Impala 67

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O sangue negro espirrou no meu rosto quando decepei mais um demônio, o hotel tinha muitos andares e todos estavam infestados, criaturas gosmentas, e sem olhos, apenas com dentes afiados e cheio de veneno, seus corpos se torciam e se quebravam, alguns tinham mais membros que outros, o cheio de morte pairava no ar, um incêndio tinha começado do outro lado do prédio. Meus olhos lacrimejam, o odor era forte, e os gritos não cessavam, pessoas sendo despedaças devoradas e penduras, como sacos de merda. Azazel já estava imundo, seu terno agora aos trapos, tinha retirado o blazer, a camisa branca agora cinza e rasgada, os cabelos úmidos de sangue, seus olhos ainda brilhavam poder angelical. Ele tinha a força de mil homens, o vi pegar as criaturas pelo pescoço e despedaça-las com as próprias mãos.

Agora, corríamos para chegar as ruas, os corredores do hotel pareciam infinitos, estavam presos em um labirinto de portas idênticas, e a má iluminação não estava ajudando, a fumaça tomava cada vez mais conta da estrutura.

- O prédio vai queimar inteiro, estamos ficando sem tempo. - Arfei me apoiando nos joelhos.

- Se formos pela entrada principal, chegaremos as ruas mais rápido. - Argumentou o anjo.

- É impossível!

Nós já tínhamos tentado, o hall estava infestado por um ninho de demônios médios, era mais humanoides e mais perigosos, não falavam, apenas cuspiam um ácido mortal e rasgavam a carne humana em um único golpe.

- Achava impossível lutar ao lado de um anjo caído, achava impossível que o Diabo existisse, achava impossível ter o poder que tem. - Azazel se aproximou de mim, depois de todas essas horas, confiava no anjo, mesmo sabendo de seus pecados. - Nada é impossível. Só fica mais difícil.

Respirei fundo tomando ar, joguei meus cabelos para trás, larguei as lâminas no chão e corri para a bolsa que Anael tinha deixado no nosso quarto que agora carregava comigo. Fucei até achar duas pistolas 48, eram antigas e tinha cobre adornando o cabo, alguns símbolos antigos cravados no cano.

- Sabe como isso funciona? - Azazel levantou uma sobrancelha em dúvida.

Coloquei as balas, engatilhei e destravei em movimentos rápidos e precisos.

Olhei para cara de surpreso dele e dei de ombros.

- Eu tenho memória fotográfica.

O anjo apenas ignorou e seguiu em frente. Os elevadores ainda funcionavam, então pegamos um, do oitavo andar até o saguão. A caixa de aço parecia mais sufocante que o comum, meu corpo transpirava freneticamente, as batidas do meu coração falhavam a cada andar que o elevador parava. No terceiro quando a porta abriu, vi uma mulher correndo por ajuda sem um braço e gritando, logo trás um demônio que agora eu tinha descoberto que o nome era Fuji, ele corri sobre quatro patas, tinha duas cabeças e espinhos nas costas, mirei para além da mulher com as duas pistolas e o matei antes que a alcança-se. De qualquer forma as portas se fecharam antes que ela chegasse, tive o impulso de apertar o botão, mas Azazel me impediu.

- Não é nosso problema. Não agora.

Bufei estressada. A quem eu queria enganar. Não faço o tipo heroína, nunca fiz.

Finalmente chegamos ao térreo, as portas demoram para abrir, eu podia ouvir os gemidos dos corpos no saguão e os grunhidos das criaturas em seu ninho de horror.

Azazel tocou meu ombro, e quando o olhei. Não consegui ver um monstro do inferno, nem um ser do mal, ou qualquer coisa do tipo. Vi um guerreiro, vi alguém que lutou ao meu lado que me salvou diversas vezes, quando tinha a opção de me deixar morrer. Ele era um soldado e me fez um soldado naquela noite.

- É agora. Se concentre. - Sussurrou ele, tirando as espadas das costas.

O elevador tilintou e as portas se abriram.

O salão estava infestado, demônios enormes, de formas e tamanhos diferentes, não eram apenas os do ninho, eles tinham se triplicado. Imediatamente nos atacaram, Azazel estava dando tudo de si, usando seu poder para explodi-los por dentro, decapitando a maioria, deslizando no sangue para desviar de golpes fatais. A armas era confortáveis nas minhas mãos , atirei e gastei todas as balas que tinha, meu corpo fervia em adrenalina, saquei as espadas e as adagas arremessando-as bem na testa dos fujis, quando mais eu lutava mais sentia meu poder tomar conta do meu corpo. Lembrei da ultima vez, e temi pela vida de Azazel, e se eu não controlasse quem acertava? Me contive apenas as armas e a sobreviver as ataques. Mas eles eram muitos e logo estávamos cercados pela horda de demônios. Foi nesse momento que metade deles se explodiu em sangue negro, eram Anal e Miguel os destroçando. Pela primeira vez vi as asas de Miguel abertas e por Deus não podia existir coisa mais graciosa no mundo, a gloria era sentida no ar, eram enormes e acinzentadas e se arrastavam no chão.
Os demônios voltaram a se movimentar para atacar, com a distração Azazel e eu voltamos a luta. Agora nós quatro lutavamos contra a horda. Pulei nas costas de um demônio maior e enfiei duas espadas entre seu coração e pulmão, a criatura torceu a cabeça para trás e me olhou.

- Humana estúpida. - titubeou entre rosnados e a falta da língua na boca cheia de dentes afiados.

Miguel conseguiu decapita-la antes que eu tivesse chance. Cai de bunda no chão. E olhei em volta, mais demônios tinham chegado, não dariamos conta. Precisávamos fugir.

Então me arrastei por meio da confusão, matei quantos demônios vi em meu caminho e deixei-os para trás. Desci até a garagem no subsolo e comecei a procurar um carro para a fuga, um fuji surgiu do nada e me arremessou contra uma das pilastras da estrutura, gemi de dor mas logo me levantei e corri em seu encontro cravando a adaga do início da garganta até o final do estômago, o estripei em um golpe preciso.
Cambaleei um pouco enquanto procurava o automóvel. Por ordem do destino, havia um Impala 67 preto bem na quadra M10

- Mika... - sussurrei para mim mesma em um fio de voz.

Sem pensar duas vezes quebrei a janela do motorista e entrei no carro, claramente as chaves não estavam lá. Respirei fundo e decidi que talvez meus poderes ajudariam me concentrei na corrente de energia correndo minhas veias e apertei o volante. O ronco do motor ligado fez com que eu abrisse os olhos e abrir um sorriso aliviado. Subi com o carro indo direto para a saída, dei a volta na esquina e tomei distância, as portas do saguão eram de vidro e mesmo no breu da noite eu vi o caos da luta sanguinária que prosseguia.

Acelerei cada vez mais, aquecendo o motor. Eu tinha uma chance e tinha que ser rápido. Dei partida, arranquei com o carro e invadi o hotel. O estrondo assustou a todos, o carro derrapou sobre o piso de mármore. Gritei de dentro.

-ENTREM!!!!





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