epílogo

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T E R R A

     Se passaram exatos cinco dias após o estalo de Thanos, que resultou no sumiço de metade da população. Pais perderam seus filhos, netos e amigos. Todos se foram devido a uma ideologia doentia que habitava a cabeça do Titã mais louco que já passou pela Terra e Galáxia. Heróis vindos de diversas partes do mundo se juntaram à guerra, mas não foi o suficiente. Eles perderam, e Thanos ascendeu em sua glória. Os Vingadores afundaram no sentimento de perda e fracasso, sem qualquer felicidade ou esperança. Eles eram os heróis que não foram capazes de salvar o mundo, verdadeiros perdedores.

      No complexo dos Vingadores, Thor se afundava em uma depressão lenta, sendo corroído a todo instante pela morte de todos que perdeu. Pensou em Syn, os asgardianos, Heimdall, seu pai e todas as pessoas que ele não conseguiu salvar. Em contraste com os outros, que mesmo naquela situação tentavam seguir em frente, Thor não conseguia mais se manter em pé sem desejar morrer e acabar com aquele sentimento de culpa. Ele se considerava fraco por pensar daquela maneira, entretanto, viver com a culpa parecia muito pior do que a morte de fato, onde o ar faltaria em seus pulmões e a vida sumiria de seu corpo como se nunca tivesse estado lá antes. Poderia ser uma morte dolorosa, Thor não se importava. Ele merecia, afinal.

     Quando a maioria dos heróis viraram pó, foi difícil para os outros assimilarem o que acontecera. A maior surpresa, todavia, foi ver que Loki continuava vivo e intacto. Ninguém sabia explicar como o deus conseguiu fugir da morte até em uma situação como aquela, na qual a morte estava dançando ao lado de todos. Loki não conseguia explicar como se sentia. Apesar de ter concordado em viver no Complexo, onde a maioria ainda o odiava, ele evitava conversar com os outros. Não se sentia mal pela morte dos humanos com o estalo de Thanos, e mesmo estando raivoso e um pouco entristecido com a morte do povo asgardiano, o que mais lhe caía sobre os ombros era a morte de Syn e a dor do fracasso. Em pouco tempo a deusa arrebentou suas barreiras impenetráveis, deixando-o irritado e ao mesmo tempo curioso sobre ela. Ele não a amava, e o gostar dele era um tanto quanto questionável, mas lhe agradava a maneira como ela o fazia sentir. Simultaneamente, Loki se sentia um perdedor. Ele era um deus, mas não conseguira impedir Thanos. Mesmo que não admitisse abertamente, ele queria derrotá-lo, não pelo povo, mas para alimentar seu ego que por muitas vezes o atrapalhava.

      - Você acha que se ela estivesse aqui teríamos mais chances de derrotá-lo? - Dália aproximou-se com veemência do corpo estático de Thor, ignorando o olhar perdido e sem foco do maior. O deus cumpriu sua promessa e cuidou de Dália, mas era inevitável olhar para ela e não se lembrar de Syn e da morte do povo asgardiano.

      - Se Syn estivesse aqui ela teria feito Thanos se afogar em seu próprio orgulho. - Sua voz estava, de certo, irreconhecível. Sem qualquer sinal de suas antigas brincadeiras e senso de humor, Dália sabia que o deus estava tão perdido quanto ela.

        - Mas ela não conseguiu impedi-lo quando estávamos na nave. - Lembrou, respirando com dificuldade para manter o tom de voz impassível. Queria chorar, mas não conseguia. A única coisa que se lembrava era de ouvir o grito de Syn na nave e acordar rodeada por um grupo de seres estranhos conhecidos como Guardiões da Galáxia.

        - Por Odin, ela tinha acabado de matar a Hela. O que você queria? Ela estava fraca. - Revirou os olhos, notando de soslaio Steve entrar na sala e se dirigir até um sofá afastado.

         - Eu sei! Você não imagina o quanto admiro Syn, mas sinto que se ela não tivesse feito o que fez, ainda estaria aqui. - Ela ajeitou as alças dobradas do vestido que usava. Dália odiava aquelas roupas midgardianas, as quais eram estranhas e mal feitas. Se deu bem com todos os Vingadores, e por mais que eles tivessem costumes estranhos, a Terra era um lugar muito melhor para morar do Sakaar.

     - Mas ela não está! - Exclamou de modo rude, suavizando a feição ao perceber o susto que Dália levou com sua grosseria. Steve levantou-se ao ouvir o grito de Thor, pronto para ir em sua direção, mas se deteve ao ver o deus se acalmar. - Desculpe-me, Dália, mas Syn morreu. Ela foi imprudente e não está mais aqui, assim como tantos outros. Eu perdi meu povo, minha responsabilidade. Não consegui impedir Thanos quando tive a chance e falhei! Todos os dias eu levanto com uma vontade insaciável de me vingar, e por mais que Syn tivesse o costume de falar que a vingança não nos leva a lugar nenhum, eu me sentiria bem vendo Thanos sofrer.

       - Syn estava errada. - Loki surgiu de repente, mas os outros dois já estavam acostumados com seu jeito silencioso e mania de aparecer do nada. - A vingança é algo delicioso. Syn podia ser uma grande deusa, mas estava errada sobre muitas coisas. Por causa disso ela não está aqui hoje.

        - Pelo menos ela tentou lutar, e você, o que você fez? - Dália estava ficando irritada com Loki cada vez mais. Ela odiava seu jeito sombrio, sério e extremamente manipulador.

      - Fui esperto o suficiente para não me colocar na reta do Thanos. O que você queria que eu tivesse feito? Tentado matá-lo com uma faca de cozinha? - Revirou os olhos, alisando o cabelo molhado pela água do banho. - Eu estava criando um plano, e teria dado certo se Syn não tivesse batido de frente com Thanos.

       - Agora a culpa é dela? - Gritou. Steve, percebendo a proporção que a discussão estava tomando, aproximou-se com cautela.

      - É claro que não! - Loki exclamou. - A culpa é do Thanos, aquele maldito que a matou. Syn podia ser forte, mas era ingênua demais para esse mundo. Ela era do tipo que se sacrificava, e foi isso que a matou.

      - Pessoal, vamos manter a calma! - Disse Steve, recebendo um olhar furioso vindo de Dália e Loki. - Carol conseguiu achar a nave de Tony e agora ele está se recuperando na enfermaria. Em breve poderemos buscar por vingança, mas por enquanto vamos tentar conviver com o mínimo de paz possível entre nós.

        - Você não tem direito de nos pedir paz. Está tão perturbado quanto qualquer um aqui. - Loki se irritou com a tentativa estúpida de Steve de neutralizar a confusão. O deus saiu da sala com os passos apressados, visivelmente enfurecido, e Thor fez o mesmo segundos depois, mas seguiu para o lado oposto.

        - Tem que ter fé, Dália. - Disse Steve. Ele apertou o ombro da loira com ternura e saiu, deixando-a sozinha.

       Dália aproximou-se da janela e pousou a mão esquerda sobre o vidro transparente, imaginando-se por um segundo de volta à sua vida em Sakaar. Não estava arrependida de ter ido para a Terra, mas sabia que em seu planeta natal ela não tinha tantos problemas como aqueles que ganhara em Midgard. Lembrou do rosto aterrorizante de Thanos e do corpo do garoto chamado Peter Parker, que virou pó em seus braços. O homem aranha fora enviado no último minuto para Wakanda por Stephen Strange, mas nem assim as coisas funcionaram direito. Ele nem conhecia Dália, porém, protegeu-a em seu último suspiro. Afinal, ele era um herói, e era esse seu dever. Dália sentia uma falta insuportável de Syn, ansiava poder vê-la novamente, mas sabia que era impossível. A deusa estava morta.

       Em dado momento, Dália se pôs a observar o céu daquela noite. Estava radiante e incrivelmente brilhoso. Dentre todas as estrelas havia uma que fora capaz de prender a atenção total da sakaariana. Então, Dália chorou. E chorou como nunca. Mas era de felicidade. Seu coração se aqueceu no momento em que ela soube que aquela estrela, a mais bonita de todas, era Syn em sua forma celestial. Porque a guardiã da justiça sempre estaria lá, fosse em sua tristeza ou felicidade, e também estaria lá quando os heróis se reerguessem diante da derrota de Thanos.

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Fiz notáveis alterações em relação ao filme.
Espero que tenham gostado do epílogo, pois ele foi muito pedido.

        

GUARDIAN OF JUSTICE ༆ marvelWhere stories live. Discover now