5. Não confie em ninguém

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— Não irei demorar, querida. Resolverei algumas coisas no palácio e voltarei para você o mais rápido que puder. — Meu marido repousa sua mão sobre a minha.

Estamos tomando o café da manhã. Mais uma vez, tivemos uma noite mágica. Francis foi carinhoso ao extremo e proporcionou-me momentos de grande prazer.

— Vou esperar. — Sorrio.

— Papai e Meredith voltarão hoje à noite. — Ele se coloca de pé.

— Certo. — Assinto.

Meu marido vai até a sala ao lado e estranho sua atitude. Está saindo sem se despedir? No entanto, sou surpreendida quando ele surge com um lindo buquê de flores. O sorriso em meu rosto evidencia minha felicidade.

— Apanhei hoje cedo no jardim. Espero que goste. — Francis me entrega o presente.

Sim! Na minha humilde opinião, flores são como um presente. Um presente muito valioso, só que com data de validade.

— São lindas. Nem sei o que dizer. — Aspiro o perfume de cada uma.

— Você é mais bela que todas as flores do mundo, querida. — Delicadamente, sua mão acaricia meu rosto. — E esse sorriso é o meu agradecimento.

Francis beija-me rapidamente e some do meu campo de visão. Com um sorriso gigantesco, volto a tomar meu café.

Hoje faz dois dias que estou aqui, que sou uma Beaumont. Confesso que é estranho, mas me sinto completa e feliz. Embora alguns receios surjam em alguns momentos, por exemplo: como ser uma boa esposa, conviver com meu sogro e minha cunhada, assumir minhas novas responsabilidades e, algum dia, formar uma família.

Entretanto, quando esses receios insistem em querer me dominar, Francis faz algo extremamente gentil e prova ser o homem da minha vida. Não poderia ter escolhido melhor.

Quando ele me pediu em casamento, estávamos no jardim do palácio. Era a festa de aniversário do Rei Marcus. Várias pessoas estavam no jardim também e quando menos esperei, o vi ajoelhado diante de todos, com um anel em mãos. O pedido foi para todos ouvirem. Não tinha como negar. Diante de todos, eu disse sim.

Após o café, resolvo explorar a casa — mais um pouco — começando pelo segundo andar.

A biblioteca da casa dos Beaumont tornou-se um depósito de papéis antigos, referentes ao governo do Rei Marcus, já que o Senhor Pierre é seu conselheiro. Ontem não entramos lá, segundo Francis, tudo está empoeirado e cheirando a mofo. Meu marido disponibilizou-se a me ajudar a arrumar a biblioteca em um futuro próximo. Ele é conhecedor do meu amor por livros. Desde muito pequena, sempre fui fascinada pelas palavras e pela capacidade delas tocarem as pessoas.

As palavras são ferramentas poderosas. As Escrituras Sagradas trazem isso, no entanto, quando não usadas com sabedoria, as palavras podem ser altamente destrutivas.

Viro a maçaneta da porta que meu marido disse ser a da biblioteca.

— Ótimo. — Murmuro brava, por não conseguir abrir a porta que está trancada. — Já sei. — Sorrio ao lembrar do truque que Octavio ensinou-me quando eu tinha doze anos.

Consiste em dobrar um grampo de cabelo e utilizá-lo como "chave". Tiro um dos grampos da minha cabeça e faço a dobra que meu irmão me ensinou.

A primeira tentativa é falha, o que me faz bufar em frustração.

— Isso! — Comemoro depois de uns dois minutos tentando.

Giro a maçaneta e confirmo que a biblioteca está mofada e empoeirada. Fecho a porta atrás de mim e vasculho o local com os olhos.

A Coroa Acima da Coroa [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora