Capítulo VII

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Katherine Bolton

-A morte-balbucia como se algo se acendesse em sua mente e seus olhos se voltam a mim que agora tinham uma expressão de surpresa e choque

Minha primeira reação é adquirir um semblante frio e evasivo que deixava explícito minha insatisfação com o tópico

-O que sabe sobre isso?-indago tentando encarar seus olhos
-Não muito-afirma bagunçando os cabelos e dando um meio sorriso- mas eu sei que você não precisa esconder seu passado
-Como você mesmo disse "não significamos nada um para o outro", não há necessidade de expor meu passado

Nos encaramos por longos segundos tendo uma batalha silenciosa na qual nossa única arma eram os olhares tão cortantes quanto  qualquer lâmina afiada. Louis sai de fininho notando que a situação estava prestes a ficar mais pessoal e complicada

Entretanto, ao invés de um comentário que vá me tirar do sério ou um motivo para uma briga, ele dá duas batidinhas no colchão da cama como se me convidasse para sentar ao seu lado

-Eu tinha 100 anos-começa encarando o nada- o primeiro século é uma data importante para um lobisomem. Lembro-me que nesta época estava na europa tentando encontrar minha companheira
-Europa?-murmuro sentando-me ao seu lado ao me interessar pelo assunto- foi mal querido mas o clima de lá me deixa com rinite-dramatizo debochada fazendo-o gargalhar

Gosto de sua risada e não entendo o porquê mudo de humor rápido com ele

-Bom, quando completei meus 50 anos comecei a procurar em outros continentes para te achar, no meu primeiro século de vida foi a vez da Europa-conclui- eu era desesperado para encontrar aquela que passaria o resto da vida comigo, o meu destino, minha predestinada.-diz desta vez encarando o chão e logo subindo o olhar novamente para um ponto aleatório na parede do quarto- acontece que quando eu tinha 12 anos, ocorreu minha primeira transformação.
-Jovem...-sussurro surpresa
-Jovem e descontrolado. Matei minha mãe em minha primeira vez-fala engolindo um seco e com um sorriso triste e doloroso- acontece que não era um lobo... era um monstro. Depois disso, em minha segunda transformação, aos 16 anos, eu entrei em contato com meu lobo "normal" mas nessa época meu pai já havia se matado e minha aldeia me expulsou. Estava desesperado até que um dia conheci uma senhora que afirmava que o amor curava todas as feridas... ela era muito sábia e me hospedou por alguns dias. Comecei a procurar por esse tal amor aos 30 anos. Antes disso eu não podia sair sem ser perseguido e decidi treinar no meu tempo livre. Aos 50 procurei em outros continentes e assim foi até meus 500 anos. Eu estava desesperado para ter alguém em minha vida... até que fiquei ciente da guerra que estava acontecendo. O supremo estava perdendo homens, criando caos e causando a morte de inocentes. Eu era um dos lobos mais antigos e capacitados de lutar então o desfiei e acabei com a guerra em menos de uma semana.
-As pessoas já não lembravam mais de você e do que havia feito- concluo sentindo o peso de sua história em meus ombros
-Eu entendo porque quer ser esquecida Katherine. Entendo mesmo-confirma evitando me encarar- mas tem coisas que não entendemos. Quando te conheci, eu te odiei. Tudo que pensava era "por que você não apareceu quando eu precisava?".
-Eu não era nascida-brinco fazendo-o rir levemente
-Eu sei
-E eu não te achei quando precisava então estamos quites-murmuro insatisfeita
-Você? Precisando de alguém?-ri em deboche fazendo-me empurra-lo para o lado com ajuda do meu ombro
-Idiota...

Ficamos um tempo assim: sem nos encarar ou falar nada. Não sabia o que dizer, pensar ou sentir. As coisas estavam confusas pra mim

-A garota da sua cabeça, a loira com olhos verdes-começo curiosa
-Juliet-murmura com coração apertado
-Quem era?
-Foi a garota pela qual me apaixonei-diz de cabeça baixa e maxilar trincado- fui idiota o suficiente pra isso...
-O que houve com ela?-indago temendo a resposta
-Ela foi morta por meus inimigos da época.

Fico atônita.

Ele matou a mãe, o pai se matou, a namorada foi morta, o mesmo foi expulso da alcateia e não achou a companheira durante 500 anos.

Por que continuou vivendo?

-Minha mãe morreu durante meu parto-digo fazendo-o me olhar surpreso pelo fato revelado- meu pai não gostou de ter a companheira morta por um monstro...
-Sinto muito-murmura fazendo-me dar de ombros- o que houve com seu pai?
-Eu o matei- digo fria deixando-o surpreso
-Entendo-fala compreensivo
-Não vai me julgar?-pergunto encarando-o pela primeira vez
-Você me julgou quando disse que matei minha mãe em minha primeira transformação?-indaga devolvendo um olhar leve e sem importância
-Foi diferente-digo como se fosse óbvio
-Foi?-pergunta com uma das sobrancelhas arqueadas me fazendo suspirar

A forma como ele lidava com essa revelação me irritava. Seu olhar de indiferença, a falta de necessidade de uma explicação plausível! Por que diabos ele está reagindo dessa maneira?

-Ele me maltratava-digo engolindo um bolo na garganta e vejo algo mudar em seu olhar

Eu estava me justificando?

-Se você não tivesse feito, eu o teria-diz dando de ombros- o desgraçado mereceu-rosna

Sinto uma onda de raiva tomar meu peito e sei que ela não vinha de mim e sim dele. Seus olhos ficam de uma cor desconhecida e ele faz questão de escondê-los. Aparentemente o mesmo sabe muito bem como não deixar transparecer emoções

-Quando eu terminei, tudo piorou-digo mexendo em minhas mãos- perdi o controle e parece que precisava matar todos a minha volta... me concentrei em perseguir grupos do mal, pessoas que feriram outras como se isso fosse menos grave do que matar qualquer outro. Os segui até os confins do inferno e assassinei cada um deles da pior maneira possível. Era o único jeito de não massacrar todos a minha volta
-A morte...
-Foi assim que me chamaram por quase três séculos-confirmo recobrando a postura
-Acho que presenciei um ataque seu-murmura- eu era relativamente jovem e não fiquei no ambiente
-Era muito caótico-digo com um sorriso triste
-Com certeza-confirma

Um silêncio de instaura entre nós. Estou ciente de que não me abri por completo. Apenas relatei fatos sobre meu passado e tentei ao máximo não demonstrar minha carga emocional dos acontecimentos

Por mais que não tenha sido totalmente transparente, reconheço que, pela primeira vez em anos, eu conversei com alguém. Sou ouvida e ouço. Isso não tem preço

-No que está pensando?-indaga olhando para mim provavelmente após sentir a mesma coisa que eu
-Provavelmente a mesma coisa que você-digo fazendo-o soltar um sorriso de lado

A loba e a morteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora