Capítulo 12 - O moço mais filosófico de Seul

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Taehyung era a pessoa mais diferente que Elis já chegou a conhecer.

Eles passeavam pelas ruazinhas de pedra da Aldeia Hanok de Bukchon* com o rapaz apontando aqui e ali lugares específicos que despertavam nele alguma lembrança aleatória. Às vezes, Elis tinha a impressão de que ele começava contando uma história para ela, mas se perdia em algum lugar no meio do caminho e, sem perceber, já engatava um novo pensamento e tudo virava uma confusão de datas e informações que chegava ser gostoso de se ouvir.

—Foi aqui que eu conheci o Hoseok, numa excursão da escola.—  Ele contou quando se sentaram do lado de fora de um charmoso café.  —Acho que a gente tinha uns treze anos? É. Algo assim. Ele não parava quieto e as professoras colocaram ele de castigo, pra minha sorte eu não tinha nenhum outro amigo e ficava sempre na mesa que sobrava, que era exatamente a mesa do castigo.—  Ele riu de um jeito afetuoso.  —Aish Hoseok, sempre aprontando.

—Ele parece tão responsável agora. Na verdade foi bem estranho ver ele de moletom ontem.— Elis disse também rindo.

—A vida mudas as pessoas, Elis. Hosek mudou muito. Às vezes a gente não tem muita escolha.

Seu olhar ia se perdendo no horizonte a cada palavra pronunciada. Ela não queria interromper seu fluxo de pensamentos, mas não podia deixar passar a oportunidade de perguntar algo que a vinha afligindo já fazia um tempo.

—Taehyung, por quê tem dias que ele está absurdamente feliz e no seguinte ele está claramente fingindo essa felicidade? Eu não quero ser intrometida, mas é que, sei lá, parece que ele tá sempre escondendo alguma coisa.

—E ele está, tem muito mais ali dentro do que ele deixa o mundo ver. No fundo vocês dois são muito parecidos, cheios de armaduras, talvez por isso se deram bem tão rápido. O que eu posso te dizer, Elis, é que a vida consegue ser muito cruel com aqueles que brilham, mas sorte do Hoseok que ele encontrou você.—  Ele fez uma pausa e ela sentiu uma certa frustração no suspiro que o rapaz soltou antes de voltar a falar. —As vezes nem eu sei muito bem como ajudá-lo. Mas e você, como foi que a vida mudou quem você é?

A súbita mudança de assunto deixou claro que aquele era um tópico delicado, e como Elis era quase uma Expert em se esquivar de perguntas pessoais, ela simplesmente deixou passar aquela. Ela sempre pensava muito bem antes de falar, temia as consequências de como suas palavras poderiam ser interpretadas, no entanto, o rapaz alto e loiro à sua frente sorria de um jeito aconchegante, desses sorrisos que dá vontade de morar dentro e que fazem a gente se sentir em paz pra falar o que vier na cabeça.

—Sabe quando o mar está de ressaca e as ondas ficam grandes e perigosas e os barcos ficam lá no meio sendo jogados de um lado pro outro? Parece que a minha vida inteira eu sou esse barco. Vir pra cá foi minha tentativa de encontrar um mar mais calmo.

Taehyung olhava fixamente em seus olhos e ela percebeu com clareza quando suas íris marrom escuro desceram na direção da sua boca. Rapidamente Elis desviou o rosto para o lado e sentiu suas bochechas esquentando. Vinte e quatro anos nas costas e ainda não sabia se comportar quando alguém demonstrava interesse. 

—Pra falar a verdade meus pais riram quando eu contei que vinha pra cá estudar.— Ela retomou a conversa antes que Taehyung tivesse alguma ideia doida. —Meu tio ficou animado. Ele me ajudou muito no início...ele praticamente me criou.— Ela retribuiu o sorriso que o rapaz lhe deu, encorajando-a a continuar. —E você, hein? Eu vejo você e o Hoseok passando tanto tempo juntos que dá a impressão de que um criou o outro.

—Foi quase isso, maas eu tenho uma outra família sim, que já existia antes dele, mas que acabou virando família dele também.—  Uma garçonete chegou e os interrompeu. Taehyung indicou à Elis suas opções favoritas no menu e fez sinal para que ela treinasse seu coreano fazendo o pedido. Quando a garçonete elogiou sua pronúncia ele lhe lançou uma piscadela que quase a derrubou da cadeira.

—O que eu tava falando mesmo? Ah é, verdade, minha família. Eu tenho um irmão mais novo de dez anos e um mais velho de trinta, é, é uma diferença considerável entre as idades. Mora todo mundo aqui, eles, meus pais, meus avós. Nasci e cresci em Seul, mas pretendo ir embora no futuro.

—Sério?! Pelo jeito que você fala da cidade você parece tão apaixonado por ela.

—Jincha! E eu sou. É só que tem tanto mundo lá fora. Olha só pra você. Eu acho muito foda quem se dá ao trabalho de sair de casa pra conhecer como que o mundo funciona.

—Foi um elogio velado?

—Não!— Um sorriso de canto se formou na sua boca. —Foi muito direto. Eu não teria porque fingir que não gosto de você, Elis.

Eles se despediram com um abraço e Elis deu graças a Deus que os coreanos não tem o costume de beijar no primeiro encontro porque ela ainda não havia se decidido se estava preparada pra isso. O dia ao lado do amigo fashionista passou voando porque a conexão entre os dois era inegável. Taehyung preenchia todos os vazios da garota sem deixá-la desconfortável. Mesmo assim, ainda tinha alguma coisa faltando ali.

Ele insistiu em levá-la até seu apartamento, mas ela gostava de andar por aí sozinha depois de um dia tão intenso. Precisava respirar um pouco antes de entrar no seu minúsculo quarto. Vinha sentindo muita falta do espaço que tinha no Brasil. Será que conseguiria morar mais dois anos num quartinho daquele? Estava tão distraída que, na hora de fazer a baldeação, ela se perdeu na estação de metrô. Já passava das sete da noite, estava escuro e meio vazio. Ela olhou ao redor preocupada. As poucas placas de sinalização existentes também não ajudavam muito.

Antes mesmo que pensasse em qualquer solução ela decidiu sentar-se em um banquinho. Quando encostou as costas na parede e tirou os pés do chão sentiu-se extremamente aliviada. Não aguentava mais andar e já estava ficando com fome de novo. Respirou fundo tentando pensar no que fazer e olhou ao redor procurando por ajuda. Foi quando avistou um rosto conhecido e não pode deixar de rir. Parece brincadeira. Jeon Jungkook estava parado de pé encostado em uma pilastra com a cabeça abaixada, vidrado no celular. A boca do estômago de Elis se revirou de um jeito que não era só fome. Hesitou um pouco antes de se aproximar. Uma parte do seu cérebro tentava convencê-la de que falar com ele seria o jeito mais fácil de resolver seu problema, a outra parte tentava impedi-la, e uns cinco por cento queria se aproximar.

—Com licença.—  Ela pigarreou timidamente e o rapaz levantou o rosto assustado. Seus lábios formaram um sorriso enquanto ele tirava os fones de ouvido para cumprimentá-la. Ambos se curvaram antes dela continuar a falar. —Desculpa interromper, é que você poderia me ajudar? Eu tô um pouco perdida, preciso ir pra esse lugar aqui.—  E ela apontou um endereço na tela do celular.

Jinchaa!* É pra lá que eu tô indo. É só me seguir.—  Ele respondeu animado, mas com as bochechas em chamas.

—Ah!— Ela soltou aliviada. —Que ótimo.

...continua...

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Prepara que o próximo capítulo é grande!

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