Prólogo

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Narrado por Eliane Giardini

Durante esses quatro anos após a minissérie A Casa das Sete Mulheres, muita coisa mudou em minha vida, a começar pelos maravilhosos convites recebidos através do sucesso de minha personagem, não houve um período curto sequer de descanso, foi um ano atrás do outro e isso me inspirou a ser cada dia uma atriz melhor, a mergulhar fundo em cada papel que me era concedido. Um ano depois de dar vida à Caetana, interpretei no cinema Eugénie Benário, mãe de Olga Benário, as gravações começaram no ano de 2004 e se estenderam até 2005, o longa metragem contou com Camila Morgado como protagonista. Tínhamos as duas acabado de sair da superprodução da rede globo, havia muitos holofotes entorno de nós, e o reconhecimento do público foi de uma maneira indescritível. Werner também esteve nesta produção no papel de Arthur Ernest Ewert, nos vimos apenas na estréia e trocamos duas ou três palavras, pois o mesmo estava acompanhado da Tânia que me fuzilava com olhar o tempo inteiro.

Nesse mesmo ano, fui presenteada com o papel de Tarsila do Amaral na minissérie Um Só Coração, um dos meus personagens preferidos até então, o que eu costumo chamar de paixão eterna. Em 2005 vivi a aclamada e instigante Viúva Neuta, na novela América. Confesso que esse papel foi um dos meus maiores desafios, minhas personagens sempre exploraram esse lado sensual, um pouco extravagante até, mas todas abusavam da feminilidade, Neuta foi sem dúvidas uma personagem que ganhou o gosto do público, principalmente por se envolver com um rapaz mais jovem, juntos, Murilo Rosa e eu vivemos um dos casais mais aclamados pela mídia, o que nos rendeu o Prêmio Contigo de Melhor Par Romântico. Sem sombra de dúvidas um grande ano, passei a explorar esse meu lado mais mulher, mais feminina, mais exuberante. Olhei para mim e vi que podia ir mais além. Inusitadamente até surgiu um convite para posar nua para a revista Playboy, o que recusei, pois apesar de minhas personagens serem mulheres belas e enaltecerem esse artifício, eu sou extremamente reservada, gosto de privacidade e jamais me exporia dessa forma. Porém, não posso negar que houve um alvoroço por parte da mídia, o que inflamou um pouco meu ego, recebei milhares de recados, cartas me incentivando a fazer o ensaio, mas fui enfática ao dizer não. Enfim, me angajei em vários outros projetos que me permitiram dar um salto em minha carreira, gosto de rememorar com grande estima a personagem da novela Cobras & Lagartos, Eva Padilha que era uma dona de casa e católica fervorosa, e que por um infortúnio perde a memória e acorda como Esmeralda, uma mulher sexy, sem rédeas e muito decida, que cantava e dançava, uma faceta bastante interessante de ser explorada.

É peculiar como o tempo passa e não nos deixa esquecer certas coisas, há momentos que ficam cravados em nossa memória, e passam nela com um filme constantemente. Em todos esses anos acompanhei a carreira de Werner pelas redes sociais, até fizemos parte de algumas produções, porém em núcleos diferentes, então não nos viamos como eu gostaria. Adorei vê-lo como Anselmo na novela Começar de Novo, havia cortado o cabelo, seu novo visual estava belíssimo, parecia outro homem, excepcionalmente mais seguro de si. Li algumas matérias de grandes revistas mostrando sua família bela e feliz. Vi seus trabalhos pela tv, teatro, cinema e pude observar sua evolução como artista, bem como seu amadurecimento dentro da emissora. Ganhou respeito e prestígio dignos de uma ator magnânimo como ele. Todas as vezes que o via em algum destes trabalhos sempre me lembrava de suas palavras para mim "Eu sempre vou esperar por um sinal, Uruguaiana". Por diversas vezes disquei o número dele de um outro telefone apenas para dar um oi, mas quando ouvi sua voz rouca do outro lado da linha me acovardava, tive medo de confundir meus sentimentos e causar mal entendido entre ele e a Tânia. Ele também não me procurou e entendo o por que, mas no fundo pensei que fosse aparecer apenas para dizer olá a uma velha amiga. O tempo foi passando e essa louca vontade de ligar foi diminuindo, na verdade, me acostumei com a realidade nua e crua, porém a saudade da nossa amizade só crescia, ele havia se tornado alguém em que eu podia desabafar e conversar sobre coisas banais sem ser criticada ou ignorada, ele prestava atenção até nos mínimos detalhes. Mas até isso eu havia perdido.

Assim como ele deu um grande passo em sua vida, eu fiz o mesmo. Sinto que minhas convicções e meus desejos mudaram muito, não sou mais aquela Eliane de quatro anos atrás, as coisas mudam, alguns detalhes em minha personalidade e temperamento apaziguaram e outra se solidificaram. Me vejo mais madura e decidida emocionalmente, como se nada pudesse me abalar agora, nenhum homem ou relacionamento. Por diversas vezes à noite, quando tenho insônia, fico deitada num grande sofá branco na sacada do meu quarto. Passo a mão por dentro das blusa e puxo a bela correntinha de ouro que Werner me deu em nossa última despedida, as vezes me pego beijando o pequeno pingente com a letra "w" sem saber que tipo de nome dar a este sentimentos e a esse vazio repentino. O que restou de nossa amizade foi algo muito bom e puro, apesar de todos os conflitos, ele foi uma pessoa importantíssima na minha vida e mostrou um lado meu que estava escondido. Quando estou em um camarim é difícil não recordar o que fizemos a anos atrás, dentro do meu carro seu perfume ficou por bom tempo, e só o nome "Recreio" me traz boas lembranças. Lembro de nosso ensaios em minha casa, das vezes que tive que buscá-lo porque estava sem carro, de suas gentilezas e de seu excepcional bom humor, tudo nele reluz. A imagem de seus belos olhos azuis sobre mim ainda estão comigo. Como eu queria rever este amigo que o tempo faz questão de separar de mim. Será que ele pensa o mesmo?

Contigo en la distanciaOnde histórias criam vida. Descubra agora