nós não nos falamos mais

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Para Alejandro J. Carter,

Depois de uma briga extensa - durou dois dias - nós terminamos.

Na realidade, eu poderia falar com tamanha convicção que foi você que terminou comigo. No nosso histórico de conversa do Facebook ainda está as últimas três mensagens que eu enviei, as que você só teve coragem de visualizar e não responder. A última, de fato, a mais dolorosa. Duas palavras. Uma pergunta. "Vai dar?", uma pergunta que poderia haver duplo sentido se estivéssemos bem, mas não estamos. Estava perguntando se iria dar para nos vermos hoje, e tentar resolver pessoalmente nossas desavenças.

E não deu.

Não foi aquela coisa de não dar por estarmos realmente ocupados, não deu porque você não quis. Não botou fé. As duas últimas, enviadas ontem a noite, não doeram tanto. Sabe, você tinha essa mania quando namorávamos: visualizar e responder só depois. Vinha com coisas do tipo "Estava comendo", "Esqueci de responder" e "Estava jogando, desculpe". Sempre achei seu déficit de atenção uma graça. Hoje, se tornou torturante.

Quando acordei hoje de manhã, convicta que íamos nos encontrar hoje, e vi as mensagens visualizadas, eu botei em minha cabeça que não passou de nenhuma das desculpas anteriores. O casamento da sua prima está chegando, e eu achei que estivesse ocupado. Depois de meia hora pensando isso, tirei da cabeça, afinal, é a sua prima que vai casar, e não você.

Depois tive em mente que você estaria muito ocupado com seus amigos. Logo indaguei, quê amigos? Um está viajando, e o outro foi na sua casa anteontem, e não é costume eles irem dois dias seguidos. Depois coloquei em minha cabeça que você simplesmente esqueceu de responder. Claro, sempre aconteceu isso. Mas, assim que vi que você compartilhou três publicações no Facebook, ambas com diferença de uma hora, eu saquei que não havia comida, amigos, ocupação, nada. Não havia nada. Nem ao menos a consideração por mim.

Quando acordei nessa manhã convicta que íamos nos ver, vi que a última vez que tinha entrado no Messenger eram oito minutos atrás. Comecei a formular que roupa iria usar e até mesmo como iria aparecer tão bonita quanto a última vez que nos vimos. Comecei a fantasiar a tarde em minha cabeça, e já conseguia ver os sinais de reconciliação. Acordei às nove e cinquenta e sete. Enviei a última mensagem às dez.

Esperei na cama até dez e meia, eu não queria levantar, só queria levantar quando tivesse certeza que você mandaria mensagem dizendo "Pode vir". Esperei até onze horas, onze e meia, meio-dia, meio dia e meia. Quando deu uma hora da tarde, consegui saber que nosso tempo seria curto - mas você ainda não estava online. Quando deu duas e meia, foi quando me dei conta que não ia a lugar nenhum.

Levantei da cama, abri as janelas, e não aguentei com a claridade. Parecia felicidade, e eu não estou feliz. Fechei novamente as janelas e me enfiei no chuveiro. Vinte minutos depois, peguei meu celular.

Notificação do Messenger. Só podia ser você.

Era uma amiga minha, falando o quanto queria que eu fosse lá na casa dela hoje. Respondi com inúmeras risadas e emojis, e bloqueie o celular. Duas e quarenta e um foi a hora que você ficou online, e viu minha mensagem, e fez dela um nada. Duas e quarenta e sete foi quando comecei a chorar.

Os dois dias de brigas não havia derramado uma única lágrima. Mas me senti como se vários socos houvessem me derrubado de uma vez só ao chão. Foi quando desabei, passei a tarde toda em lágrimas. Sozinha num quarto escuro. Nem a televisão liguei, e nem as janelas abri, e muito menos sai da cama direito. Nem comer. Não senti fome de forma alguma.

Tentei me distrair, começar filmes que nunca havia começado como 500 Dias com Ela, que depois de um tempo pareceu babaca demais. Tirei. Fui para Naomi e Ely e a Lista do Não-Beijo. Tirei também. Netflix sugeriu dois shows de Stand Up Comedy, cliquei, e não aguentei nem cinco minutos. Minha cabeça girava.

de todos os amores | textWhere stories live. Discover now