Eu quero viver

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62 dias desde a Praimfaya

Era difícil, dia após dia caminhando em meio ao deserto. Mais dois dias se passaram e a comida havia acabado, só lhes restava água. Era nítida a preocupação deles, mas nenhum se dispôs a falar nada, era como se eles guardassem toda a sua energia para permanecerem vivos apenas.

A perna de Bellamy ainda doía, mas já estava bem melhor que antes e obviamente, teimoso do jeito que ele é, não diminuiu o ritmo apressado nem sequer por um segundo. Clarke lutava para acompanhá-lo.

A cada segundo o sol parecia ainda mais massacrante e o deserto ainda maior. Sem fim. Bellamy para ao perceber que Clarke já não estava mais atrás dele, ele olha para trás e vê ela de joelhos em prantos. O coração dele se despedaçou e ele correu em sua direção.

— Ei, eu sei que não tá fácil, mas temos que continuar. — diz tentando ser o mais sensível possível.

— Eu não consigo. — Clarke pega a arma em sua cintura e a leva até sua cabeça. Bellamy não sabia o que fazer, mas vê-la fazendo aquilo havia acabado com ele, mais do que o fim do mundo. As pernas de Bellamy ficam bambas e ele cai de joelhos na frente dela.

— Não.

— Eu perdi tudo. — Ela grita desesperada. Bellamy não sabia o que fazer, apenas chorava. Ver ela daquele jeito partiu seu coração. — Eu perdi meu pai, minha mãe, meus amigos. Eu não tenho mais nada.

— Você tem a mim. — A voz dele saiu quase como um suspiro. Bellamy sentiu que seu mundo estava prestes a desabar novamente.

As lágrimas de Clarke se intensificaram cada vez mais. Ela havia desistido, havia tomado uma decisão durante toda aquela caminhada, durante os sete dias que andaram pelo deserto, mas as palavras de Bellamy, seu olhar, suas lágrimas a fazem duvidar de tudo.

— Não me peça pra continuar. — Suplica. — Não mereço viver. Eu destruí tudo. Não aguento mais isso. Não dá.

— Não vou pedir pra que você continue. Não vou te forçar a viver algo que você não queira. A única coisa que posso fazer é dizer que estamos juntos nessa. — Nem mesmo ele sabia o que estava falando. Só sentia e lançava as palavras na direção dela, sem pensar. — Qual o sentido de eu continuar sem você?

— Você tem que viver.

— Não sem você. — Bellamy então pega a arma que estava em sua cintura e aponta para a própria cabeça. — Não posso viver em um mundo onde você não esteja.

Clarke parece parar no tempo enquanto encara Bellamy nos olhos. Lá fundo ela podia ver algo, algo que ela mesmo havia perdido a muito tempo.

— Você ainda tem esperança? — a voz de Clarke soou doce e angustiada ao mesmo tempo. Talvez ela quisesse um motivo para continuar, talvez se Bellamy tivesse esperança ela pudesse continuar.

— Eu não sei. — o vento parecia cada vez mais forte, eles podiam sentir a areia em seus olhos arranhando. — Mas eu sei que você não precisa aguentar esse fardo sozinha. Você não tá sozinha, Clarke. — Bellamy abaixa a arma e a deixa no chão encostado a seus pés. Depois, com calma, repete o ato com a arma que Clarke pressionava contra sua cabeça.

— Bel..

— Vou te fazer uma promessa, aqui, agora. — Ele faz uma pausa. — Prometo que a partir de hoje suas escolhas são minhas escolhas. Sua dor é minha dor. Você não precisa mais carregar esse fardo sozinha, eu carrego com você. Mas se for pra desistir, então também faremos isso juntos. — As mãos de Clarke tremiam, ela encara a arma no chão. Ela só sabia que, por algum motivo que ainda não era capaz de entender, as palavras de Bellamy fizeram com que ela perdesse toda a coragem e convicção para fazer aquilo. Ela queria que ele vivesse, ela queria que ele fosse feliz. Clarke queria dividir tudo aquilo, toda aquela dor e sabia que Bellamy não a julgaria.

In Another Life - The 100 [REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora