Cotidiano

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A chuva caía lá fora desde cedo e não havia qualquer possibilidade de diminuir ou amenizar. Com isso, se viu obrigado a ficar em casa sem muito o que fazer. Não queria ir ao shopping, já que com esse clima, a cidade toda estaria lá, lotando cada corredor do prédio. Decidiu ficar em casa e aproveitar o dia na própria companhia. Passou no mercado para comprar um bom vinho português, queijo, alguns outros frios.

No mercado, observou algumas situações, famílias, casais e indivíduos, analisando seus carrinhos de compra e tentando adivinhar quem eram, o que faziam, sua personalidade, o que iriam fazer nesse domingo chuvoso. Era um exercício que adorava fazer sempre que ia a lugares assim, mercados, parques, shopping. Adorava essas variáveis nas pessoas, em um mesmo grupo com tanto em comum, pessoas com personalidades tão diferentes, ideais, sonhos. Enquanto pensava nessas questões, foi em direção ao caixa com a compra. No carrinho, além do que veio para comprar, colocou também uma caixa de charutos. Não fumava, mas hoje era uma excessão. Pagou a compra e foi para casa.

Chegando no Edifício Sheffield, onde morava, cumprimentou o Sr. Anderson, que pegava seu exemplar do Boletim Diário. Sr. Anderson era um advogado aposentado e escritor de crônicas do Boletim, gostava de contar histórias do que lhe ocorria no dia a dia. Anderson serviu na guerra do golfo, e também passou alguns anos peregrinando por alguns países do Leste Europeu e Sudeste Asiático, buscando conhecimento e cultura. Muitas das aventuras fazem parte de suas crônicas.

- Bom dia Sr. Anderson!
- Bom dia rapaz! Que chuva, han? O que vai fazer hoje, hein?
- Acabei de voltar do mercado, comprei um vinho, queijo, alguns frios e uma caixa de charutos. Vou ficar na minha sala, assistindo alguns filmes, documentários. Quer ir?
- Vinho, comida e charutos? Claro, claro! Daqui a pouco subo rapaz, obrigado.
- Até logo então!

Foi ao elevador, entrou e apertou o botão do 5° andar, subiu e entrou pro apartamento. Tirou o calçado, e colocou o chinelo velho que usava para ficar em casa e foi até a cozinha.
Colocou as compras na mesa, tirou o vinho e o colocou na geladeira, o charuto deixou na bancada e pegou o queijo e os frios. Deixou eles no balcão, e foi até a sala colocar uma música para tocar. Ao som de led Zeppelin e AC/DC, cortou os frios no balcão da pia e montou eles numa tábua fria que trouxe de sua viagem ao Japão. A tábua era decorada com símbolos e desenhos da cultural nipônica, e só era usada em ocasiões especiais. Montou a mesa de centro da sala com o vinho, as duas taças, a tábua de frios e a caixa de charutos.

Logo após aprontar a mesa, a campainha do apartamento 52 tocou, e ao abrir a porta, o Sr. Anderson entrou:

- Pois bem rapaz, pois bem, vamos tomar aquela taça de vinho! Tenho bastante coisa pra lhe contar, sabe? Fui convidado para escrever um livro de contos por uma editora.
- É mesmo? Puxa, que legal. Me conta...
- Vamos sentar, melhor, temos bastante conversa pra pôr em dia. Não fazemos isso há uns quatro meses? Venha...

Fechou a porta, e ambos sentados no sofá da sala, colocaram um filme estrangeiro, eram os preferidos do velhote. Puseram a conversar, era uma das coisas que mais gostava, quando o Sr. Anderson, 52 anos mais velho, lhe contava as experiências de vida, que muitas vezes usava de base para seus contos e crônicas do jornal.

- E então, André, como vai a faculdade de cinema?
- Bem, eu...
André e o Sr. Anderson ficaram conversando por horas, tantas que escrever aqui levaria muito tempo e habilidades que só o próprio Sr. Anderson tem.

Contos e Crônicas: histórias tediosas do cotidianoWhere stories live. Discover now