Angustia

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A manhã chegou, e eu e meu irmão tivemos que ficar na casa de Karol até segunda ordem, já que a nossa mãe teve uma overdose de álcool na noite passada, a fazendo ir para o hospital com ajuda da minha irmã, a qual minha mãe quase espancou pelos mesmos motivos de sempre: achar que minha irmã estava gravida e não contou nada.

A convivência com minha mãe era extremamente complicada, ela fazia barraco por tudo, cuidava demais da vida dos filhos dos outros, mas quando se tratava dos filhos dela, ela simplesmente nos botava de lado, e só se importava quando o assunto era notas da escola, e a forma como nós nos vestíamos, mesmo assim minha irmã nunca deixou de amar ela, já eu nunca tive a oportunidade de confiar na minha própria mãe, depois que ela começou a desconfiar sobre minha sexualidade e identidade de gênero tudo ficou mais difícil, ela fofocava de mim para suas amigas, mas nunca chegou a conversar comigo sobre, me deixando confuso e desnorteado por um tempo da minha adolescência.

Almoçamos na casa de Karol, dona Nelci fez bastante comida para nós, e ficamos até o anoitecer na casa, sabendo que se voltássemos cedo demais seria o mesmo inferno de sempre, minha irmã estava cuidando da casa enquanto meu outro irmão estava no hospital com minha mãe, foram quase dois dias sem minha mãe em casa, e posso arriscar dizer que foram os melhores dois dias da minha adolescência, ficar em casa com minha mãe ou estar no mesmo cômodo que ela era sinônimo de incomodo, ela fazia questão de me dizer que eu era o pior filho dela, que eu nunca fazia nada certo, depois de um tempo eu comecei a simplesmente ignorar tudo que ela dizia de mal sobre mim, não me importava mais com nada do que ela pensava sobre mim, comecei a andar colado no Ryan, afim de que ela percebesse que eu não me importava com o que ela falava, pois ela também falava mal do Ryan, para ela, nós éramos os problemáticos, ovelhas negras da família, o que já não era um exemplo de família ''perfeita'', se tornou algo mais bagunçado ainda, nós nunca andávamos todos juntos na rua, e a única vez que o fizemos, olhares questionáveis eram dirigidos a nós a cada passo que dávamos, o que me fez associar a vergonha que minha mãe sentia pelos seus filhos, a tamanha importância que ela dava a opinião alheia, mesmo que fosse a mais fútil possível.

Já era quase madrugada de domingo quando nossa irmã apareceu na frente da casa de dona Nelci, nos obrigando a voltar para nossa própria casa, e ainda discutindo com dona Nelci pois a mesma queria que nós ficássemos até a tarde de domingo, para evitar discussões.

Fomos obrigados a ir para casa e não pudemos fazer nada para impedir, logo quando chegamos, vimos minha mãe, deitada no sofá vendo um programa qualquer de domingo.

Quando ela nos viu, parece que ficou com sangue nos olhos de raiva, se levantou com um pouco de esforço e já foi nos ofendendo, mas para mim aquilo era normal, já que todo dia eu era ofendido e discriminado por ela, minha irmã e meu outro irmão, assim como acontecia com Ryan.

- O que vocês pensam que estavam fazendo na casa dessa amiguinha da Anastácia? Estão pensando que a vida é fácil desse jeito? Que quando eu chegar é pra fugir para casa de amigo? A vida não é fácil não! Da próxima vez que eu chegar do bar, quero vocês AQUI, entenderam?! Se eu descobrir que foram para casa da Karol de novo, vocês vão apanhar de não conseguirem levantar por 3 dias, fui clara? – Ela dizia tudo como uma general, e isso me deixava furioso, eu tinha uma imensa vontade de mandar aquela mulher a merda, mas era capaz de eu parar no hospital se o fizesse, e o medo de ficar sem teto era maior ainda, já que se eu ofendesse minha mãe, ofenderia a dona Nelci também, por que minha mãe era uma naja e tinha total noção disso, ela era muito amigável com a família da Karol, mas virava outra pessoa quando estava com os filhos, ela mentia uma vida toda para a dona Nelci, só para parecer mais amigável, o que me fazia me retorcer de nojo e desgosto da minha própria mãe.

Apenas concordamos com a cabeça, em silencio, Ryan estava quase espumando de raiva e eu podia ver nos seus olhos a angustia, e a sensação de estarmos sendo presos em cativeiro pela nossa mãe, que fingia tanto ser um exemplo de boa influência e exemplo quando estava com outras pessoas ao redor...

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⏰ Last updated: Jun 21, 2019 ⏰

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Meu nome é OliverWhere stories live. Discover now