02 de dezembro - Parte 07

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Deitada ali, naquela praia que eu já havia visitado antes, me dei conta do quanto sentia falta da época da minha faculdade. Eu lembro de pensar, em meu período de estágio, que eu preferia trabalhar a estudar.

Pobre Elena, completamente iludida.

O que eu não daria para poder viver só mais uns dias naquela paz, quando simplesmente podia largar tudo e vir à praia? O máximo que perderia era uma aula.

Crescer dói, minha avó sempre me avisou.

Mas, quando eu era pequena, fazia tão pouco sentido. A dor era distante, não era como se eu entendesse o que a frase significava de verdade. Não como eu entendo hoje.

Me lembro de sair com as amigas da minha mãe e voltar para casa me perguntando o porquê de elas só conversarem sobre trabalho. E hoje essa sou eu, a Sra. Trabalho.

Não consigo tomar um café e não comentar o quanto estou tendo dificuldades em encaixar aquela matéria nas 600 palavras solicitadas. O quanto não tenho paciência para mais um famoso que se acha superior.

Para falar a verdade, algumas vezes me sinto uma impostora. Parece que fui subindo de nível só por estar mais velha, e não por estar mais preparada. Fico esperando o momento em que alguém vai notar que eu não deveria estar onde estou, e vai me mandar de volta para o jardim de infância, basicamente.

"A Elena está fazendo a capa?" eles diriam "não mesmo! Ela não tem ideia nem do básico!"

E quer saber? Talvez não fosse de tudo ruim. Pelo menos essa sensação, de estar presa entre a adolescência e a maturidade, teria que sair de dentro de mim. Quer dizer, com 26 anos eu já deveria ter a vida um pouco mais certa, não é mesmo?

Quando penso em meu relacionamento com Mateo, sinto que estou tomando o caminho correto. A vida dele já está mais planejada e eu conseguiria tomar as rédeas da minha também. Nós nos casaríamos, faríamos uma festa legal, teríamos filhos em breve, talvez, quem sabe, até um cachorro antes disso. Além disso, todo mundo me diz que ele é perfeito.

Mas tudo passou tão rápido! Eu me lembro como se fosse ontem de quando nos conhecemos no bar em que eu trabalhava. Com o passar dos anos, eu pensava sim em nos casarmos, mas não sei, acho que não me toquei que namorávamos há tanto tempo. E quando ele fez o pedido, eu tinha certeza que essa era a escolha certa.

Dizer sim.

E agora, parece que me sinto uma impostora em minha vida pessoal também. O monstro da insegurança que frequentava somente meu escritório, me seguiu até em casa e passou a atacar minha vida pessoal também.

"Ei! Eu não te deixei entrar aqui!" Podia ouvir meu subconsciente duelando contra o monstro, enquanto ele armava sua barraca em meu coração, enfincando as estacas, uma por uma.

Não é incrível que eu resolva me apaixonar por um garoto 5 anos mais novo (justo a minha idade quando estava na faculdade!) logo depois que fui pedida em casamento e estava tentando virar adulta, finalmente?

Não, não é incrível. É a maldita insegurança encontrando desculpas para me confundir.

"Você não está pronta, Elena!"

Mas eu estou sim! Ou pelo menos acredito que estou, e isso deveria bastar! Ficar com alguém que me lembre a uma época que eu tenho saudade não significa que esse tempo irá voltar. Até porque, Sean não tem nada a ver com o que aqueles anos representaram para mim. Ele não vai trazer de volta a sensação de paz e tranquilidade, ou a falta de responsabilidades diárias. Ele não consegue tirar de mim as horas que eu tenho que trabalhar todos os dias, batendo o ponto na chegada, no almoço e quando vou embora.

Essa é minha rotina agora, minha realidade, ninguém mais consegue me salvar. Muito menos um homem!

E está mais do que na hora de não querer ser salva da vida adulta, de finalmente aceitar que eu cresci. Preciso tentar encontrar prazeres em meu dia-a-dia hoje, e parar de compará-lo com o que era antes. Porque, se me lembro bem, eu também não me achava 100% feliz na faculdade.

E, sim, muitas vezes eu me pego com dúvidas sobre meu relacionamento. Por mais que eu seja muito feliz, eu nunca senti o que as outras meninas comentam. Aquelas malditas borboletas, sabe?

Só que, se eu continuar assim, vou passar todas as etapas da minha vida sentindo saudade dos momentos anteriores e nunca aprenderei a apreciar o hoje, por conta da maldita peneira de memória, que cisma em deixar passar todas as lembranças ruins e me faz olhar só para aquilo que era bom.

Então eu recomendo que o monstro da insegurança faça a malinha, junte os trapinhos e suma já de dentro de mim! E se não for pedir muito, por gentileza, não apareça mais no escritório também, chegou a hora de aceitar a realidade de uma vez!

- E se você não sair, eu vou te arrancar a força! – pude ouvir minha voz de longe, enquanto eu acordava do que parecia ser um cochilo no meio da praia.

Olhei para o lado e Sean morria de rir, enquanto eu ainda limpava uma babinha grudada na lateral de minha bochecha.

- O quão alto eu falei isso?

- Alto o suficiente – ele disse, no meio de gargalhadas – quem você estava ameaçando, Lena?

- Não me lembro – menti. Mas espero que tenha sido alto o suficiente para você ouvir, insegurança.

A Garota da Capa [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now