c a p í t u l o 1 5

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— Você trouxe alguma coisa para vestir? Acho que as roupas que temos aqui não lhe servem mais. — Minha avó diz com um sorriso quase triste e fico confusa. — Você não deve se lembrar porque era muito pequena, mas vocês moraram aqui até os seus três anos e seu pai sempre te trazia para passarmos finais de semana e feriados. Seu avô e eu guardamos tudo o que era seu e do seu pai. O seu quarto continua intacto, meu coração sempre soube que você voltaria. — Ela passa a mão no meu rosto e seus olhos voltam a se encher de lágrimas. — Você tem os olhos de seu pai, tão azuis quanto o mar e o céu no verão. 

— Acho que esse é um dos vários motivos que fez com que ela me odiasse. — Falo baixinho e minha avó funga tentando controlar as lágrimas e falha terrivelmente. — Não chora, eu estou bem agora. — Minto e ela percebe pela expressão de tristeza que fica explícita em seu rosto. 

— Seus olhos não mentem, borboleta. Consigo sentir na minha própria pele a dor que você está tentando guardar. — Meu avô fala se ajoelhando para segurar minhas mãos e minha avó continua chorando baixinho. — Nem que eu viva cem vidas vou conseguir reparar o erro que cometemos ao deixar sua mãe te levar para casa naquele dia, nunca vou conseguir me perdoar por não ter revirado os quatro cantos desse mundo até te encontrar e trazer para casa.

— Casa. — Sussurro me sentindo acolhida, querida e amada pela primeira vez em sei lá quanto tempo. 

— Casa. — Meus avós repetem em uníssono e me abraçam. Quando eles se afastam tenho vontade de me enrolar em seus colos e só levantar quando me sentir completamente segura e sem esse peso no meu coração. 

 — Vamos, — minha avó chama rouca pelo choro mal controlado. — você precisa tomar um banho e mudar suas roupas, deve ter alguma coisa da época da faculdade do seu pai que vai te servir até amanhã. 

— Eu trouxe algumas peças de roupa, estava com medo de ser mal recebida e vim preparada para me enfiar em algum hotel pra passar os próximos dias até conseguir ter acesso ao que meu pai deixou. — Confesso dando ombros e faço careta pela dor que me faz estremecer. Minha avó me olha com os olhos brilhando de culpa e tento sorrir pra diminuir a tensão.

— Isso você pode resolver depois, agora você precisa de um bom banho e comer alguma coisa. — Meu avô fala num tom que não deixa espaço para discussões e minha avó cutuca suas costelas.

— Você pode fazer o que quiser, borboleta. Não dá ideia pra esse velho rabugento. — Ela diz num tom acima de um sussurro e vejo meu avô revirar os olhos. Dou risada e tomo a iniciativa de abraçá-los. 

— Um banho e um lugar pra dormir é tudo o que eu preciso agora. — Falo quando me afasto e minha avó faz sinal para que eu siga seu caminho. Subimos a escada com meu avô trazendo minha mala em silêncio. Paramos no corredor do segundo andar onde vejo quatro portas de madeira escura. Minha avó me leva até a última porta do corredor estreito e prendo a respiração quando vejo adesivos de borboletas de todas as cores e tamanhos visivelmente gastos pelo tempo e uma placa com uma letra absurdamente infantil onde o meu nome está escrito. 

— Pode estar um pouco mais infantil do que você deve gostar agora mas podemos mudar assim que você se sentir confortável. — Meu avô fala sem graça e deixa a minha mala na porta do quarto. — Vamos deixar você se estabelecer e amanhã podemos conversar sobre o que faremos daqui pra frente. 

— Qualquer coisa é só nos chamar, por favor, não exite se precisar de alguma coisa. — Minha avó fala e me abraça com delicadeza. — Chorei noites e dias esperando que você entrasse por aquela porta e ficasse conosco. Nós te amamos muito, Melanie. Você será sempre bem vinda nessa casa e em nossas vidas.

— Sempre. — Meu avô reitera e assinto deixando minhas lágrimas descerem. 

— Vai se cuidar, vou fazer um sanduíche pra você não dormir com fome. E também não pode tomar os medicamentos com o estômago vazio. Vem, George, vamos fazer alguma coisa para nossa menina comer antes de dormir.  — Minha avó me dá um beijo na bochecha e meu avô sorri quando ela caminha pelo corredor e desce a escada. Ele me encara por mais alguns instantes e segue os passos da minha avó e não demoro a escutar sons vindos da cozinha. Dou risada pensando ser impossível que essa seja a minha realidade daqui pra frente. Me sentindo num sonho em que estou prestes a acordar, entro no meu quarto de infância.


Quase desabo quando acendo as luzes e me vejo em todos os cantos do cômodo pintado de rosa. Fotos, brinquedos e até mesmo uma régua mal feita numa parede em que minha altura foi medida até os meus sete anos. O quarto tão bem cuidado e cheio de amor me faz chorar com força.  Eu nunca pensei que de um dia para o outro minha vida mudaria tão drasticamente, fui de um estado de negligência e abandono para um lugar onde tenho amor e cuidados. É quase impossível acreditar que isso tudo seja verdade. Temendo estar em transe por conta dos medicamentos fortes ou pela concussão, abro minha mala no meio do tapete de borboleta multicolorida e pego um conjunto de moletom cinza escuro e roupa íntima. Sem conseguir prender meu cabelo direito por conta do meu ombro machucado, entro no banheiro e tiro minha roupa molhada com dificuldade. Tomo um banho rápido e me visto sentindo meu corpo inteiro doer, deito na cama coberta por uma colcha lilás e pela primeira vez em muito tempo, não ouço as correntes ou frio do fantasma da solidão vindo em minha direção pedindo abrigo. 

Sinto dor, medo e uma sensação que pensei que nunca fosse voltar a sentir na minha vida: a sensação de ser amada e desejada. Me sentindo calma e renovada, fecho os olhos e sou puxada para um sono leve e tranquilo quando sinto dedos delicados no meu cabelo e uma mão calejada apertando a minha antes de vozes abafadas dizerem o quanto sentiram minha falta e o quanto esperaram por mim. 



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