Oli: Uhum. E perguntei a ele sobre a sua mãe, era algo que estava martelando na minha cabeça, um pensamento do qual eu não conseguia me livrar, entende?

Disse um tempo depois.

Eu: E como foi? O que ele falou?

Oli: A boa notícia é que não está falando com um fantasma, eu sobrevivi; a má é que ele se negou a responder minhas perguntas.

À essa altura um pensamento se sobressai entre a miríade de ideias que perpassa a minha mente: pegar o telefone e ligar para a mamãe. Não é comum o diretor permitir que nos comuniquemos com o mundo exterior fora dos dias estipulados, a menos, é claro, que estejamos doentes - e com doentes eu quero dizer com um pé na cova.

Embora não seja uma perita no assunto, posso fingir uma infecção intestinal e implorar para falar com a mamãe da enfermaria. Sei de inúmeros alunos que já fingiram uma doença para conseguir um telefona, eu não serei a primeira, muito menos a última.

No mais, a enfermeira Talbot, apesar de ser uma excelente pessoa, tem ouvidos de tuberculoso, e tenho quase certeza de que ela não se importaria de me deixar falar a sós com mamãe por um tempo, eu poderia aproveitar e fazer todas as perguntas que estão entaladas na minha garganta. Porém, me sentiria culpada, e com o Feriado do Dia do Fundador se aproximando, prefiro deixar para fazer as perguntas pessoalmente. Aparentemente é mais difícil sustentar uma mentira quando o confronto ocorre em nível presencial. Sempre tive a impressão de que a tecnologia facilita a dissimulação.

Eu: Então não conseguiu nada?

Oli: Eu não disse isso. Se tem uma coisa que eu aprendi com o meu pai foi a não desistir do que eu quero. E no momento não há nada que eu queira tanto quanto respostas. Foi difícil, mas depois que ele subiu para o quarto, eu fui até o escritório dele e peguei o caderno de capa preta.

Eu: Que caderno de capa preta?

Oli: Como assim que caderno de capa preta? Eu te falei sobre ele.

Eu: De jeito nenhum. Eu lembraria se tivesse falado.

Oli: Foi mal. É uma espécie de diário que o meu pai mantém há anos. Eu sempre imaginei que fosse da minha avó, por causa das iniciais na capa, as letras M e E entrelaçadas. Não sei se já te disse, mas o nome da minha avó era Evie. 

Seu relato me traz à lembrança o caderno que mamãe guarda a sete chaves em um baú no quarto. Anos atrás eu consegui pôr as mãos nele, embora por pouco tempo, minha estripulia infantil teve seu fim tão logo ela entrou no quarto, me pegando no pulo. Eu nem tive tempo de fazer perguntas antes que mamãe exigisse que eu largasse o caderno.  

Envio minha resposta: Eu sei o nome da sua avó, li sobre ela em um arquivo da Biblioteca Municipal.

Apenas depois de enviar me dou conta da estranheza do que acabei de dizer. Pra não ficar parecendo que eu sou uma maluca que esmiúça a vida dos outros - o que eu não sou mesmo - digito um complemento.

Eu: Antes que tire conclusões precipitadas, eu não sou uma stalker. Mas há muito material sobre as famílias fundadoras na biblioteca e a sua é uma delas. Eu precisei fazer uma pesquisa para a escola no quinto ano e encontrei uma matéria sobre seus avós no jornal do estado. Ela era muito bonita e elegante, parecia a Jackie Kennedy, só que loira.

Oli: Não precisa se explicar. Eu confio em você, banana.

O comentário faz o sangue subir para as minhas bochechas. Se não estivesse tão nervosa e impaciente, estaria rindo como uma bobalhona. Falar com o Oli quase sempre causa em mim o efeito de uma rajada de gás hilariante: além de me deixar leve como um sopro, me faz rir sem parar.

Viola e Rigel - Opostos 1Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt