentindo mas desejava ao máximo que aquilo passasse rapidamente. Suas pernas sucumbiram ao escutar as correntes arranharem agora o chão do cômodo anterior onde estava, e foi como se seu coração saísse por sua boca quando correu até o andar de cima novamente indo até um quarto qualquer.
O garoto não havia percebido para aonde havia corrido, não se importou com seu destino ao visualizar milhares de portas, algumas tão diferentes que deixavam de combinar com a cor das paredes. Não havia percebido estar em um quarto estranho para si, com cruzes invertidas penduradas nas paredes que estavam lotadas de manchas de sangue, e várias algemas e correntes presas à pequena e quebrada cama que ali havia.

Sentiu ânsia ao ver os objetos ali à sua frente, imaginando-se preso e ensanguentado enquanto implorava por ajuda. Correu imediatamente para um dos banheiros, o banheiro dos avisos.
Percebeu que o espelho estava manchado, era como se alguém houvesse tentado limpar as palavras ensanguentadas mas não conseguiram fazer por completo visto que o líquido avermelhado já havia secado.
em meio à manchas de sangue velho as palavras "sem armas hoje!" brilhavam sobre o espelho fazendo pingar sobre a cuba da pia. O cheiro era forte e deixava o moreno tão tonto a ponto de quase desmaiar. No momento não se sentia amedrontado, apenas curioso sobre o que aquilo significava.

"Como assim 'sem armas hoje!'?" pensou. "Isso significa que não vou ter proteção, e sem proteção posso morrer."

De qualquer forma nada poderia ser mudado então apenas limpou o espelho e se retirou do cômodo, temendo encontrar o endemoniado.
O sol raiava do lado de fora mas MinHo ainda sentia-se amedrontado. Não queria acordar novamente dentro de um pentagrama, não queria ser machucado. Tentaria à todo custo sair de lá vivo.
E, andando cautelosamente em frente às portas dos vários quartos, se arrepiou ao ver o menor dentro de um deles, parado e de costas para si. Suas pernas congelaram e o moreno se viu estagnado, assim como Jisung que apenas estava parado, nem ao menos se entregava à seus diversos tiques.
Com os olhos travados no loiro, MinHo respirou fundo e deu um passo para trás, mas parou novamente ao escutar um grito vindo do mais novo, e esse foi o gatilho para disparar em corrida escada à baixo.

Peek A Boo • hjs + lmhOnde as histórias ganham vida. Descobre agora