Não o toque!

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MinHo não sabia que atitude deveria tomar, não sabia se deveria correr ou continuar ali.
Ele estava sendo observado por quem? Apenas Jisung e ele estavam naquela casa, certo? Era isso o que ele queria acreditar.
O sangue escorrendo por aquele vidro o despertou, o cheiro era forte o suficiente para fazer seu nariz arder e então pensar que em alguns minutos ali poderia estar o seu sangue se o menino o encontrasse.
Se preocupou em como e onde deveria esconder seu magro corpo naquela escuridão.

Novamente, conseguiu escutar passos apressados ao longe vindo em sua direção, e sentiu seu coração acelerar e suas pernas sucumbirem mas logo tratou de se esconder atrás da porta esperando o pior acontecer.
Sentiu uma salgada gota d'água fazer uma rápida trilha dos seus olhos até o final de seu rosto, mas logo as secou e se manteve em silêncio.

4:02am. A brincadeira ainda não havia acabado. O moreno não sabia quando iria acabar ou como iria acabar e aquilo o amedrontava.
Apenas queria relaxar e beber um copo d'água enquanto liga para a polícia implorando por ajuda.

Jisung, por sua vez, passou ao lado da porta indo até o quarto ao lado. O Lee conseguia enxergar seus vultos pela fresta da porta. Jisung ficou parado por um tempo dentro do cômodo que antes o entregador estava escondido até desaparecer de repente.
MinHo não sabia o que estava acontecendo, não sabia se o menino havia ido embora já que não o avistou sair do quarto e não escutou mais nenhum barulho.
Decidiu, com suas mãos trêmulas e um forte enjoo, sair detrás da porta e checar, e se apavorou ao não encontrar o endemoniado no local. Pensou em como o menor podia facilmente o encontrar já que estava sendo observado e provavelmente podia se teletransportar mesmo não tendo a mínima ideia de como o mesmo o fazia.

Ouvia-se barulhos agora no banheiro do andar debaixo. A porta era fechada várias vezes com brutalidade como se algo ou alguém estivesse descontando toda a raiva naquilo.
MinHo, sem controle, começou a liberar uma série de lágrimas tentando buscar algum alívio naquilo, falhando miseravelmente.
Continuou até ouvir um estrondo, o espelho daquele banheiro havia sido quebrado e agora MinHo sabia que a coisa estava furiosa o suficiente para lhe encontrar e então tornar seus olhos negros também.
Pegou seu celular na tentativa de ligar para a polícia mas estava sem sinal, praguejou sentindo mais lágrimas correrem por seu rosto.

Fogo. Algo estava pegando fogo, e ele percebeu aquilo pelo cheiro sufocante que vinha do lado de fora da casa. Ele escutou os estalos da fogueira.
Tentou abrir a janela mas foi impossível até tomar providências e chutar a mesma com todas as forças que residiam em seu ser, mas se arrependeu logo após. O que viu do andar de cima o desesperou, fazendo-o liberar gritos esganiçados que arranharam sua garganta.

Jisung estava parado em frente à enorme fogueira, sua roupa era preta e apenas sua face era visível.
O endemoniado estava queimando bíblias e santos. Ele parou, entretanto, ao ouvir os gritos do mais velho, o encarando com uma feição nada amigável. Seus músculos tremiam e vez ou outra seu corpo era tomado por tiques, estes que às vezes faziam seu corpo e principalmente pescoço estalar por conta dos movimentos bruscos e repentinos.
Apontou seu dedo indicador ao garoto apavorado que arregalou os olhos marejados gritando uma série de "não, não, não".

— Venha aqui agora! — disse o endemoniado.

MinHo não o obedeceu. Ao invés disso, fechou a janela e saiu do cômodo o mais rápido pôde. Era difícil de enxergar por conta da escuridão que tomava conta da casa juntamente com seus olhos inundados, seu nervosismo era perceptível e isso só contribuía para sua má sorte.
Passou pelas escadas e resolveu descê-las porém pisou em falso, fazendo seu corpo ir de encontro ao chão.
A dor tomou conta de si enquanto sentia os diversos degraus da enorme escada machucar cada parte de seu corpo.

Já no final da escada, com seu corpo vulnerável estirado ao chão, levantou-se e correu até a cozinha da casa aos prantos e soluços. Nem tentou olhar em volta pois sabia que seria perda de tempo.
Tateou cada parte daquele local procurando por uma faca e quando a encontrou, gritou.
Queria poder tirar todo aquele medo de si, queria colocar tudo para fora e essa foi a forma que encontrou.

— Pai nosso que estás nos céus... — ele rezava num sussurro enquanto andava lentamente até o cômodo da sala. O entregador de pizzas não tinha uma religião fixa, mas naquele momento qualquer proteção era válida — Santificado seja o vosso nome...

Continuou até o fim da sentença em passos lentos e, cautelosamente, chegou à sala sentindo calafrios por todo o corpo ao ver a silhueta de uma pessoa. Jisung.
O demônio estava de costas para si de forma com que MinHo não pudesse ver sua expressão facial, vez ou outra seu pescoço era jogado para o lado por conta dos tiques e sussurrava palavras estranhas.

— Jisung...? Eu não quero machucar, por favor, vamos conversar. — o entregador resolveu chegar perto do garoto, e com a voz trêmula continuou — Por favor, me deixe ir embora e farei o que quiser.

Já perto o suficiente de Jisung, o moreno não havia escolhas o suficiente.

"Se você morrer pelo menos terá tentado, MinHo" pensou.

— Por favor, Jisung, me deixe ir.

MinHo fez algo que não deveria.
MinHo o tocou.

Peek A Boo • hjs + lmhOnde as histórias ganham vida. Descobre agora