Sumanai na, Itsumo.

HANAMI

SEIS MESES ANTES

A pequena cidade estava conturbada hoje.

Crianças corriam em direção a seus pais, que aguardavam calorosamente de braços abertos. Aquele era um vislumbre interessante de se ter, se as memórias não fossem dolorosas o suficiente.

Era Abril, mês que representava o Hanami.

As flores naquele período de primavera costumavam cair silenciosamente, tomando as formas das brisas e as cores de uma felicidade que chegava a ser perturbadora. Homens e mulheres se encontravam, encarando romanticamente um ao outro. Famílias se reuniam para contemplar o momento mais belo do ano.

Era hora do Hanami. A florada das cerejeiras.

Sasuke suspirou.

Lembranças percorreram sua mente. Memorias que ele não sabia se podia lidar. Medos que se faziam presente. Dores do passado que insistiam em permanecer.

Seria ele um covarde? Talvez seu irmão concordasse com isso. Itachi abdicou de sua própria vida em prol de uma nação que não merecia suas bondades. Então sim, talvez ele fosse de fato um covarde.

- M-me desculpe! - Uma moça alta, de longos cabelos loiros, dirigiu suas palavras ao homem que estava parado. Ele estava observando um painel rosa de flores caindo diante de seus olhos. Aquilo o dispersou.

Fitando-a por milésimos de segundo, ele voltou seu olhar para a chuva de memórias que o festival trazia, ignorando completamente a garota que o olhava embasbacada. A menina brevemente ajeitou o seu vestido e continuava piscando freneticamente em sua direção.

Sasuke mais uma vez pensou como seria voltar para Konoha.

Ele não se sentia merecedor de conviver entre aqueles que uma vez teve de virar as costas. Sasuke havia mudado.
Naruto, insistentemente, no Vale do Fim, o fez perceber o que estava tão abaixo dos seus olhos. A escuridão sem dúvidas o deixou cego, e ele não poderia se perdoar por aquilo. Não enquanto ainda houvesse pendencias com a vila.

Com aqueles que um dia magoou.

Com a Sakura.

O pensamento doloroso o pegou desprevenido, mas rapidamente foi interceptado pela senhorita ao lado.

Confuso, Sasuke olhou para ela mais uma vez, com uma explicita interrogação refletida em seu rosto. A garota pigarreou, desconcertada.

- Você é daqui?

- Não.

Balançando as mãos como uma ave enjaulada, ela estremeceu com a voz do rapaz, que a princípio se vestia como um andarilho, mas escondia uma beleza que certamente não era comum.

- Você está hospedado por aqui? - Tentando puxar algum tipo de conversa com aquele estranho homem, mais ela tremia por dentro e, aparentemente por fora.

Ele a encarou friamente dessa vez.

- O que você quer?

- E-eu...

E assim Sasuke Uchiha voltou a caminhar, deixando-a falar sozinha. Ele tinha uma longa jornada para percorrer.

Não havia tempo a perder.

Aquele breve momento de distração o fez pensar coisas que ele sabia que não merecia, e que talvez nunca alcançasse. Pensar em um futuro que poderia ter estava fora de questão, por ora.

Ele precisava pagar pelos pecados.

Talvez, assim, ele poderia ser digno da vila.

Dela... Talvez.