6. Saga do Feijão

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É, 'tô falando do abençoado do Jungkook.

Só por isso já dá para notar o nível da decadência, uma vez que o indivíduo que deposita qualquer esperança no animal do Jungkook está a um passo de usar crack. Pois é, clã; a coisa 'tá precária. Tão precária, aliás, que me arrisco a dizer que o episódio da falsa invasão tinha sido menos cabuloso que o atual cenário no qual eu e o bonitão duas caras nos encontrávamos, e olha que apenas duas horas tinham se passado desde o ocorrido.

— Não é querendo dizer que a gente quase queimou a casa, mas... — E lá vinha o gênio com suas frases de ouro. — Acho que a gente deu uma cagada generosa na cozinha.

— "Cagada generosa" foram as melhores palavras que você achou para definir a catástrofe que a gente acabou de fazer? — Levantei uma sobrancelha, olhando para Jungkook.

Vou tentar não me estender, mas explicando o diálogo acima sem economizar termos que explicitem com glamour a situação: eu e Jungkook tínhamos cagado generosamente — como o próprio Sócrates falou — a cozinha dos nossos irmãos. "Generosamente" porque não tinha sido de propósito, e "cagado" porque éramos dois imbecis desengonçados com mãos de alface que não sabiam como manusear panelas. Não sei como e nem quando a ideia de nos juntar para fazer uma janta maneira pareceu fazer algum sentido na minha cabeça, mas voilà! Fodemos com a panela e estragamos o queijo do Hoseok.

Parabéns, nota zero.

Voltando ao tópico, acho que me encontro na obrigação de explicar o que exatamente incitou a destruição — ou quase destruição — da cozinha, já que dizer que a cagamos generosamente é pouco para contextualizar o rolê todo. Beleza, senta que lá vem história.

Tudo começou com um inocente roncar de barriga ao final da tarde; eu estava morrendo de vontade de bater um rango depois de todo o estresse que passei com a criança intrusa, carinhosamente apelidada por Jungkook de Mucilon. Grandes estresses exigem grandes lanches, e eu, particularmente, só me sentia devidamente renovado quando o bucho estava cheio, o que não era o caso daquele dia, posto que a última refeição decente que meu estômago tinha visto já fazia mais de doze horas — descartando os salgados e as besteiras que comi ao longo do dia.

Somente pela barulheira nervosa na minha barriga, já era possível ouvir um "me alimente, humano desprezível" sussurrado pelo meu corpo, que calmamente me agraciava com uma puta dor de cabeça por não ter comido corretamente. Não pretendia prolongar o jejum, mas da mesma forma, não via uma alternativa viável para abastecer o bucho, já que Hoseok e Yoongi não estavam em casa e não tinha miojo — e eu me recusava a arriscar cozinhar qualquer coisa além disso por motivos de segurança. Resultado: ou eu passava fome, ou pedia ajuda.

Mas que ajuda, pai amado?

Sabe aquele lance de que "Deus sabe o que faz"? Pois bem. Longe de mim a audácia de questionar autoridades divinas, mas se não for de muito abuso — e, de alguma forma, eu sei que é — gostaria de saber se Deus tinha mesmo noção do que estava fazendo quando me enfiou na cabeça que seria uma boa ideia pedir ajuda para o energúmeno do Jungkook, vulgo pirado da katana que se achava o próprio Sasuke Uchiha na Terra. Tipo, tudo bom? O Jungkook é lá pessoa para quem se pede ajuda?

Acabou que a cascavel estava de bom humor e aceitou ajudar — e se querem saber, não fez mais que sua obrigação. A ideia era fazer batata frita, básico do básico, nada que desse margem para explosões de grande porte que fossem capazes de aniquilar o bairro todo, então preparamos a panela e o óleo necessário para fritar a parada.

E foi aí, pimpolhada, que o rolê tomou rumo só de ida à casa do caralho.

Em algum momento perdido durante o processo de esquentar o óleo, Jungkook e eu começamos a discutir. Este é o momento para fazer apostas, moçada: qual era a pauta da discussão? Joguem suas cartas, valendo uma coxinha vegana. Política? Corrupção? Investimentos públicos em educação? Qualquer coisa socialmente relevante?

NÃO CONFIE NELE  • jjk + pjmWhere stories live. Discover now