Esperança

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 Ouvir cada palavra que saia da boca de Raven era quase um milagre para Clarke. Ela só conseguia lembrar de todas as noites em que sonhava com o dia em que veriam seus amigos de novo, em que Bellamy não precisasse perder o sono tentando arrumar um rádio velho na falsa esperança de contatá-los.

A mecânica explicou como conseguiram sobreviver durante três anos, desde o momento em que quase morreram ao chegar ao anel. Foi engraçado ouvir sobre as algas de Monty e estranho saber da grávidez de Harper, mas era a esperança de um futuro, assim como Madi significava para ela essa criança significou para eles. Ouvir histórias de Emori como aprendiz mostrando a união de culturas, e as desculpas de Echo foram significantes. Mesmo que Bellamy ainda guarde algum rancor, ela parece estar do nosso lado agora. Se é que existem lados.

— O ar ainda não é completamente saudável, mas percebi que vocês deram um jeito. — Diz Clarke apontando para o ferimento de Murphy. O sangue dele não era negro e muito menos vermelho, aquela cor era tudo menos natural. Um cinza quase metálico, se bem observou.

Raven e Monty se encaram, seria difícil de explicar porque nem mesmo eles sabiam ao certo.

— As algas não estavam dando certo, nossos suprimentos de água estavam começando a acabar e a máquina tinha sido danificada. Desligamos toda energia não essencial pra tentar aguentar mais tempo. Tudo o que tínhamos era um pouco de combustível, acho que foi esquecido lá dentro. — Emori respira fundo antes de continuar. — Raven tinha a fórmula do sangue que Becca Pranheda criou, mas algo estava errado.

— Não dava pra saber o que era ao certo. Harper foi a primeira a se candidatar para os testes. — Completa Monty. — Mas no dia em questão aconteceu uma explosão solar.

— A gente não sabe se isso interferiu, mas eu comecei a sangrar pelo nariz e a cor do meu sangue era esse cinza. — Concluiu a loira com a mão na barriga. — No fim fizemos o teste mesmo assim e deu certo.

— O sangue dela se mostrou ainda mais eficaz do que o soro original. Não sei explicar se foi um erro meu ou simplesmente aqueles raios cósmicos fizeram o trabalho por mim. —

— O importante é que deu certo e no último ano todos nós viramos sangue cósmico. — Murphy fala em tom engraçado, ainda estava grogue devido às ervas.

— É assim que chamam? —

— Só o idiota do Murphy. — Raven dá de ombros e os demais riem.

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Naquele mesmo dia Clarke fez questão de examinar Harper novamente, mas dessa vez se atentando ao detalhe de sua gravidez de duas semanas. Os olhos tristes dela despertaram na amiga uma certa curiosidade e no fundo as duas sabiam o que havia acontecido, quase como telepaticamente.

— Sinto muito.

— Tá tudo bem, eu tenho a Madi. — Clarke sorri.

— É claro. — Harper encara a menina que abraçava Bellamy por trás enquanto ele conversava com os outros. — Ela é linda. Ironicamente me lembra um pouco de vocês dois.

— Acho que sim. — Diz ao se levantar. — Descer nessas condições foi um risco, então você vai ganhar repouso, muita água e frutas.

— Sim senhora.

— Clarke! — Bellamy a chame fazendo-a seguir para onde ele estava.

— Antes de qualquer coisa.. — Fala olhando para a filha que faz bico. — Sem bico, Madi.

— Mas estamos de férias. Deveria ser divertido. — Bellamy tenta ao máximo não rir com a voz arrastada e irritada que a filha faz. Os demais riem na cara dura e ganham um olhar fuzilante de Clarke.

— As férias acabaram, meu amor. — Ele a coloca de frente para si.

— Mas Bell..

— Prometo a você que em nossas próximas férias você não será a única criança. Então ouve sua mãe. Sem bico. — Aquelas palavras fizeram Clarke ter uma enxurrada de emoções. Ouvir ele se referindo a ela como mãe da Madi a fez querer chorar, quase perdeu a postura de durona. Mas a imagem dela brincando com outras crianças aqueceu seu coração e lhe encheu de esperança.

A menina respirou fundo e olhou para Clarke com olhos penosos de culpa.

— Desculpa.

— Tá tudo bem. — Diz beijando o alto de sua cabeça. — Agora pode subir, mocinha.

Quando se deu conta todos olhavam para ela sem jeito. No fundo ela sabia que eles nunca imaginariam vê-la em uma cena como essa.

— Podemos falar agora. — Ela recupera a postura e cruza os braços.

— Você vai detestar a ideia, mas acho que pode ser o momento certo. — Bellamy começa sabendo que Clarke sabia exatamente do que se tratava.

— Bellamy nos contou sobre o bunker. — Echo explica.

— Eu sei o que ele quis dizer. — diz ríspida, mesmo sem perceber. — Tudo bem, como vamos fazer isso?

— Temos o rover e pessoas suficientes para fazer o resto da escavação em segurança. Podemos levar água e alguns suprimentos, já que não sabemos como eles estão em relação a isso. —

— E quanto ao ar? —

Raven caminha até uma das bolsas que trouxe da nave. Ela tira de lá uma maleta com o símbolo da estação Alpha — estação em que os Griffin faziam parte — Ao abrir todos puderam ver frascos de soro cósmico.

— Acho que vim preparada para isso. — 

In Another Life - The 100 [REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora