Capítulo 15

15 2 0
                                    

Eu estava em um momento novo em minha vida. Muito melhor do que eu poderia imaginar. Ver minha mãe com um olhar diferente de tudo o que eu já tinha visto desde que me lembro me transbordava de felicidade. O melhor era ter a certeza de que ela estava tentando ficar bem. Se alguém me contasse eu provavelmente demoraria a acreditar, por tudo o que vocês já sabem. Algo que se acredita e se pratica por tanto tempo é muito difícil se desvincular assim de repente, se bem que no caso dela não foi de repente, muito provavelmente ela deve ter passado por um processo longo, demorado e o pior de tudo, sozinha. Transformações são dolorosas e ainda mais as que são tão complexas como essa que ela estava enfrentando.

Estava esperando ansiosa para que meu pai chegasse junto com seu marido. Eles jantariam pela primeira vez na casa da minha mãe. Acho que finalmente poderia sentir que minha família estaria completa, e minha avó estaria presente em nossos corações, diga-se de passagem ela tem muito haver com essa mudança toda.

Mesmo com tudo isso de bom acontecendo, eu me lembrei da mensagem que recebi outro dia e que ainda não tinha lidado com ela. Meu namorado estava me traindo, e desde então eu não falei mais com ele, nem quando minha avó faleceu. Eu me surpreendi em saber o quão forte sou, mas agora a barra estava pesando. Acho que porque eu percebi que muitos dos meus problemas estavam se solucionando, então eu precisava que esse também desaparecesse da minha vida. Falem a mim, o que vocês fariam? Ignoraria o fato que um dia namorou, tentaria saber o que foi que aconteceu, ou terminaria sem saber o que estava acontecendo, mas só para não continuar nessa dúvida do capeta.

Eu respirei fundo e espantei esses pensamentos de mim. Deixaria para decidir quando o visse pessoalmente. E isso, se tudo ocorresse como o planejado, aconteceria em apenas três dias. Meu coração teria que aguentar só por mais setenta e duas horas.

Meu avô ainda era uma incógnita, não sabia se ele saberia lidar com a novidade. Não sei se minha mãe havia falado com ele sobre o relacionamento homoafetivo que agora meu pai fazia parte, mas era bem provável que sim...

Tentei sondar o coração do velho durando o café naquela tarde.

— Vô o que o senhor acha sobre os gays?

Ele parou de mastigar o pão e me encarou com um olhar profundo. Já esperava um sermão das montanhas, mas me surpreendi. Uma realidade que estava se tornando comum a mim, me surpreender.

— Eu acho triste. Muitos deles não podem viver em paz, só porque eles não se aceitam como são... Eu sinto muito por eles.

— Ah, ta de brincadeira que é isso que o senhor pensa?!

— Claro, você achou que eu era um super preconceituoso e sem coração não é?

— Não isso exatamente... Mas eu jurava que iria dizer que eles vão ao inferno ou coisa do tipo.

— Eu não... Eu não tenho esse direito de julgá-los, e nunca terei. Não fui eu quem morreu na cruz, foi Jesus Cristo, e seu amor é por todos e para todos...

As palavras do meu avô me tocaram profundamente. Eu percebi que tudo estava se transformando genuinamente. Que era tudo sincero da parte deles e que por fim tudo estaria resolvido em minha família. E depois disso que ele falou eu passei a esperar com maior ansiedade meus pais. Queria muito abraçá-los e ser feliz. Eu havia finalmente acreditado que encontrei a liberdade que tanto procurei.

No dia seguinte a essa conversa com o meu avô, meus pais chegaram. Primeiro eu os encontrei em um restaurante para almoçarmos. Eu acho que eles queriam conversar comigo e ter a certeza de que estava tudo bem com a minha mãe, já que nunca esperaram por um convite como aqueles.

— Você tem certeza que é seguro irmos lá? Eu não quero fazer cena e nem ser humilhado por ninguém, alias isso é tudo o que eu não preciso nesse momento.

Liberdade Divergente.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora