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Para combinar com a minha onda de má sorte, perdi todo o meu trabalho de Desenvolvimento da Infância

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Para combinar com a minha onda de má sorte, perdi todo o meu trabalho de Desenvolvimento da Infância. Tive que terminar tudo no dia seguinte, enquanto tomava café perto da faculdade junto com Amy, a prima de Hope que estudava comigo. Ela ja tinha terminado o trabalho dela e resolveu me ajudar para que eu conseguisse ter tudo pronto antes das 8 da manhã. Amy e Hope eram as melhores amigas que eu podia ter numa fase como aquela e o fato de serem tão diferentes fazia com que uma completasse a outra na minha vida. Hope tinha uma filha e por isso era mais madura, muito pé no chão e responsável. Ela tambem não tinha medo de falar a verdade e de se afastar de quem não fazia bem. Amy, por outro lado, tinha um rosto angelical e parecia ser muito mais nova que eu (apesar de termos a mesma idade). Amy sonhava alto e sempre via o lado bom das coisas e das pessoas, acreditando em tudo o que diziam para ela até que fosse provado o contrário. As duas me ajudavam a equilibrar a vida em Nova York que, até aquele ponto, não estava sendo nada fácil.

- A gente pode escrever ouvindo Chasing Queens? - perguntou Amy, que era muito mais fã do que eu - já ouviu a música nova deles? - perguntou, prendendo os cabelos loiros e curtos em um rabo de cavalo alto - eu chorei.

- Ouvi ontem indo pro trabalho... e só não chorei porque estava no metrô. Deus me livre chorar no metrô - falei, fazendo Amy rir - vou comprar nossos cafés antes que a fila fique gigantesca - disse eu, percebendo que nosso Café favorito estava começando a lotar. Eu e Amy sempre íamos ao mesmo Café, que ficava a cinco minutos andando da faculdade. Eu e ela tinhamos uma mesa favorita, que era ao lado da janela, e tínhamos uma bebida favorita, que era o capuccino de caramelo. Amy e eu nos encontrávamos ali sempre que possível, para que pudéssemos estudar enquanto fofocávamos sobre a vida - quer creme e açúcar? - perguntei, já me levantando.

- Por favor - disse ela, ouvindo Chasing Queens novamente enquanto eu ia buscar nossas bebidas.

Entrei na fila e fiquei atrás de duas garotas que falavam sobre uma nova máquina para secar esmalte de gel, porém eu não conseguia prestar atenção na conversa por ter notado um celular brilhante abandonado em cima do balcão. O telefone parecia ter sido esquecido e a garota servindo cafés não parecia nem um pouco incomodada com o fato de que um telefone tão caro estava jogado no balcão. Logo pensei em quantos clientes escrotos eu teria que servir para ter um telefone daqueles. 

- Pois não? - disse a atendente, me acordando do meu devaneio assim que chegou minha vez.

- Tem um celular perdido ali - falei, apontando para o telefone.

- Eu sei. Está aí desde ontem à tarde, mas ninguém veio buscar ainda. Não toca, não vibra... sei lá - disse a garota, dando um sorriso impaciente em seguida - e aí, posso ajudar?

- Dois capuccinos de caramelo - pedi, olhando novamente para o telefone - açúcar e creme, por favor.

Aquele era um telefone caro de mais para apenas se esquecer. Pensei na garota que devia estar no apartamento chique dela chorando por não saber onde estava o celular... ou na garota igual a mim que havia passado meses juntando dinheiro para comprar aquele telefone e agora não sabia onde ele estava.

- Aqui está - disse a atendente, estendendo os dois capuccinos para mim. 

- Acho que o telefone deve estar sem bateria - falei, vendo-a rolar os olhos em seguida.

- Não é problema meu - retrucou, olhando para a pessoa atrás de mim e perguntando se podia ajudar.

Fui até o telefone e virei a tela, logo percebendo que estava mesmo desligado. Resolvi pegá-lo e levar comigo para carregar. Assim eu podia enviar uma mensagem para algum contato e avisar que o telefone estava a salvo comigo.

Voltei para a minha mesa e encontrei Amy estudando a letra da nova música do Chasing Queens. O fato de eles terem lançado uma canção nova no dia anterior tirou completamente a concentração dela de qualquer outra coisa. Resolvi não mencionar o telefone, guardando-o e logo voltando a focar no trabalho de Desenvolvimento. Jovens. Influência. Celebridades. Eu precisava escrever!

***

Assim que cheguei em casa depois da faculdade, coloquei o telefone misterioso para carregar enquanto eu preparava um macarrão rápido. Don Juan brincava com o rato de borracha dele, pouco impressionado com o fato de eu ter um telefone tão caro em casa. Coloquei-o para carregar, esperando que ele ligasse antes que eu tivesse que sair para trabalhar. Estar com aquele telefone desligado me deixava ansiosa, pensando na pessoa que o havia perdido e provavelmente estava triste.

Coloquei novamente a nova música do Chasing Queens, dançando um pouco enquanto temperava o molho do meu macarrão. Realmente a música nova era muito boa e os lançaria para uma fama fora da América. Isso e o fato de serem lindos. O mundo não ia deixar batido o fato de haverem tantos garotos bonitos e talentosos em uma banda só. Eu precisava ir a um show deles rápido antes que ficasse absurdamente caro e inacessível.

Antes que o refrão da música chegasse, o celular misterioso vibrou em cima do balcão. Dei um leve pulo, me assustando com o som alto que o telefone fez. Assim como o Frankenstein, aquele monstro brilhante estava vivo. Coloquei meu macarrão em um dos pratos que havia trazido da casa dos meus pais, peguei o celular misterioso e sente à mesa, vendo Don Juan correr para a cama como se não tivesse interesse nenhum naquilo.

Olhei para o telefone, pronta para analisá-lo. A foto de fundo era a frase "Sou Uma Garota De Sorte" , envolta por uma nuvem branca e um céu azul. Interessante. Tentei abrir o celular e vi que não tinha senha. Interessante. Fui até a lista de chamadas, logo notando que o último número a ser chamado tinha sido "irmãozinho". Perfeito. Era de um irmãozinho que eu precisava.

Cliquei no ícone da cartinha e pensei no que escrever. "Oi, encontrei o celular da sua irmã hoje na cafeteria da faculdade. Vocês poderiam passar no Chikas Lo...". Não. Eu não ia dar o endereço do meu trabalho patético para estranhos. "Oi, estou com o celular da sua irmã. Me chamo Molly, tenho 19 anos, moro...". Não, aquilo não era um site de namoros. "Oi, me chamo Molly e achei o celular da sua irmã", escrevi. Simples e direto. "Me deixe saber quando é o melhor dia e lugar para que eu possa devolver".

Terminei meu macarrão olhando para o celular a cada cinco segundos. Minha curiosidade era muito grande e eu queria dar uma olhada nas fotos da garota para saber como ela era e o que fazia. Mas não. Era errado.

Meu celular pessoal vibrou, acordando-me do transe que eu havia entrado por causa do telefone misterioso. Era Lucas. Meu Lucas. Não. O Lucas da Laura.

Senti meu coração apertar, sem a mínima vontade de falar com ele. Lucas sempre me ligava quando tinha alguma dúvida sobre Laura ou quando estava na confeitaria da minha família. O nome dele brilhando na tela me fazia querer sumir, porque cutucava uma ferida muito mal cicatrizada. Abaixei a cabeça, tentando evitar o que eu estava sentado. Eu precisava dormir. Eu tinha trabalho aquela noite. 

No entanto, o celular misterioso vibrou antes que eu pudesse sair da cozinha.

"Você acabou de salvar a vida da minha irmã", escreveu o irmão da menina que tinha perdido o celular. Dei um leve sorriso, me sentindo a mulher maravilha. Era exatamente por aquele motivo que eu tinha levado o telefone para casa. 



A Vida é Dura Para Quem é Molly (Livro I) [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now