00 | prólogo

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Sangue.

A sua blusa branca estava rasgada, amarrotada e coberta por sangue.

Ele estava irreconhecível.

Por cada centímetro de seu belo rosto havia cicatrizes, machucados e marcas roxas ao redor dos seus olhos. O garoto de ouro não possuía mais aquele típico sorriso presunçoso e divertido em seus lábios. Não parecia ser a mesma pessoa que deixava a maior parte da população feminina caindo de amores e com desejo.

Não.

Ele estava assustador.

Carregando um olhar frio e sem nenhuma sombra de emoção em seu rosto, era quase desumano.

Era perturbador.

Parecia a cena de algum filme de terror mas infelizmente não é. Tudo o que estava acontecendo bem diante dos meus olhos nunca poderia ser comparado com um mero filme de terror porque é mil vezes pior.

Era real.

Os dois corpos ensanguentados jogados em cima de um tapete velho e empoeirado no chão do galpão imundo, era real. E por todo esse tempo eu já deveria saber que por trás de todo o charme surreal havia algo sombrio. Eu já deveria saber que por trás da fama de um garoto de ouro havia um monstro.

Havia um maldito assassino.

Mas agora já era tarde demais.

Era tarde demais pra correr, gritar, lutar. Era simplesmente tarde demais.

Eu podia sentir o meu coração bater contra a caixa torácica quando os seus olhos frios se fixaram em mim.

Um silêncio pesado e assustador pairou sobre o ar.

O garoto de ouro passou a palma de sua mão pelo seu rosto, deixando o sangue que tinha em suas mãos se espalhar pelo mesmo, o deixando ainda mais apavorante e assim que ele começou a se aproximar, a luz amarelada e falhada que o iluminava não estava mais sobre ele e com isso o garoto de ouro acabou mergulhando na escuridão. Eu não conseguia mais ter visibilidade alguma sobre ele, eu apenas conseguia ouvir os seus passos firmes em minha direção.

Ele estava ficando próximo demais.

O choro estava instalado em minha garganta.

Eu queria gritar e sair correndo dali mas isso era uma coisa impossível porque eu estava em choque. Minhas mãos tremiam e minhas pernas já estavam bambas. Eu não iria conseguir.

— O que você vai fazer? — a pergunta idiota fugiu dos meus lábios como um sussurro.

Estava muito óbvio o quê ele iria fazer.

Ele havia acabado de cometer dois homicídios. Ele apenas iria cometer mais um.

E dessa vez, eu era o alvo. Na verdade, eu sempre fui.

— Charles tinha razão.

A sua voz saiu arrastada e sinistra, me causando arrepios.

— Você é uma bomba, Sky. Você sabe nossos segredos, nossos pontos fracos e sabe quem nós somos — disse e logo em seguida, abriu um sorriso sarcástico em seus lábios. — E agora você sabe quem eu sou, meus parabéns doce Sky! Descobriu o segredo dessa maldita banda. Todos nós somos uns filhos da puta insensíveis e sujos.

Balanço a cabeça negativamente.

Parte de mim não queria acreditar nisso mas era a realidade.

Essa era a amarga realidade.

Ele se aproximou novamente, e imediatamente o meu corpo entrou em alerta.

Recuei dois passos para trás e quando ele fez a menção de se aproximar ainda mais, automaticamente, eu corri. Passei por ele, mas sem nem ao menos conseguir chegar até a porta de madeira, eu caí. Eu caí porque outro corpo estava bem ali, na passagem. E eu havia acabado tropeçando. Meu rosto deveria estar horrorizado com a cena sob meus olhos. O homem, conhecido por mim, estava com vários hematomas e coberto de sangue.

Eu fraquejei.

Eu gelei.

Isso não podia ser verdade.

Ele soltou um riso amargo e, de repente, com as suas mãos fortes, ele me puxou rudemente de cima do corpo e me empurrou contra a parede fria. Um grunhido doloroso escapou dos meus lábios.

— Você está sendo uma vadia muito difícil, Sky. Me fez correr pela porra daquele matagal e ainda quer tentar fugir de mim? — Ele estalou a língua. — É melhor desistir.

O cheiro metálico do sangue entrava inevitavelmente por minhas narinas, deixando-me enjoada e com as pontas gélidas dos seus dedos, ele acariciou a minha bochecha, descendo até o meu pescoço.

Eu tremi diante do seu toque áspero.

— P-por que está fazendo isso comigo?

Ele tirou sua mão de mim bruscamente.

— A estrada para a ganância, fama e poder podem resultar em consequências muito perigosas. E todas elas conseguem te levar diretamente para um caixão ou também conseguem manipular a sua mente e você acaba por ficar disposto a sacrificar tudo o que tem para continuar no topo, com os holofotes voltados para si.

Ele pausou, respirou fundo e fechou os seus olhos.

— Você destruiu cada um de nós, Sky. Você me destruiu. Consegue acreditar nisso? — Ele riu em um tom ácido e coberto de ódio. — Então eu tomei uma decisão totalmente drástica — seus olhos se abrem e ele puxa o meu rosto para perto dele. — Eu decidi que eu preciso acabar com você antes que você acabe com tudo que ainda me restou.

Minha respiração falhou.

Fiquei em silêncio sem saber como reagir.

Rispidamente, ele se afastou e o meu olhar viajou até as suas mãos que tiraram do bolso de sua calça jeans suja uma arma.

Uma arma.

O medo se apoderou de meu corpo.

— Me perdoe, Sky. Mas, eu estou disposto a sacrificar tudo, até mesmo você.

Ele estava disposto a me matar.

Ele ia me matar.

Não. Por favor, não.

— Oh, querida... Sim.

As lágrimas começaram a sair dos meus olhos sem controle nenhum. Minha respiração estava desregulada e novamente o seu corpo se prendeu ao meu, ele segurou o meu rosto e limpou as lágrimas que desciam por minhas bochechas e em seguida ele encostou o seus lábios secos nos meus, trêmulos, depositando um selinho lento. Ele murmurou coisas que eu não fui capaz de compreender — e muito menos prestar atenção.

Senti algo contra a minha barriga.

Ele estava apontando o cano da arma contra a minha barriga.

— Eu vou contar até três, Sky.

Eu nunca frequentei a igreja antes, mas nesse momento eu estava quase me ajoelhando ali mesmo e implorando para que Deus me ajudasse.

— Um — ele sussurrou com a voz falhada.

— Dois.

Mas não tinha salvação.

Acabou, Skyler.

Esse é o seu fim.

— Três.

GOLDEN BOYS Where stories live. Discover now