Solto um longo e profundo suspiro ao sair de minha sala, e permaneço fitando o chão à medida que coloco um pé na frente do outro para sair daquele lugar.
Não acredito que isso aconteceu. Quero dizer… não é novidade eu bater nas pessoas, mas não acredito que eles me expulsaram. A culpa não era minha. Apesar de nunca ter verbalizado isso, sempre deixei bem claro que não gostava de conversar com ninguém, então é óbvio que me tornaria agressivo se alguém tentasse me abordar… as pessoas já estavam avisadas, o expulso não deveria ter sido eu.
Entretanto, agora não adiantava chorar pelo leite derramado. Não é assim que se faz um bolo. A questão é: tinha que me adaptar. Fui expulso da minha antiga escola? Ótimo. Agora tenho que me adaptar a essa nova… por mais difícil que isso pareça ser, vou ter que passar pelo início mais uma vez, porque você não entra pra faculdade de gastronomia se não tiver o Ensino Médio completo, não é mesmo?
Pelo menos, podia dar a mim mesmo o prêmio de consolação de que já tava acabando. Digo, a escola. Se passasse esse ano, poderia fazer a prova pra entrar na faculdade e, se tudo desse certo, boom. Sucesso. Tanto financeiro quanto espiritual. Talvez até ganhe um programa de televisão ou cozinhe para o presidente.
Os pensamentos e sonhos parecem desaparecer da minha mente assim que abro a porta de casa. Solto mais um suspiro cansado e, antes mesmo de ir para o quarto, cato as latinhas de cerveja amassadas que estavam em cima da mesinha de centro e as coloco dentro de um saco. Faço uma nota mental de levar aquilo pra fora quando o caminhão de lixo passasse.
Depois disso, enfim adentro meu quarto e fecho a porta atrás de mim. Tiro a mochila de meu ombro e a jogo de qualquer jeito no chão.
Honestamente falando, a última coisa que eu vou me preocupar é com meu material escolar. Simplesmente não importa. Nada daquilo, até ali, importava. Tudo o que faria na minha vida adulta não inclui nada que já aprendi e vou aprender na escola. O que eu faria está na cozinha, e as ferramentas que usaria cortam muito mais que uma tesoura sem ponta.
Isso muitas vezes me fazia pensar seriamente em desistir de tudo. Tipo, largar os estudos e tudo o mais… porque não fazia o menor sentido continuar. Fora o lance da faculdade, não tinha literalmente nenhuma outra razão para continuar acordando dia após dia me sentindo como um pedaço de lixo, andar até aquele projeto de manicômio juvenil onde a grande maioria dos alunos e professores fediam, me sentar em uma cadeira que claramente não era para seres humanos com mais de 1.75m e olhar a manhã inteira para pessoas que obviamente me detestavam e que, assim como eu, também não queriam estar ali.
Mas tinha que continuar se quisesse entrar para a faculdade de gastronomia, não é? Teria que terminar isso se ainda quisesse me tornar um chef profissional.
E, de preferência, terminar sem amassar a cara de mais alguém.
Não que me arrependesse, porque eu definitivamente não me arrependo, mas… ainda era uma droga ter sido expulso e ter que passar pelo processo todo de novo. Pelo menos, minha reputação já estava péssima o suficiente para que ninguém tenha ao menos me encarado diretamente hoje, então acho que vou ficar bem até o final do ano.
Abro a geladeira e me deparo com os restos do frango que comi no jantar de ontem. Levanto as sobrancelhas.
“É, sua hora chegou, amiguinho.”
Murmuro para mim mesmo, e me encosto na bancada enquanto esperava a comida esquentar no micro-ondas. Precisava limpar aquela cozinha ainda naquela semana, porque tava tudo uma completa bagunça e as paredes cheiravam à gordura. Aquele era meu cômodo preferido naquele lugar desgraçado, então não podia simplesmente deixar com que virasse um chiqueiro.
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I'm So Sorry I Been Gone | Ryden
FanfictionBrendon é um garoto autista de dezesseis anos. Entretanto, prefere ver o mundo de um jeito bom, e, em sua visão, tem a melhor vida que qualquer adolescente poderia querer: notas altas; pais amorosos; incontáveis amigos, e um deles, Dallon, o consegu...