amélia

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"Amélia, aquela mulher que é de verdade..."

, mas o que é ser de verdade? - Perguntei mais para mim mesma, do que para o bando de bocós que estavam me olhando como se fosse uma louca em plena sala de aula. O professor me encarava com o maior tédio que um adulto poderia depositar em uma garota de dezesseis anos, mas ele não sabia o quanto morri para fazer a simples redação dele, e simplesmente, lê-lá em voz alta - Ser de verdade não significa estar viva, em só carne e osso e respirando. Ser de verdade requer atitudes de verdade. Ser criativa, e não se importar com as opiniões alheias - Você já reparou o quanto é constrangedor ler na frente de uma sala inteira? Se não, um dia tente, é a piores da sensação.

Meu professor revirou os olhos quando mais uma vez, eu fiz uma pergunta retórica à sala de aula, que reagiu com enormes suspiros cansados e bufar de ares. Todos eles me olhavam como sempre olharam nesses últimos dois anos: "Por favor, saí daí". Não podia os culpar, realmente, eu era um sonífero ambulante. Na verdade, poderia culpar meu professor de Redação pelo resto da vida. Ele sempre fazia com que minhas redações ficassem por último. Acho que ele gostava do ódio que os outros alunos emitiam. Só podia ser isso.

— Tudo bem, Amélia. Bom texto! - Ele mentiu na cara dura, apenas virou o corpo de modo que pegou sua famosa caneta preta, onde rabiscaria minha nota em seu diário de turma. Pelo jeito rápido que fez os rabiscos aposto que ganhei um seis.

— Certo - Concordei de imediato e voltei ao meu lugar, segurando a folha em minhas mãos, onde estava escrito e depositando duas horas e meia pensando em algo descente para poder falar dessa vez.

Coloquei sobre minha carteira o pedaço de papel e observei o último a ler sua redação de "Como Ser Um Ser Humano de Verdade". Peguei meu celular e comecei a rir automaticamente quando observei mais um daqueles Tweets sem noção no Facebook. Sei que não era certo fazer isso com tal pessoa, mas Xavier não pensaria duas vezes antes de fazer aquilo comigo - tanto é que faz.

Com o final da aula, guardei meu material e me coloquei a esperar minha melhor amiga, Sabrina, no corredor principal. Onde um fluxo exaustivo de adolescentes se espremia para poder sair o quanto antes da escola, e poder curtir o feriado prologando. O feriado no qual eu agradecia a Bíblia e com certeza, ao Netflix, pelas maratonas que estou programando em fazer. Sabrina vinha com sua típica expressão de odiar todos e veio ao meu lado.

— Como foi? - Perguntei ajeitando a mochila sobre minhas costas e ajeitando os óculos com o nariz.

— Sabe, Am. Estou cansada de sempre estar na rotina - Começou, Sabrina, sempre tinha momentos de reflexões e isso sempre acontecia quando algo bom estava prestes a acontecer com ela, ás vezes, acho que minha amiga faz isso de propósito - Acordar. Escola. Depois simplesmente fazer a mesma coisa que uma criança, comer e dormir. E sabe, fazer suas necessidades. Arg, isso é tão... Baise*!

— Não, é não - Revirei os olhos, nem eu sabia o que estava falando - Olha, é só uma fase. Daqui há uns dias conseguiremos sair vivas do Ensino Médio e assim teremos uma linda e legal loja de artefatos de decoração de quartos de gatos fofos! - Juntei a mão ao lado de meu rosto, eu não gostava de gatos, e falar uma coisa absurda como desejo, ajuda a ver que sua vida não é tão miserável assim - O que você vai fazer hoje?

— Respirar.

— Profundo.

— Demais - Sabrina olhou ao redor. Já estávamos na rua, eu mal podia acreditar, ela reclamava tanto da vida, que nem percebia a minha se esvaziando por ai - Te vejo na próxima segunda-feira, Am.

— Até - Mandei um beijo no ar - Arrivederci**.

Au Revoir *** - Acenamos ao mesmo tempo.

de todos os amores | textWhere stories live. Discover now