Céu sem estrelas

645 59 18
                                    

Dois meses na superfície e os Wonkru mudaram tudo e todos. Regras não existiam mais, pelo menos não as com lógica como: não acabar com todos os suprimentos restantes do planeta, ou respeitar o ambiente e a privacidade do vizinho. Eles viveram tanto tempo juntos sob o chão que não sabiam mais viver sobre ele, não como antes.

Ver Abby em um estado deplorável, no auge de seu vício, causava em Clarke a pior das sensações. Nem as estrelas pareciam brilhar como antes e toda a estrutura de vida que eles tinham havia desmoronado em tão pouco tempo que a fez duvidar de si mesmo e de todo o esforço que fez, pensou e temeu ter que voltar a ser Wanheda invés de mãe. Tudo parecia confuso e melancólico.

Quanto a Bellamy? Ah, ele sequer consegue reconhecer Octavia. Quer dizer, ela sequer existe mais. Blodreina não é sua irmãzinha, nem a garota por quem Lincoln se apaixonou. Não havia resquícios de que aquela garota um dia existiu. A morte estava presente, as brigas sangrentas e a sensação de ser obrigado a temer o mundo e a todos sobre ele.

Ele não aceitava estar dividido, para ele não era uma escolha, não deveria ser. Octavia fazia parte de sua familia, assim como Clarke e Madi e ele não desistiria dela facilmente. Mas não era assim que a loira via, pelo menos não mais. Quem poderia culpá-los? Irmã dele, mãe dela, ambas se odeiam e esse sentimento está os separando.

As coisas estavam começando a voltar a ser como antes, quando eles temiam sua própria sombra, quando sobreviver e viver eram coisas distintas e difíceis de se fazer. Quando apenas respirava não significava estar vivo.

Bellamy e Clarke, agora sentados no monte em que costumavam observar as estrelas e pedir a alguma força superior que trouxesse seus amigos de volta, são incapazes de se olhar.

— Talvez em outra vida pudéssemos ser felizes de verdade. — diz Clarke quebrando o silêncio da noite. Bellamy a olha confuso, pensava que tais palavras não ousariam sair da boca de sua amada.

— Não acha que fomos felizes nessa? — sua voz traz consigo certa revolta, mas também tranquilidade.

— Tudo o que sei é que não estou feliz agora. — Ao entender o motivo de tanta amargura nos olhos de Clarke ele apenas segura sua mão.

— Quando isso acabar voltaremos a sorrir sem medo. —Clarke sorri, mas seu sorriso era falso.

— Você e Madi são tão parecidos. Também acredita que existe um tesouro no fim do arco-íris? — dessa vez ela o olha.

— Acredito. Assim como acredito que em breve essa tempestade vai passar. — seus olhos encontraram os dela, e por mais que não conseguisse mudar sua opinião sobre nunca mais voltar a ser feliz novamente, Bellamy conseguiu fazê-la refletir pelo resto da noite.

Sem beijos ou abraços eles voltam para o Rover onde Madi dormia tranquilamente. A tranquilidade de seu sono daria forças a eles para que pudessem lutar amanhã.

----------✥----------

O dia trouxe o sol e o sol, com toda sua luz tentava iluminar os pensamentos de Clarke. Ela jurou trazer sua mãe de volta, e Abby jurou seguir o plano de reabilitação da filha. Mas nem tudo eram flores e juramentos.

— Bom dia mãe!

— Olá, querida.. — Os olhos de Abby estavam confusos, mas o sorriso em seus lábios chegava a ser mórbido. Clarke olha em volta e vê Madi com os olhos cheios de lágrimas. Ela logo vai na direção da menina e a abraça.

— O que houve? Por que está chorando? — A pequena olhou para Abby como em um aviso e foi então que Clarke viu seringa em sua mão.

— Blodreina! — um grito é ouvido ao fundo. As pessoas começaram a correr em uma só direção.

— O que você fez?

— Eu nos salvei. — ela ri. — Salvei sim. Da canibal. — Clarke paralisou no mesmo instante e tudo o que pode pensar foi em como Bellamy se sentiria e na conversa que tiveram na noite anterior. Ela temeu que ele a culpasse, ou que suspeitasse dela, e o pior: Madi viu isso acontecer. Se tudo já estava confuso demais entre eles, o fato de sua mãe ter matado a irmã querida dele seria o fim.

Aos poucos seus pensamentos voltaram para Abby e a razão começou a dominar seu cérebro, o que fez Clarke sorrir, mesmo que seus olhos estivessem encharcados de lágrimas. Ela estendeu uma das mãos e com a outra fez sinal para que Madi se escondesse.

— Bom. Isso é bom, mamãe. — Disse dando passos lentos em direção a ela. — Agora temos que ir.

— Não, eu quero ficar.

— Não podemos. Você sabe que eles vão vir atrás de você. Venha. — Abby recuou. — Eu vou te proteger, você sabe que eu vou. — As lágrimas da loira ficaram mais evidentes e sua mãe parece ter notado.

— Você não gostou.

— Eu só quero te ajudar.

— Mas.. — Por algum motivo Clarke reconheceu sua mãe, eram os olhos dela novamente. Abby encara sua mão e volta seus olhos para a filha. — Se você me proteger eles vão atrás de você. — Aquelas palavras embainhadas de emoção foi o gatilho que fez Clarke perceber o que estava prestes a acontecer

— Mãe. Não.

— Eu preciso. Desculpe. — Abby ergue a seringa, mas antes que Clarke a alcance ela o faz.

— NÃO!

In Another Life - The 100 [REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora