Capítulo 2 - A culpa é dos elevadores

2.9K 361 174
                                    

Pela janela do apartamento eu via o cair da tarde na Avenida Paulista

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.




Pela janela do apartamento eu via o cair da tarde na Avenida Paulista. O céu estava nublado mas o calor do verão não cessou por um momento sequer. O décimo sétimo andar permitia uma vista privilegiada para boa parte da região central de São Paulo.

Eu não gostei da ideia de morar em um apartamento, já estava acostumada com as casas amplas de San Diego. Eu tinha minha própria varanda virada para o lado do mar e acho que nenhuma das minhas sonecas aqui pode me proporcionar a calma na alma de dormir com o barulho das ondas quebrando no fundo.

Minha mãe e eu fizemos três viagens até a portaria do prédio para pegar as sacolas das compras que fizemos no mercado que ficava logo na esquina da rua do prédio. Era meu primeiro dia morando em um lugar com elevador e eu já estava odiando. Talvez pelo fato de ele se mover em uma velocidade quase que negativa o que vai totalmente contra as leis da física mas é totalmente plausível devido ao tempo que eu gastei para descer até o térreo.

Além do mais, eu nunca gostei de elevadores.

São caixas de metal que vão pra cima e pra baixo com pessoas dentro. Na maioria das vezes, você fica rodeada de pessoas velhas ou com bebês no colo e um cheiro desagradável começa a se espalhar por todo canto. Depois disso, o além do silêncio desconfortável, temos o cheiro desagradável e tudo só vai ficando cada vez mais esquisito.

Mas a culpa não é de ninguém, é do elevador. Além do mais, nenhuma boa história começa em um elevador.

Meus olhos estavam atentos aos números do painel eletrônico na parede da caixa de metal. Haviam se passado apenas três andares e eu encarava os números vermelhos pontilhados como se os pressionasse a ir mais rápido, o que definitivamente não estava funcionando.

Eu definitivamente não estava pronta pra isso. A mudança, o prédio, carregar compras tão pesadas, tudo. É tão confuso estar de volta e em condições tão diferentes. Pelo reflexo do espelho atrás de mim, vejo uma Elis totalmente diferente com roupas confortáveis demais para serem bonitas e com um cabelo que passava perto de se tornar um lar para pássaros.

Essa não sou eu, é algum tipo de clone zumbificado com óculos redondos no topo da cabeça. Como se o universo tivesse decidido que hoje não é um bom dia para viver. Como se nada mais estivesse sob controle, incluindo o meu cabelo.

O elevador apitou. Olhei esperançosa para o painel para ficar desapontada logo em seguida ao ver um cinco onde gostaria de estar vendo o número 17 brilhando no painel.

A porta do elevador se abre com a mesma lentidão da movimentação do mesmo, e então volto meus olhos para a tela do meu celular.O Instagram de Antônio estava praticamente aberto por todas as vezes que eu olhei meu celular durante os últimos dias. Ele parecia diferente, com os olhos azuis contornados por olheiras profundas e o cabelo ainda maior do que eu me lembrava. Parecia diferente demais e por um segundo, me preocupou profundamente o fato de ele não ser mais o mesmo. Mas como ele poderia ser? Anos se passaram, cobrar que alguém permaneça congelado esperando pela sua volta é um pouco egoísta da minha parte. Respirei fundo e enfiei o celular de volta no meu bolso.

ExageradosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora