quinto

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Quando Cloe e Stephan — principalmente Cloe — me viram naquele estado eu senti vergonha.

Eu senti vergonha por ser tão fraca a ponto de me deixar levar pela bebida mais uma vez, não de um jeito casual como qualquer cidadão comum faz. E sim para tentar — nem que seja por poucas horas — esquecer essa dor, esse vazio que existe em mim.

Segurei o choro quanto pude e me senti horrível por ter sido rude com o Stephan.

O choro foi inevitável e todos as lembranças vieram à tona.

Meu pai, a rejeição de minha mãe, a infidelidade de um ex-namorado.

Receber o apoio de Cloe é tudo que eu preciso. Ela tem sido meu anjo da guarda e às vezes sinto que sou um fardo para ela.

Stephan nos envolveu em um abraço de urso e ficamos ali por bom tempo.

Cloe desfez o abraço e foi fazer o café, limpando as lágrimas derramadas por minha causa.

— Me desculpe por ter gritado com você e arruinado seu encontro.

— Está tudo bem — ele se aproximou de mim e me ofereceu seu ombro. Eu estranhei um pouco sua atitude e ele sorriu — Um ombro amigo é sempre bom.

Encostei minha cabeça em seu ombro e tentei não pensar o quão embaraçosa essa cena deve ser.

— Isso aconteceu mais de uma vez, não é?

— Como? — ergui minha cabeça para conseguir encara-lo.

—O desespero dela foi perceptível. Não foi como se você apenas não estivesse afim de vir para a aula. Aconteceu mais de uma vez?

A culpa pesou ainda mais em minhas costas. Não queria ter deixado ela preocupada.

—Sim — não queira dar uma brecha para esse assunto.

— Quer falar sobre isso?

Neguei com a cabeça e ele não insistiu.

Cloe trouxe uma caneca com café forte e sem açúcar.

Depois de toda o drama, ela me fuzilou com o olhar. Como uma mãe dando bronca na filha quando faz coisa errada.

—Você me prometeu — arqueou a sobrancelha e eu bufei.

—Vou deixar vocês conversarem — Stephan se despediu de nós e saiu.

Cloe esperou que eu começasse a falar. Eu não quero entrar nesse assunto, com ninguém. O.k., eu vacilei, admito. Havia feito uma promessa e depois de pouco tempo foi quebrada.

O problema não é beber. E sim o motivo de estar bebendo. Quando estou com meu amigos, bebo casualmente e esqueço totalmente os problemas e foco no momento que estou com eles, as pessoas que gosto. Em casa, quando estou sozinha e com todos os pensamentos ruins, meus demônios, eu bebo para conseguir acabar com esse vazio... essa dor que me atormenta há anos.

—Nunca fui muito boa com promessas — dei de ombros — Eu só dei uma escorregada.

—Escorregada? Da última vez que você deu essa "escorregada" — fez aspas com os dedos — foi parar no hospital.

—Porque não deu certo. Não quero falar sobre isso.

—Você sabe há quanto tempo você está adiando essa conversa?

—Sei. Não estou pronta para isso ainda.

Ela entendeu e ficamos a tarde inteira juntas.

AdulteryOnde histórias criam vida. Descubra agora