Capítulo 21 - Parte Dois

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As risadas ecoam no quarto.

— Você é maluca! — Exclama Penny, inclinando-se sobre sua barriga.

Faço cosquinhas nela, ganhando mais gargalhadas em troca, e trago-a de volta para meu colo, de onde ela escorregou em meio suas risadas, num gesto carinhoso automático que, embora ainda me desconcerte, não me incomoda mais. Abraçamo-nos para continuar a ouvir nossa animadora oficial.

— Eu sei, foi hilário —, continua Frida, contando mais uma de suas peripécias com as Protegidas de sua Cidade. — O mais engraçado foi ver o cabelo dela, na semana seguinte, metade rosa metade laranja, onde ela tinha tentado tirar a cor com água oxigenava.

Sorrio para as duas, relaxada como não estive nos dias que se passaram.

Estamos com os Cae há cinco dias, mas parece que faz muito mais tempo que isso. O suposto ataque que, por sorte, não presenciamos, aconteceu ontem — sem que tivéssemos nenhuma informação sobre sua resolução —, e parece ter sido esquecido por todos. Como toda a tarde nós passamos confinadas na Sala dos Sofás, nome que decidimos atribuir carinhosamente ao pequeno salão que nos serviu de confinamento, e na biblioteca com Samantha, o dia de hoje é, na verdade, o primeiro que estamos vivendo a rotina da mansão para valer, com um bônus de ter a parte da manhã livre por uma reunião não planejada com nossos instrutores e responsáveis.

Por que sinto que eu deveria estar presente?

Desde a noite anterior, minha cabeça dói, uma pontada discreta, mas insistente, nas laterais de meus olhos. Não acho que seja premonição ou qualquer coisa assim, apenas o terror por ter visto uma garota parecida com Alina. Meu interior entende como uma sensação natural de uma estrategista — ou paranoica, como preferiria denominar — em frente um problema. Tenho medo do grito constante de meu instinto em meus ouvidos: um irritante e alto "cuidado!".

— Aqueles biscoitos de aveia que serviram de manhã estavam incríveis, vocês não acham? — Pergunto quando Frida para de falar, afastando as reflexões inúteis que não me levarão a lugar algum.

— Jerome fazia uns em casa. Era a melhor coisa —, Frida afirma, voltando a tomar conta da conversa. — Inclusive, teve uma vez em que eu...

Elas retornam à sua tarefa de tagarelar sobre brincadeiras e travessuras de cada uma, como se fossem duas crianças, ao invés de uma criança e uma adolescente. Deixo-as ali para dirigir-me à cama vazia de Chia, que deve estar conversando com Samantha, como disse que faria.

Eu não lhe disse que considero isso uma perda de tempo. Não disse que gostaria que ela não criasse expectativas sobre ver seu irmão novamente. Não lhe disse que, se não há pistas nem nada, é melhor se conformar que não há mais o que procurar. Não disse que preferia vê-la deixar isso de lado, pois somos sua nova família agora. Não disse nada porque não quis ser cruel, por mais que considere minhas considerações verdadeiras. Então, abstive-me em vislumbrar sua expressão entristecida e assenti como uma boa amiga faria, aceitando seu abraço apertado e lhe desejando sorte.

Após o ataque, Chia tem estado muito distante. Vejo-a divagar muitas vezes, perdendo pedaços de conversa. Noto que olha para longe quando acha que não estamos prestando atenção nela. Por isso, por preocupar-me com o que está se passando com minha amiga, calo-me.

Não verbalizei meus pensamentos nem minhas preocupações a cada vez que Chia disse que procuraria Sam para ver se algo novo surgiu. Não expus meu sentimento de que, no instante em que Lorenzo quebrou sua promessa de proteger-nos e lutar para nossa união, no momento em que me deixou para traz na Sétima Cidade, no segundo em que permitiu que sua irmã acreditasse que eles haviam me perdido, Enzo deixou também uma parte do que fazia dele, bem, ele. E se, de fato, eu estiver certa, não sei como Chiara lidará com a perda do segundo irmão.

No fim, tê-lo conosco ou não, não é minha maior preocupação.

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