Epílogo- Coriane

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Eu e Myk voltamos pro castelo a tempo de conseguirmos ir pros nossos quartos sem que ninguém notasse que saímos.

Se fosse ao contrário seria péssimo pra minha reputação, mesmo que estejamos noivos a sociedade, e mais importante, os blogs de fofoca teriam mais um assunto do que comentar. Não posso cometer deslizes desse tipo, afinal agora sou uma princesa coroada e depois me tornarei rainha de não só um, como dois reinos.

Ainda estou processando que terei que passar três meses em Lakeland, um país, até então, inimigo do meu. Sei que mamãe e papai tem suas razões para se preocuparem e sei também que eu disse para eles que confiava em Myk para me proteger lá, mas agora estou com receio de deixar minha família, amigos e meu povo aqui. Mas agora não é hora de voltar atrás Ane, se concentra.

Volto a me arrumar rapidamente , mas Myk entra nos meus pensamentos. O meu primeiro beijo, aquele foi meu primeiro beijo e foi incrível. Sempre pensei que meu primeiro fosse ser com Bash, no nosso casamento quando finalmente pudéssemos passar dos abraços. Mas nem tudo acontece como planejado, e devo dizer que Myk me surpreende e gosto disso.

Toco meus lábios com a ponta dos dedos pois a sensação da boca de meu noivo contra a minha não vai embora.

Esse momento de recordação é quebrado pela lembrança dos meus poderes ressurgindo. E uma raiva e decepção tomam conta de mim, como uma onda que te puxa cada vez mais para o fundo.

Não acredito que meus pais esconderam isso de mim por tanto tempo, e ainda mascararam como crises.

A ardência nos olhos, o formigamento nas palmas das mãos, o calor que se espalha pelo corpo, o zunido no ouvido... Tudo isso eu pensei que fosse por causa das crises, mas na verdade eram quando meus poderes se manifestavam.

Não falarei nada com meus pais sobre isso até conseguir controlar, o que eu espero que seja em breve. No caminho de volta pra cá, Myk disse que me ensinaria a forma correta de controlar meus poderes quando chegarmos em seu reino.

Minha mala já está completamente feita, então só tomo um banho rápido e me visto. Coloco um vestido vermelho com reda preta no busto e um tecido preto transparente na saia, que vai até metade das minhas coxas, sua parte de cima é colada e sua saia soltinha. Coloco um salto baixo preto e as duas pulseiras que usei na minha coroação. Coloco também minha coroa e vou pra maquiagem. Passo um delineador e rímel preto e meu típico batom vermelho.

Em uma bolsa de lado preta coloco o diário da minha avó, meu caderno de desenhos e alguns lápis carvão.

Dou mais uma olhada no quarto do palecete e pego minha mala carrinho saindo do quarto.

Enquanto atravesso os corredores fico imaginando como será Lakeland... Será que é tão iluminada quanto Norta? Mais ou menos industrializada? Como será o ar lá? Só sei que tudo será novo e estou com medo de descobrir.

Mal percebo quando já estou em frente as portas do salão de entrada do Palacete. Os aguardas abrem as enormes portas de vidro e diamante me dando uma visão de Myk e Lucca conversando no canto do salão. Minha amiga parece estar se despedindo da família. E meus pais...

Solto um suspiro pesado só de imaginar como vou passar 3 meses longe deles. Papai e mamãe estão no centro do salão me olhando. Corro pra eles e me jogo em seus braços largando a mala e a bolsa que eu levava.

-Vamos sentir sua falta pequena.

Meu pai fala afagando meus cabelos, quando me afasta vejo seus olhos, os dos dois, cheios de lágrimas e logo sinto minha vista embaçar. Cal e Mare, que já passaram por tanta coisa sem derramar uma lágrima se quer, estão quase chorando por sua filha está saindo de casa por meros 3 meses.

-Qual é gente, não vamos chorar tá legal? São só 3 meses, vamos encarar isso como umas férias de mim. Tenho certeza que assim que eu passar por aquelas portas vocês vão soltar fogos de felicidade.

Falo enxugando as poucas lágrimas que me escaparam e dando um daqueles meus sorrisos ensaiados.

Consigo tirar um sorriso dos meus pais.

-Ela tem razão, Cal. Melhor pararmos com o teatro da tristeza, nossa Ane já cresceu demais para cair nos nossos velhos truques.

Minha mãe fala dando uma piscadela pro papai que logo me faz cair na risada, uma sincera dessa vez.

Mas logo nosso momento de tranquilidade é cortado quando sinto os olhares preocupados da minha mãe sobre mim.

-Mas é sério Ane. Tome cuidado lá. Se possível durma com o olho aberto e os ouvidos atentos.

-Sua mãe tem razão. Tenha cuidado e nunca Ane, nunca abaixe a guarda.

Assinto com a cabeça.

-Coriane Shadow Calore, você entendeu?

Pelo visto minha mãe quer mais que somente acenos de cabeça.

-Entendi, mamãe. Eu prometo que tomarei cuidado e que a qualquer sinal eu e Élia sumimos dali.

Meus pais assentem e dou um último abraço neles antes de ir.

-Amo vocês, tomem conta de todos e digam pro resto dos Barrow que sentirei saudades.

Meus pais assentem e dizem que me amam também. Me afasto deles e viro para Bash que me abraça apertado.

-Por favor Ane tome bastante cuidado lá.

Sei que eu disse que estava com receio, mas todo mundo me falando pra tomar cuidado já está me enchendo.

-Eu tomarei Bash, e prometo cuidar de Élia.

Ele me solta e me olha com um certo brilho sarcástico em suas íris verdes.

-Mais fácil a Élia tomar conta de você.

Reviro os olhos, mas dou um sorriso pro meu amigo.

-Sentirei sua falta Bash.

-Eu também Ane.

Nossa troca de olhar é triste e uma atmosfera de saudade antecipada se instala entre nós. Porém esse momento é quebrado quando sou chamada para ir para os carros.

Me viro e com um aceno de cabeça meu e uma reverência delas, me despeço de Elane Haven e Evangeline Samos.

Entro na limousine preta que foi designada pra mim e encontro minha melhor amiga lá dentro escutando música.

Trocamos sorrisos simples antes de cada uma se isolar em seu mundo.

Tiro meu caderno de desenho da bolsa e começo a rabiscar um rosto. Começo fazendo um esboço claro, depois faço os contornos e por último aplico a profundidade fundindo luzes e sombras. E me surpreendo com o rosto que vejo, não encontro feições leves e delicadas mas sim rígidas e sérias, com um leve sorriso de sarcasmo e uma ponta de audácia. Não me deparo com olhos escuros e intimidadores, mas sim com o mais puro e intenso azul que eu já vi. Com um capuz cobrindo metade de sua testa, o rosto da pessoa que vejo não é o de Myk e sim de Kaion, o cara estranho e misterioso que salvei a vida no dia anterior.

Sinto Élia se aproximando e imediatamente fecho o caderno. Não sei o por que, mas não quero que ela me pergunte sobre ele e muito menos quero responder.

Minha amiga, agora sem os fones, me olha desconfiada.

-O que você está desenhando aí?

Sinto o sangue sumir do meu rosto, minhas mãos começarem a soar frio e o embrulho no estômago se formar.

-N-Na-Nao é nada, não.

Por que eu gaguejei? Eu sempre consigo mentir bem.

Mesmo desconfiada minha amiga não insiste no assunto. Preciso lembrar de depois agradecer a ela por isso.

Élia respira fundo, e pergunta pra mim:

-Pronta pra uma nova aventura alteza?

Respiro fundo antes de me voltar pra ela e responder com uma falsa convicção:

-Sempre.

A Próxima Rainha Vermelha (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now