Four Seasons - JJK

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-Eu te prometi até o final do verão Jeon... Acho que temos tempo até lá! -Harmony confere o horário em seu relógio de pulso, apoiando seu corpo nos braços.

A garota parece guardar o silêncio para si por certos minutos, agindo como se estivesse sozinha ali, com seu olhar voltado para a água a nossa frente, e os pequenos barcos turísticos que ali passavam. Durante tantos dias nunca fui capaz de decifrar o que seus olhos diziam, Harmony falava com os olhos mas tinha o costume de deixá-los mudos, guardando o mistério de tudo o que sentia. Entretanto, hoje ela lhe dera alguma liberdade, baixando sua guarda e deixando que um pouco de si escapasse por eles, talvez uma tranquilidade mista a melancolia, como quando aceitamos algo que é doloroso para nós, mas sabemos que o melhor a se fazer é aceitar.

-Estamos aqui desde o começo do verão Jungkook, e estava me perguntando o que sei sobre você? Além de quê se tornará um idol e que seu avô fazia parte da orquestra... - ela quebra o silêncio, ainda com seus olhos fixos na paisagem.

-Então conhece muito sobre mim Harmy. -respondo finalmente atraindo seu olhar.

-Posso afirmar com toda certeza que não. Antes de chegarmos até aqui passamos por situações que nos trouxe onde estamos Jungkook, essa é a nossa história, ela nos diz quem somos, sua história não pode se restringir a apenas ser um idol e seu avô. Não jogue ou desvalorize seu passado desta maneira, conte sua história enquanto as pessoas possam ouví-la, Jeon!

-Tudo bem, não existe muitas coisas que eu possa contar como diferente, eu me tornei um trainee com quinze anos, me disseram que eu tinha um potencial para ir além e que precisava amadurecer antes, desenvolver todas as minhas habilidades e depois de um certo tempo decidiram que eu deveria vir a Paris, como um último treinamento.

-Como se conectou com a música Jungkook, o que a fez escolher? - Harmony caminha cada vez mais para uma conversa intimista.

-Talvez seja meu avô o grande culpado. - apoio meu rosto na palma da minha mão tentando ter uma mínima lembrança. -Eu me lembro quando fomos assistir seu último concerto e aquela seria a primeira vez que ele voltaria para a casa junto a nós, quando saímos e eu o vi, corri diretamente para abraçá-lo. Ele se abaixou a minha altura e me entregou sua velha batuta e me disse que no dia seguinte me mostraria algo novo. Avôs geralmente apresentam uma bola aos seus netos e os levam para aprender esportes, meu avô me apresentou uma batuta e me ensinou a amar a música.

-Está vendo Jungkook?! Era disto que eu estava falando!

-Tudo bem, mas acho que pode ter coisas muito melhores para contar Harmy, uma garota surda na música? Com certeza você não caiu aqui de repente...

A musicista olha para cima por minutos, talvez tomando as mesma lembranças que eu, e quando retorna seu olhar para o nosso panorâmico, sua mão sobe até o seu cabelo, soltando a parte semi presa. Então meus olhos se direcionam para o mesmo lugar que o seus, um grupo de crianças que passavam próximos a nós, olhavam impressionados para o aparelho em seu ouvido. Mesmo depois de anos convivendo com este auxílio Harmony ainda tem vergonha.

-Bem, não posso lhe dizer como foi para mim descobrir que eu era surda, pois nasci assim. Um bebê ao qual nada podia acalmá-la quando chorava, que parecia não desenvolver como outros, não falava e não demonstrava as coisas de outra maneira que não fosse chorando. Meus pais me levaram em diversos psiquiatras, eles até tinham noção do que realmente poderia ser, mas era mais fácil aceitar uma filha com problemas cognitivos, do que uma surda que não poderia amar a música como eles. Eles não sabiam muito como lidar com isso, como acalmar uma criança que não ouve se a única terapia que conheciam era a música?

As cores de uma vozWhere stories live. Discover now