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meses antes

O ar frio colidiu-se contra meu corpo por debaixo das poucas roupas quentes que usava, alcançando meus ossos e rachando-os lenta e cruelmente por conta das fortes rajadas frígidas da ventania daquela manhã. Sem temperaturas muito estáveis, a cidade com um pouco mais de dois mil habitantes era quente como uma fornalha e gélida como se estivéssemos vivendo dentro de um iglu. Localizada no estado de Washington, ao meio de vastas florestas e montanhas distantes, os ventos de Pointlanch eram mortais e odiados por mim profunda e desmedidamente.

Contudo, mesmo eu não gostando muito do clima irracional, apreciava a cidade em si; suas paisagens e toda estrutura minuciosamente pensada e perfeitamente feita lhe dava inúmeros pontos positivos comigo. Menos, é claro, as pessoas.

Se você realmente conhecesse um por um da cidade incrível implantada na cabeça de muitos aos nossos arredores, você pensaria duas vezes antes de falar que éramos dignos de passagem para o céu e, quando finalmente abrisse os olhos, mudaria o rumo para o inferno. Até porque, como dizem por aí, as aparências enganam. Ninguém sabia que a maioria das pessoas que moravam na cidade possuíam um coração sujo, cegos por status e completamente luxuriados. Ninguém poderia imaginar que, na realidade, Pointlanch era uma cidade podre, com pessoas podres, que contavam mentiras podres e guardavam segredos podres por trás de suas máscaras.

Máscaras que se deslizavam a qualquer momento.

Minutos.

Ou segundos.

Inspirei profundamente e endireitei-me contra o capô do carro de Holder, namorado de Sebastian e primo de segundo grau de Pandora. Como de costume, estávamos todos juntos, encostados contra o carro entre outros universitários que faziam o mesmo.

— Droga de frio — Rangeu Holder, ao meu lado, com os braços cruzados.

— Acho que vamos morrer de hipotermia.

Pandora negou com a cabeça.

— Diga isso por vocês, eu me recuso a morrer feito um picolé.

— Por que não ligamos o aquecedor do carro? — eu sugeri, mirando minhas íris em Holder que não teve tempo para responder-me pois Sebastian o fez, completamente cáustico.

— Holder o quebrou.

Meus dentes bateram um contra o outro com o frio irritante.

— Que ótimo — murmurei.

— Obrigada, gênio — Pandora disse, forçando um sorriso odioso em seus lábios finos, cobertos por batom rosa sutil, em direção ao dono de íris esmeraldas que bufou, mal humorado.

— Foi um acidente, não é como se eu tivesse feito propositalmente.

— Um acidente muito burro — ela rebateu, rude.

Olhei de soslaio para Holder que exalou profundamente.

Em cerca de segundos, seus traços se endureceram, deixando explicitamente notável em seu rosto que sua paciência estava no limite com os insultos da ruiva que, mesmo notando o quão irritado estava deixando-o, não perdeu o sorrisinho sarcástico que crescia ainda mais em sua boca e muito menos sua postura egocêntrica. Holder não aturava o jeito minimamente irritante de superioridade de Pandora e perdia a cabeça em muito pouco tempo com a garota de sardas.

Diferentemente de mim e Sebastian que já havíamos nos acostumado.

A sua boca contorceu-se para cima e quando Holder ameaçou abri-la, o som ensurdecedor de motores preencheu todo estacionamento da faculdade. Um Aston Martin, totalmente prateado, e uma BMW se aproximaram e em seguida pararam em uma das vagas da primeira fileira de carros, capturando a atenção de todos e fazendo com que murmúrios se escorregassem da boca das pessoas aos arredores.

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