O1O - Gabriela

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Os cabelos lhe preenchiam a face, agitando-se com a mesma intensidade do resto do corpo. A música não lhe dava pausas nem para respirar, quanto mais para se ajeitar. O ritmo tomava conta de toda a pista, pessoas e, principalmente, da garota Gabriela. Os homens a desejavam. As mulheres a invejavam. E nesse mundo contemporâneo, não era incomum que as mulheres também a desejassem. Aquela pista era seu palco, e as pessoas, que deixaram de dançar para assisti-la, sua plateia.

A noite começou quando Gabriela chegou lá. Não poderia acabar antes que ela dançasse sua última música. Uma hora da manhã, duas, três, e nada dela parar. As pessoas se cansaram de olhar, e muitas optaram em ir para casa. Os poucos remanescentes conversavam, bebiam, riam, vomitavam — não é todo mundo que aguenta o tranco. Gabriela já havia perdido a conta de músicas, de chamadas dos seus pais ou de seu namorado. "Ninguém pode me impedir de dançar", pensou.

Eis o problema: seu corpo começou a falhar. Suas pernas tremiam, e às vezes travavam. Os braços, outrora agitados, sequer conseguiam segurar a sua bebida. A maquiagem já estava borrada pelo suor desde o início da noite, o que facilitou para que Gabriela pudesse disfarçar as lágrimas que caíam.

Essa é a opinião de quem vos escreve: Gabriela não estava dançando para desafiar os pais. Não estava dançando para seduzir ninguém. Não estava dançando para perder seu namorado. Não estava dançando para provar a supremacia feminina. Não estava dançando nem para se divertir. A moça estava ali apenas para se esquecer dos seus problemas: fazer a dor emocional virar física — e conseguiu muito bem.

Literalmente, Gabriela dançava os seus problemas. 

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