As horas passavam vagarosamente. A cama estava deformada com os seus contornos, assim como os travesseiros, impregnados com o seu odor. O quarto estava escuro. Sua mente estava escura. Pálpebras fechadas, mas olhos em movimento. Estava quase lá. Foi só quando o corpo travou, que a verdadeira experiência começou: um sonho lúcido — poderia fazer o que quisesse.
Estava na final do campeonato há sete anos. Via jogadores sendo expulsos, gols sendo perdidos: assistia ao mesmo jogo, mais uma vez. Nos pênaltis, a diferença: seu time converteu todos, ao invés de jogá-los para fora. A taça nas mãos do capitão, o grito na garganta de cada torcedor naquele estádio e em qualquer outro lugar do país, a felicidade que lhe fora tirada sete anos atrás.
A cena mudou. Estava diante do adversário no campeonato de jiu-jítsu de nove anos atrás. As mãos não tremiam dessa vez. As pernas estavam postadas firmes contra o tatame, e assim ficaram após uma sequência de tentativas de ser jogado ao chão. Somente quando atirou o adversário por cima do corpo e o finalizou, foi que o sonho foi realizado.
O cenário dessa vez? Uma loja de eletrônicos. Observava a mesma garota ruiva de algumas noites atrás. Conseguia ver o CD do Radiohead em suas mãos, enquanto aproveitava uma música através dos fones da loja. Dessa vez, a aproximação aconteceu. O fone foi colocado na cabeça, e a música Creep ecoou por sua mente. Foi nessa hora que a troca de olhares aconteceu. Foi nessa hora, que aconteceu o que deveria ter acontecido naquele domingo chuvoso. Conheceu a ruiva.
E agora o quê? Estava de volta a sua cama. Tinha os movimentos do corpo novamente — suficientes para estender a mão e desligar o seu despertador que marcava seis e meia da manhã. Não queria acordar. Estava muito mais feliz enquanto dormia, e isso é triste. Foi como um pesadelo invertido: quando você acorda de um pesadelo, você fica aliviado. A dolorosa diferença: não acordou de um pesadelo, mas acordou em um — chamado realidade.
