One (B)

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"Eu não sei. Ele parece... sei lá. Ouvi que não conversou com ninguém. Tipo, nem na sala dele e nem na escola inteira."

Fito o garoto novo com os olhos semicerrados. Parecia apático, para dizer o mínimo.

Já havia alguns dias que ouvia falar sobre o tal garoto novo na turma acima. As pessoas gostam de inventar rumores sobre as outras, e com ele não era diferente: mesmo eu não sabendo quem era, já tinha ouvido pelos corredores todo tipo de coisa a respeito dele. No entanto, essa foi realmente a primeira vez que vi o garoto no refeitório.

Ele era... diferente. Magro, alto... não tanto quanto meu melhor amigo, é claro, mas ainda assim mais do que eu. Haviam bolsões negros debaixo de seus olhos também.

"Parece que ele não dorme há um bom tempo..."

Dallon revira os olhos do meu lado, apoiando o queixo na mão, e quase consigo ouvi-lo resmungando baixo.

"Grande coisa. Eu não durmo há três semanas e você não me dá esse reconhecimento todo."

O olho, sem sorrir.

"Isso é sério, para de fazer piada... geralmente quem faz isso sou eu. Você tá bem?"

Seus olhos azuis se reviram de novo, em um sinal de puro mau-humor.

"Não enche. Agora não posso fazer mais piada?"

Dallon me empurra, e é claro que rio ao empurrá-lo de volta. Éramos assim: Brendon, o doce, e Dallon, o amargo. Dois lados opostos da mesma moeda.

Acho que é por isso que deu tão certo, afinal de contas.

As pessoas também adoravam falar como ele era uma pessoa azeda e tudo o mais, mas... elas não sabem metade do que se passa em sua vida. Não sabem como é triste... mas não as culpo. Não é como se ele saísse por aí berrando aos sete ventos que não é uma pessoa naturalmente animada, como eu sou. Na verdade, meu melhor amigo não falava com quase ninguém naquela escola além de mim, Patrick e pessoas bem seletas. Ele era tímido ao extremo, e basicamente se escondia atrás de mim quando eu puxava assunto com alguém... mesmo que fosse ridiculamente mais alto.

"Enfim."

Enfatiza, parando de rir e me encarando com preocupação.

"Não podemos falar com ele, tudo bem? É sério, Bren... ele é perigoso."

Suspiro.

"Por que, Dallon? Você sabe que não tenho preconceito com essas coisas. Quer dizer, você usa maquiagem e eu não sou como seu pai com relação a isso..."

Meu melhor amigo desvia o olhar. Ele se envergonhava, porque por mais que seja quem ele é, ainda assim magoava algumas pessoas ao seu redor. Um motivo um tanto aleatório para alguém se magoar, na minha opinião. Eu não ligava pra isso, Dallon poderia ser quem quisesse ser, desde que não fosse alguém do mal, mas não entendia o porquê dele estar sendo preconceituoso desse jeito com Ryan.

"Brend, ele bateu em um garoto na escola antiga até a pessoa quase morrer. E você sabe por que fez isso?"

Mordo o lábio, encarando o rapaz na outra mesa novamente. Ele não parecia ser tão agressivo agora...

"O garoto falou com ele. Foi isso o que aconteceu. Acho que o nome era Spencer, ou alguma coisa assim. Ele disse 'oi'. 'Oi', Brendon!"

"Shhhhhh! Fala mais baixo, ou ele vai ouvir."

Meu melhor amigo suspira, passando a mão pelo rosto. Mordo o lábio.

"Ele... fez isso mesmo?"

Dallon levanta o olhar, assentindo com veemência e jogando as mãos pro alto em sinal de desespero.

"Sim! Ele teve até que ser levado praqueles hospitais fodões em New Jersey... aqueles das máquinas grandes que a gente viu no livro de ciências esses dias."

Franzo a testa. As máquinas eram realmente bem grandes. Para fazer exames, eles disseram, mas que tipo de coisa não era feita dentro de um trambolhão daquele tamanho?

"De qualquer maneira, como você pode ter certeza do que aconteceu? Como pode ter certeza que ele não mudou? Qual é... ninguém merece ser tão triste assim, Jim... sei que você concorda comigo."

Ele adorava quando o chamava pelo apelido, apesar de não ser o maior fã do mundo da pessoa de quem herdou o nome "James". Entretanto, Dallon não cede.

"Brendon, a gente não vai falar com ele. Tudo bem?"

Diz, uma mão no meu ombro. Geralmente não gostava quando as pessoas me tocavam, mas Dallon era um caso à parte. Era meu melhor amigo, parecia até ser uma parte de mim mesmo, então não me importava. Entretanto, ele suspira assim que vê minha expressão.

"Olha, se percebermos que ele não vai machucar ninguém, então a gente tenta conversar, tudo bem? Só... quero me impedir de quebrá-lo na porrada se tocar em você."

O garoto de cabelos castanhos alisa o próprio ombro em um ato de orgulho. Reviro os olhos. Todo mundo sempre dizia o quão maduro ele era, mas não faziam ideia do quanto Dallon é bobo às vezes.

"Tá... tudo bem. Mas se ele não bater em ninguém até o fim da semana, a gente vai conversar, beleza? E aí você não vai mais poder adiar isso."

O mais alto suspira, cansado.

"Tá bom... enfim, vamos pra sala, daqui a pouco o almoço vai acabar."

Me levanto e pego minha bandeja, a deixando no balcão da cantina.

"Vai lá pra casa quando a gente sair?"

Dá de ombros, então assente.

"Claro. Minha mãe não tá em casa, então não tem problema."

I'm So Sorry I Been Gone | RydenWhere stories live. Discover now