Entre dois reinos - Kiribaku

O príncipe do Submundo

Kirishima Eijirou estava fazendo suas tarefas, assim como em todos os outros dias, afinal, não era por ser o sucessor ao trono do Submundo que o pequeno demônio deixaria de se esforçar para ser digno do cargo. Muito pelo contrário, ele se esforçava mais do que todos os seus colegas para se mostrar digno de tal cargo. Ele era um dos responsáveis por levar alimento a todas criaturas habitantes do Submundo, principalmente para as que viviam afastadas do reino, que no caso eram todas, menos os demônios. Isso acontecia porque o primeiro rei do Submundo havia decretado que todas as outras criaturas do reino eram muito inferiores aos demônios, e que, por tanto, não mereciam viver na mesma sociedade que eles.

Kirishima também se dedicava muito na escola. Sim, demônios iam à escola. Lá eles aprendiam sobre a história do mundo e sobre as antigas batalhas contra os anjos. E, além disso, ele também ajudava tomando conta do castelo real, em quesitos de limpeza e preparação da comida, pois, mesmo que tivesse servos para isso, gostava de ajudar.

Mas havia um problema, os demônios, como o próprio nome já diz, são entidades malignas, porém esse não era, nem de longe, Kirishima. O menino sempre foi bondoso, carinhoso e sempre demonstrava compaixão por todos os outros seres vivos, o que sempre deixou dúvidas na sociedade dos demônios. Alguém como o garoto seria capaz de assumir um cargo de tamanha responsabilidade? Essa foi uma dúvida que acompanhou Eijirou pela maior parte de sua vida, o que o levou a duvidar do seu próprio potencial. Mesmo que quisesse agir como o esperado e soubesse como fazê-lo, o sentimento de culpa que vinha em seguida era gigantesco.

Contudo, All for one, pai de Kirishima, rei do Submundo e um psicopata sem nenhum pingo de piedade que não hesitava em exterminar aqueles que descordavam de si e tinha o rosto coberto por uma cicatriz enorme, produto de uma batalha antiga, alegava que esse jeito diferente do menino mudaria com o tempo e não havia com o que a população se preocupar, pois, até os cento e oitenta anos, o rapaz já teria virado outro demônio. Apesar de parecer uma idade muito avançada quando comparada com os humanos que só vivem por volta de cem anos, para os demônios e anjos normais que podiam viver até três mil anos, e para os demônios da realeza e os deuses membros da assembleia que podiam viver cerca de vinte mil anos, essa seria a idade em que o rapaz assumiria a maturidade, para logo em seguida tomar seu lugar no trono.

No começo todos acreditaram no rei e concordavam que até essa idade Kirishima já teria se transformado em alguém totalmente diferente, mas, agora, o menino tinha cento e setenta e sete anos e ainda não demonstrava nenhum sinal de mudança.

Apesar das inseguranças e do enorme peso que carregava nas costas, Kirishima ainda sim era um demônio feliz, principalmente quando estava junto dos seus melhores amigos, Sero Hanta e Kaminari Denki. Sero era filho do conselheiro real, e rapidamente passou a servir a mesma função que o pai, virando o conselheiro do herdeiro. Kaminari, por outro lado, era o filho do bobo da corte. Quando ainda criança, durante uma das apresentações do seu pai, Kaminari decidiu explorar o castelo real e acabou entrando no quarto do príncipe, que por sua vez estava brincando com Sero. Não demorou muito para que os três virassem amigos e, consequentemente, uma preocupação a mais para o reino, pois nenhum deles se comportava como um "verdadeiro demônio".

Kaminari, um demônio loiro com uma mecha preta em forma de raio no cabelo, era muito amigável, sociável e energético, o que lhe fazia agir de forma imprudente, ainda que, bem-intencionada. Denki também vivia brincando com seus amigos, fosse contando piadas ou fazendo pegadinhas, mas ele tinha muito cuidado com as mesmas, pois não queria machucar ninguém.

Já Sero também era muito amigável e barulhento, mas em geral sempre era ele quem controlava Kaminari quando o mesmo passava dos limites, ainda que o próprio Sero quase sempre participasse das brincadeiras e vivesse fazendo piadas. Hanta era muito alto e tinha cabelos pretos até a altura dos ombros e um sorriso triangular incomum.