Isn't it strange that I want you all the time?

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Notas finais.

(Eu indico as músicas: Mystery of Love - Sufjan Stevens ou Visions of Gideon - Sufjan Stevens, para a leitura).

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POV CAMILA.

O norte da Itália no verão era um dos meus lugares favoritos. Eu amava o cenário extremamente vivo e colorido que me cercava desde a casa de meus pais até o centro da cidade, que não tinha muito a se fazer, apenas uma livraria e cafeteria eram o meu entretenimento durante os dias. De fato, a literatura italiana me apetecia muito mais do que os livros famosos e latino-americanos que eu possuía jogados no chão de meu quarto, entre a porta do guarda-roupa e a parte de trás da porta. Talvez fosse o fato de que eu passava mais tempo aqui do que em qualquer outro lugar do mundo, eu era apaixonada pela forma como a cidade pacata conseguia carregar muito de mim, sendo passiva de todo e qualquer grande acontecimento, levando consigo a leveza e a beleza de algo desconhecido, que encantava poucos e acalentava os dias das pessoas sem muito esforço, e, pensando que eu dividia os meus dias entre leituras, conversas com meu pai, Alejandro Cabello, um historiador e professor de literatura aposentado, e o piano preto que me aquecia com as minhas próprias composições.

Em uma manhã de terça feira, eu a vi pela primeira vez. Ela chegou em um carro simples, provavelmente algum presente de boas vindas de meu pai, eu me lembro de estar na janela de meu quarto, no segundo andar, e apreciá-la abrir a porta e dar a volta no conversível verde, se apresentando formalmente à meu pai, que a acompanhava na recepção a nossa casa, ela tinha os cabelos beijados pelo sol que resolvia aparecer mais forte, sempre às dez horas, sua pele brilhava um pouco devido a claridade excessiva, e sua voz parecia bonita, vendo-a dali, eu conseguia sentir que ela era muito, mas eu não podia ver se isso era realmente verdade.

No fim da manhã, quase perto de completar meio dia e meio, ela apareceu na porta do meu quarto, eu pude então reparar que seus olhos eram de um verde extremamente claro, eu conseguia ver parte do próprio cômodo dentro deles, inclusive eu mesma refletida na cor cristalina dos mesmos. Ela não disse nada, segurava sua mala marrom em uma das mãos e parecia procurar algo através de mim, e então eu me lembrei, aquele quarto seria dela durante o verão, e o de hóspedes seria o meu, não foi uma grande decisão ou uma que me deixasse feliz, com essa lembrança apenas me afastei do batente, deixando que ela passasse entre a porta de madeira branca, caminhando em passos lentos até a outra porta, dessa vez azul, que dava direto ao outro quarto, antes que ela pudesse alcançar, entretanto, eu me movi minimamente para seu encontro, vendo que ela parou, de costas para mim, não fez menção de virar ou dizer algo, esperou que eu o fizesse, porém, eu não o fiz, apenas fiz meu pequeno caminho até ela, reparando, pela primeira vez naquele verão, que ela teria que passar pelo meu quarto todos os dias para entrar ou sair do seu, visto que um cômodo ficava dentro do outro, a não ser que ela se lembrasse de usar a porta lateral, que dava direto nas escadas que levavam até o corredor da varanda. Eu estava impressionada, com seu cheiro amadeirado, mas não tão forte como esses costumam ser, com a cor de seu cabelo, que agraciava sua pele branca, contrastando na cor preta, na altura de seus ombros, com seu nariz fino que carregava uma pequena curva saliente em sua ponta, com seus lábios rosados e quebradiços, com a forma que ela se empenhava em passar sua língua neles, molhando-os com maestria e delicadeza, seria delicioso vê-la, se não fosse trágico saber que eu a teria como uma colega de quarto, que estava ali somente para concluir seu mestrado. E eu não podia competir com isso, com sua repentina presença, que parecia encher meus pulmões com tão pouco, eu não podia competir com o quão claro seus olhos pareciam ficar naquele ponto do quarto, de frente para a grande janela que sustentou meu corpo quando eu a vi chegar algumas horas antes, e com esse pensamento, permiti que ela fizesse seu caminho até o outro cômodo, fechando a porta de madeira que se dobrava ao meio e continha uma alça para que fosse puxada em seu meio.
Eu suspirei, como nunca havia feito antes, talvez eu soubesse que não poderia desfrutar muito de sua companhia, talvez eu estivesse começando a odiar o fato de que eu ainda estava pensando em como seus olhos eram tão bonitos quanto a própria Itália na época de seu auge veraneio.

Mystery of Love. (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora