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              Lágrimas escorrem sobre minhas bochechas mais uma vez.

— Você precisa parar de se derreter toda vez que a Danny morre, sério, você já reviu isso quantas vezes? — Lena estende lenços em minha direção.

— Qual o seu problema com minhas lágrimas? — fungo profundamente por conta do nariz entupido.

— Simplesmente porque elas te causam uma rinite braba, e eu não estou a fim de descer para comprar antialérgico para você. — sibila.

Não havia um motivo exato para minha abundância de lágrimas em toda cena de morte da minha personagem favorita de Game of Thrones. É uma gama de coisas que me levam a crer que se não controlarmos nossas ações e reações, podemos acabar como ela. Cegos pela raiva e pelo poder, e isso me quebra.

A vi quando era apenas uma garota inocente, a vi amar, a vi sofrer, a vi crescer e evoluir.

Céus, eu deveria parar de assistir séries.

— Sei disso. — envieso o olhar para a cabeleira negra de Lena. — Que horas são?

Ela flexiona a coluna para a direita e agarra o celular em cima da cabeceira que fica ao lado do sofá enquanto joga mais uma pipoca em sua boca.

— São onze e quarenta. — suas sobrancelhas grossas sobem ao falar. — Precisamos dormir. — constata.

— Não acredito que terei de lidar com gente nova amanhã, sério, qual é o problema dessa gente rica? Mandem pessoas para supervisionar, mas não venham pessoalmente. — ralho para ninguém em especial.

— Pelo menos seu novo chefe temporário é um colírio para os olhos. — ela pesquisa algo em seu telefone e arrasta o aparelho até meu rosto.

Certo. Este será meu novo chefe durante seis meses. A pele oliva é chamativa, seu rosto é absurdamente anguloso, com maxilar protuberante e olhos expressivos.

O cara é uma perdição.

— Isso não muda muita coisa, não é como se eu tivesse alguma chance com esse tipo de gente, e mesmo que tivesse, não agarraria. — jogo minhas pernas antes cruzadas no chão.

Meus pés atingem o tapete felpudo e macio que ganhei de Judith, mãe de Lena. Sorrio com a memória daquele Natal, foi um dos melhores.

— Não seja pessimista dessa maneira, você é linda. — sibila.

— Pelo amor de Deus, vamos apenas focar em limpar essa bagunça e dormir. — bufo.

A questão que me irrita nesse tipo de comentário é: Independente da minha beleza, por que toda mulher é colocada como potencial parceira de qualquer homem satisfatoriamente atrativo? Eu não posso simplesmente não querer me interessar por um cara só porque ele é bonito?

— Você é chata. — Lena cantarola na sala.

— Você é controlada pelo machismo. — devolvo no mesmo tom enquanto lavo as vasilhas que sujamos.

— Tudo para você é machismo! — Lena exclama.

— Talvez por que tudo que conhecemos está enraizado nessa cultura?

O Conto de Alicia (Repostagem Revisada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora