Capítulo II

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Katherine on

Minha cabeça gira, meus olhos se arregalam e meu estômago se embrulha ao ver o homem a minha frente.

Seus cabelos enferrujados caindo belamente por sua testa combinavam com sua barba bem feita, enquanto seus olhos azuis intensos que se encontravam perdidos ao me encarar, deixavam-me chocada. Suas sardinhas cuidadosamente caídas por seu nariz e abaixo dos olhos faziam um belo contraste com a pele alva assim como sua camisa social se contrapunha com seus músculos.

Eu não acredito que depois de 500 longos anos a Lua resolveu me oferecer um companheiro. Qual a parte do "EU NÃO PRECISO DE NINGUÉM" essa maldita deusa não entendeu?

-Merda-murmuro juntamente com o homem a minha frente fazendo-me arquear a sobrancelha enquanto ele cerrava o cenho
-Papai, o que está esperando?!-indaga a loira a minha frente visivelmente mais irritada que antes

O alfa que antes se mostrava tão decidido, se encontra entre a cruz e a espada. O mesmo troca olhares entre o "meu companheiro" e a filha exasperado.

Suspiro por estar causando toda essa confusão e por estar chamando a atenção que lutei por séculos para não receber. Estava finalmente sendo esquecida por todos e é assim que tem de ser.

Caminho em direção a um dos lobos que pareciam ser fiéis ao alfa e ofereço meus pulsos ao mesmo como se me entregasse. Ele me amarra e puxa-me em direção a um lugar que não sei onde é

Atrás de mim caminham o ruivo, a garota mimada, o pai que mimou a garota, um rapaz que não conheço e aparentemente a mãe da garota que está dando em cima do ruivo. Além de claro, vários guardas.

Sou levada até uma casa exageradamente grande e me direcionam até uma sala onde me assentam em uma cadeira contra minha vontade e amarram meus braços.

O ruivo se mantinha de pé ao lado da porta tendo os ombros largos apoiados na parede enquanto ao seu lado havia um homem negro de cabelos cacheados e olhos cor de jabuticaba que aparentava ser próximo ao outro.

Em minha frente estava a família insuportável e oxigenada.

-Como ousa fazer isso comigo?!-indaga a loira mais nova
-Você merece uma pena-afirma a loira mais velha
-Como ousa entrar em minha alcateia, no aniversário de minha primogênita e futura luna e causar esse alvoroço todo? Tem noção de com quem está se metendo?-indaga o alfa da alcateia

Perco a paciência e solto minhas mãos que ainda se mantinham unidas graças a corda. Cruzo os braços abaixo dos seios e coloco uma perna por cima da outra mostrando-me livre e desinteressada.

Agora fiquei meio irritada

-Com todo o respeito que não tenho por vocês, gostaria de dizer que sua filha não é digna de ser luna. Não se é luna quando humilha e agride uma mera criança por um acidente. Não se é luna ao atingir uma desconhecida no rosto só pelo fato dela ter ajudado um inocente. Você não é digna do título que carregará. É uma garota fútil e mimada. Ser luna é algo honroso, complexo e que exige muito da pessoa. É mais do que uma responsabilidade ou um serviço que você não está hábil. Eu não queria chamar atenção, não queria sequer estar aqui mas precisava me alimentar e se não fosse o maldito cheiro daquele idiota eu não teria chegado até sua festa-afirmo lançando um leve olhar mortal ao ruivo- sugiro que deixem isso passar já que não estou nem um pouco a fim de discussões. Caso queriam me punir fiquem a vontade. Podem me prender o tempo que quiserem
-Não trabalhamos com meras punições para quem me humilha-vocifera a garota- trabalhamos com tortura
-Isso claro, se seu companheiro deixar-completa o alfa como se lembrasse de algo

Dou uma risada sarcástica e sem humor fazendo com que o clima fique pior do que antes. Ele deve estar me zoando.

-Quer me torturar? Vá em frente. Mas saiba que eu nunca deixo uma presa escapar-afirmo gélida. Se tem uma coisa que me irrita é me colocar sob as mãos de terceiros- e outra-lembro-me direcionando o olhar ao alfa- "pedir permissão ao meu companheiro"?!-faço aspas com os dedos enquanto sou sarcástica- em que milênio estamos? Vivi muito bem sem ele e não preciso da permissão do mesmo para merda nenhuma. Nem mesmo para uma tortura que vocês acham que podem me aplicar. Quer me torturar? Querido vá em frente, ele não tem nada a ver com isso
-Não se trata disso. Caso não saiba seu companheiro é o supremo alfa-diz o garoto que se encontrava ao lado do ruivo- e eu sou seu beta, Louis

Meus olhos se arregalam e eu levanto uma sobrancelha levemente curiosa e debochada

-Supremo?-indago divertida- fala sério... a deusa só pode estar querendo me pregar a porra de uma peça sem graça-murmuro mais para mim do que para os outros enquanto xingava mentalmente todos os deuses que conhecia. Vejo um sorriso brotar no canto dos lábios do ruivo e um olhar surpreso toma conta de sua expressão
-Em que mundo você vive?!-pergunta a loira
-No mundo do "não dependo de pessoas para sobreviver"-afirmo- enfim, não me importa quem seja o dito cujo, eu estou muito bem sozinha.
-Já chega

A garota se levanta e vem em minha direção colocando a mão sobre meu pescoço e apertando com garra fazendo-me sufocar. A mesma me ergue e seus olhos ficam amarelos revelando sua força.

De fato ela era extremamente poderosa para uma garotinha mimada. Arrisco dizer que me cansaria em uma batalha e até mesmo lhe daria créditos por ser uma das mais fortes de sua geração.

-S-solte-me-digo com dificuldades graças a falta de ar

Vejo o beta do supremo exasperado enquanto revezava olhares entre o alfa e eu.

-Ajude-a!-implora o suposto Louis para o ruivo

Entretanto tudo que o homem faz é olhar para o beta e lançá-lo um olhar tranquilo e entediado como se pedisse para que ele esperasse.

Filho da puta

Se ele já sabe que sou capaz de lutar é melhor não esconder.

Reviro os olhos antes de usar meus pés para chutar a garota e afastá-la de mim. Alongo o pescoço sentindo meu ar retornar e vejo os pais da loira assustados com o ocorrido.

Ela corre em minha direção e disfere um soco o qual seguro no ar e uso para virá-la e transformar em uma chave de braço que a imobiliza por completo

-Me dá um motivo para não matá-la agora-digo com olhar frio enquanto pouso uma mão em seu pescoço
-P-p-por favor-implora a garota
-Não faça isso! Te daremos qualquer coisa!-diz o pai dela
-V-v-você não precisa fazer isso!-grita a mãe desesperada 

Agora eles se encontravam exasperados e perderam a pose de "os alfas fodas e incríveis de toda a alcateia" gostei disso. Os encaro duvidosa como se esperasse por um bom motivo que ainda não fora me apresentado

Se eu for matá-la não vai ser a súplica do papai e da mamãe que me fará mudar de ideia. Essa garota me deu nos nervos durante esse tempo inteiro e eu estou louca para quebrar seu pescoço.

-Provavelmente mancharia o carpete-diz o ruivo encarando o chão com tédio evidente na voz

Observo o carpete e tiro minhas mãos da garota na intenção de me abaixar para passar a mão no mesmo. Macio e felpudo... Parece importado e extremamente caro. Realmente é um bom motivo

Dou de ombros e me levanto para sair do local. Sinto um movimento atrás de mim e um grito irado vindo da garota. A feição do ruivo que antes se mantinha calma muda subitamente fazendo-me desviar de qualquer coisa que pudesse estar atrás de mim.

Sinto uma dor em meu ombro e vejo que tenho um corte superficial no mesmo. Encaro a garota que havia se transformado em uma loba enorme

Me coloco em posição de defesa enquanto sinto meu ombro arder pelo corte de outro ser sobrenatural poderoso.

Se eu fosse uma ômega já estaria morta há muito tempo. Cortes disferidos por seres sobrenaturais causam envenenamento imediato e retardam a cura. Quanto mais alta a classe do ser sobrenatural mais difícil é o processo de cura.

Faz séculos que não me envolvo em lutas e que meu processo de cura não é ativado.

Antes que ela me ataque a atmosfera do ambiente muda. Uma forte pressão sobrenatural está sendo emanada do canto da sala fazendo com que a loba rapidamente uive em submissão e se contorça em aparente dor

Viro meu corpo levemente ofegante deixando o beta do supremo surpreso por ainda estar me movendo.

-Meu processo de cura não está sendo ativado devido aos anos que estou sem usá-lo. Desmaiarei em alguns segundos. Peço que ao menos me levem para longe dessa alcateia e me
larguem em alguma floresta qual-

Antes que complete a frase minha cabeça gira e perco o equilíbrio. A última coisa que sinto é um cheiro insuportavelmente bom, braços musculosos me erguendo e um suspiro

-Já vi que terei trabalho com a lobinha aqui-resmunga irritado

A loba e a morteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora