Capítulo IX

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Katherine Bolton

Exalo todo o ar presente em meus pulmões. Uma de minhas melhores características é ser apenas aquilo que quero ser e mostrar apenas aquilo que eu quero que vejam.

Após os episódios anteriores tomei a sábia decisão de correr, correr, correr, correr e correr para o mais longe que minhas pernas alcançavam. Cheguei em uma floresta densa que ficava bonita com a presença do sol ao adentrar as copas das árvores, mas que também se tornava sombria com a chegada da noite.

Subi em uma árvore alta, me estabilizei em um dos galhos e comecei a meditar

Por algum motivo tive vontade de voar na cara de Nicholas. Senti ódio quando ele não ouviu meu lado da história e meu peito se contraiu ao ser chamada de "monstro insensível". Odiei cada segundo desse sentimento pelo simples fato de não entendê-lo

-Sabe quanto tempo faz que está aqui?-escuto a voz da pessoa que não queria ver

Falando no diabo...

-Algumas horas?-pergunto ainda focando em minha respiração
-Dois dias Katherine. Dois dias-responde suspirando e deixando seu corpo desfalecer sobre o chão

Isso explica como sei que a floresta fica sombria à noite e bonita de dia...

Desvio meu olhar do horizonte e observo pelo canto do olho o rapaz abaixo de mim. Ele se encontrava no chão, levemente apoiado sobre o tronco da árvore. Seus olhos estavam fechados, cabelos desgrenhados e olheiras leves abaixo dos olhos.

-O que faz aqui?-indaga tentando parecer firme
-Meditando-respondo entediada enquanto pulava da árvore daquela altura sem me importar com a queda- obrigada pela interrupção
-Comeu alguma coisa? Bebeu?-pergunta se colocando de pé com certa dificuldade que tentava esconder a todo custo
-Não, mas tenho certeza que sobrevivo. Ao contrário de você-alfineto pelo seu estado horrendo
-Katherine, precisamos conversar-começa com olhar pesado enquanto suspirava
-Não temos o que falar-digo dura sem querer prolongar nenhum assunto- não devo nada a você assim como você não deve a mim. Sua sinceridade e opinião não devem ser motivos de desavenças entre nós, que, por sinal, não temos nenhuma relação. Só estou em suas mãos pelos problemas decorrentes da alcateia de Alysson. Apenas isso. Não somos nada Nicholas, não temos o que conversar.
-Me perdoe- diz ignorando tudo que havia dito anteriormente enquanto mexia nos cabelos já bagunçados
-Não ouviu o que eu disse?-pergunto irritada
-Louis me contou o que houve naquele dia...-fala com peso no olhar
-Você ouviu o que eu falei?!!-digo já usando um tom mais elevado
-Você não é um monstro-fala suspirando- muito menos um monstro insensível... tudo que você fez foi proteger os mais fracos. Era isso que eu deveria estar fazendo

O encaro perdida procurando uma justificativa ou explicação para o que aconteceu. Ele não ouviu o que eu acabara de dizer?!

-Obrigado. Por ter salvo aquela garota. Graças a você ela está bem -fala aliviado- e aquele desgraçado está onde deveria estar
-Cala a boca-digo cruzando os braços com força e sentindo-me impaciente
-Eu sei o quanto isso mexe com você por causa de seu pai e-

Sua fala foi a gota d'água. Meus olhos mudam de cor e eu o lanço para longe ao erguer meus braços em sua direção.

O impacto o faz rachar dois troncos de árvores até que o mesmo pare no chão.

-Você não sabe de nada sobre mim-digo com voz já desconhecida

Uma áurea forte me envolvia e eu sentia o sangue em minhas mãos. Sentia a necessidade de matar como nunca sentira antes

Mate-o
Mate-o
Mate-o
Mate-o

-Eu sei seu nome-diz se levantando e estalando o pescoço que ficara dolorido pela queda

Sua voz foi o estopim para que eu afundasse no mar de escuridão que havia dentro de mim. Permaneço nele, imersa, apenas assistindo o que meu corpo era capaz de fazer sem que minha consciência estivesse em total controle

Seguro seu pescoço com uma das mãos e o prenso em uma das árvores da floresta que parecia mais sombria e pesada do que nunca.

Os animais em volta pareciam correr ao sentir minha presença e meus olhos, laranjas e vermelhos, tinham o brilho assassino que apavorou todas suas vítimas durante séculos.

Ele usa suas forças para colocar uma mecha de meus cabelos para trás da orelha, o que faz com que o aperto em seu pescoço aumente em um nível absurdo

-Desculpe lobinha, estava me incomodando aquela madeixa rebelde-fala com um sorriso leve mesmo se engasgando e tentando recuperar o ar em uma tentativa falha

Lobinha

Tão íntimo, tão carinhoso. Isso não pode estar acontecendo. Ele não pode chegar perto de mim

Caio ajoelhada no chão tentando recuperar o ar enquanto apertava a cabeça entre as mãos. Uma dor quase que insuportável tomava conta de minha mente e corpo, fazendo com que eu mal tivesse forças para permanecer viva.

Lobinha

Rosno em dor e fúria enquanto tentava conter as lágrimas involuntárias que escapavam de meus olhos de maneira fugitiva e rápida

Lobinha

Uma mão toca meu ombro e minha reação é erguer a cabeça e rosnar alto, fazendo com que minha áurea retorne e o contato seja interrompido

Lobinha

Não importava quantas vezes eu o lançava longe, o queimava com minha áurea densa e avassaladora, ele sempre voltava. Sempre.

Lobinha

Na última vez, ele me toca e aperta meu ombro com leveza. O pequeno ato me desarma e eu caio com as mãos sobre o chão.

Meu corpo é puxado para um colo desconhecido e estranhamente quente que me envolvia de maneira calorosa

-Está tudo bem agora-sussurra enquanto me apertava

Tentei não chorar mas o máximo que eu pude fazer foi controlar o soluços e derramar lágrimas silenciosas e contidas.

Procuro ao máximo me soltar de todas formas: debatendo, contorcendo e até mesmo gritando e o empurrando mas nada funcionava. Seu aperto era de ferro e ele me proibia de sair

-Aprenda algo sobre mim Katherine-começa sério e pousa sua boca no pé de meu ouvido- eu não cometo o mesmo erro duas vezes.
-Eu te odeio-digo com voz embargada
-Eu sei lobinha-diz me pegando no colo estilo noiva e me ajeitando em seus braços conforme levantava- temos que ir embora, você está quase na fronteira do território dos vampiros
-Isso... isso fica do outro lado do reino-digo entre fungadas enquanto tentava me estabilizar e retomar a postura
-Você não tem noção do quão rápida é... pelos meus cálculos passou um dia inteiro correndo até chegar aqui. Isso demanda energia e força, e na minha humilde opinião você não parece abalada.

Eu iria responder, retrucar, gritar ou xingá-lo. Mas o cheiro amadeirado preenchia minhas narinas e eu quase conseguia sentir o caminho de seu odor desde minhas narinas até meus pulmões. Era inebriante e relaxante.

Minha loba toma controle e habilmente se aproxima de seu pescoço para sentir mais e mais de seu perfume.

Não demora até que eu adormeça

A loba e a morteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora