CINCO

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Ana Júlia senta-se na cama com as pernas presas pelos seus braços. O que tudo aquilo queria dizer? Que sonho foi aquele? Ela olha para o lado e ainda não passa das duas horas da manhã.

"Como era mesmo o nome do rei?"

"Tiger"

"Thigermen"

— Droga! Não consigo me lembrar do nome dele! — Ana pega seu celular, e digita num site de busca: "Reis da Irlanda".  Porém, tem um nome que a faz sentir um calafrio enorme: Rei Tighermas. E nas pesquisas, associado a esse nome, sempre estava escrito o seguinte texto:

"Dullahan. Era adorado pelo rei tighermas, filho de Follach, filho de Ethriel e descendente de Érimón, que governou a Irlanda cerca de 1.500 anos atrás e que legitimava o sacrifício humano aos ídolos pagãos sendo um deus da fertilidade, Crom Dubh exigia vidas humanas a cada ano, sendo que o método mais utilizado de sacrifício era por decapitação."

A cada nova página lida ou pesquisada, Ana familiarizava-se ainda mais com a história do rei e seus antepassados. Porém, a pergunta que não a deixava em paz era: Por que sempre estava sonhando com ele? Por que em um dos sonhos, ela fora degolada? A jovem olha para o relógio digital do seu computador, e já está perto das quatro horas da manhã.

Ainda pensativa, abaixa a tela do seu notebook Dell e repousa sua mão direita por cima dele. A história é baseada em uma lenda do povo Celta. Um deus chamado Crom Dubn. Ela lembra-se que ouvira esse nome no sonho.O medo nos olhos do rei era nítido nas lembranças de Ana Júlia. O medo de não ter mais cabeça para oferecer ao deus deles... Crom Dubn.

O cansaço de dez toneladas em cada olho, chega sem avisar. Ana adormece.

— Meu soberano. Estamos com problemas. — O rei Tighermas, sentado no trono, entende a mensagem passada pelo seu sacerdote, que está prostrado diante dele.

Jonathan Macline encontra-se em pé ao lado do monarca.

— Quantas cabeças faltam? — O sacerdote ao escutar a pergunta feita pelo rei Tighermas, levanta-se depois de reverencia-lo, e olhando para o chão de mármore preto responde ao monarca:

— Cinco meu senhor. Faltam cinco cabeças. — Rei Tighermas levanta-se do seu trono. Caminha até a imensa janela, que fica no seu lado esquerdo e encontra-se aberta. O monarca suspira.

— Somente cinco? Escolha entre os mais velhos. — Ordena o rei. Jonathan Macline continua em silêncio, pois sabe que a falta dessas cabeças, deve-se em cinquenta por cento a ele. A Mão do rei não impediu que os missionários Jesuítas passassem por dentro das suas terras. Na verdade, Jonathan até escondeu alguns na sua casa para não serem mortos.

— Meu rei — O sacerdote começa a responder, como quem está pisando em ovos. Ele sabe que o silêncio do monarca é perigoso. Quando o rei quer ser mau, ele o é sem precedentes. —, o senhor bem sabe... que... o acordo feito pelos nossos antepassados, com nosso deus Crom Dubn, as decapitações devem acontecer por doações... oferecidas pelas próprias pessoas. Para um bem maior.

O rei olha para Jonathan e pergunta:

— O que minha Mão tem a dizer?

— A grande festa começa agora no final de Agosto e termina na primeira semana de Setembro (Meus queridos leitores, até os dias atuais, na Irlanda, a última semana de agosto e a primeira de setembro desde o século VI, as pessoas, durante a noite andam com alguma coisa de ouro. Acredita-se que seja a única forma de deter Dullahan). —, não vejo com o que o rei deva se preocuparam

— E quem disse que estou preocupado? Como disse, só preciso de cinco pessoas, que ofereçam suas cabeças de bom grado.  — Jonathan entende o recado. — A minha Mão, por exemplo, sei que oferecia não somente a sua, mas de toda a sua família para o bem maior.

— Pode ter certeza disso meu rei. — Responde Jonathan, fazendo meia curvatura com o corpo, como quem chama uma donzela para dançar. — Eu sirvo ao rei. — O monarca vira-se sem acreditar numa palavra dita por ele. — E nunca irei desaponta-lo. — Olhando bem, Jonathan está pedindo perdão, em seu consciente, ao seu deus, pelas mentiras que acabara de falar.

— Não acredito que em pleno século VI, estejamos passando novamente por esse problema. — Fala o sacerdote Kraven Aflito. — Serão trinta dias! Se Crom Dubn for complacente... mas quem realmente sabe, quantos dias serão cobrados e quantas cabeças a mais?

O rei continua em silêncio. Olhando para fora do palácio e com as mãos postadas para trás.

— Como minha Mão bem disse... ainda temos uma semana para a festividade. — Dito isso, o rei retira-se da sala do trono, pelo seu lado esquerdo, onde há uma imensa porta de madeira que vai dar em seus aposentos, e é guardada por dois homens do exército do rei, que abrem passagem para o monarca passar com os olhos cheios de ira.

O alarme dispara. Ana Júlia abre um dos olhos para poder ver as horas. Ela suspira. Novamente sonhara. Novamente acorda sem forças... igual quando fazemos uma viagem para longe, caminhando embaixo do calor do sol, em pleno meio-dia.

A jovem levanta-se esgotada e segue para tomar um banho gelado, na esperança que as duas forças revigorem.

Faltam poucos dias para o acampamento, e se ficar doente, adeus programação do final de semana.

DULLAHAN - A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA - Lançado em 23/10/2019 - COMPLETO. Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz