você é minha?

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Para Arabella Edwin Bouvier,

Isso não é uma carta de amor.

É, você pode até pensar que sim, depois de todas as mensagens que a gente já trocou, e aposto todos os meus livros (aqueles que eu ganhei da escola, e não os que comprei com meu próprio dinheiro) que você está dando um belo de um sorriso convencido. Do tipo: "Isso realmente é uma carta de amor." E eu volto a repetir, não é uma carta de amor.

Quando eu me apaixonei por você, eu disse sim. Mas você disse não. Quando eu finalmente me coloquei em outros lugares, novas pessoas, e pude descobrir o que era. Você me disse sim, e eu disse sim. Afinal, eu havia dito primeiro, e achei que você pudesse estar me correspondendo pela primeira vez. Quando você disse sim, isso não queria dizer que diria não para outras pessoas, eu fiquei redondamente enganado. Mas eu não ia demonstrar para você, não mesmo, não faz do meu gênero me abalar da forma mais longínqua possível, e você sabe disso.

Terminamos.

Um ano se passou.

E ai, você disse não novamente. Eu disse não. E uau, parecia que tudo entrou nos eixos. É muito mais fácil renegar o amor, do que aceita-lo. Uma relação que sempre entramos em desaforo e discordâncias, entramos em um meio onde finalmente vimos que o melhor a ser feito era dizer não um ao outro. Parabéns para gente.

Separamos.

Uns messes depois.

Você disse sim, e espera um pouco ai, você sabe que eu tô namorando outra pessoa, sabe? E por que disse sim? Confuso. Estou tão confuso agora. Qual é mesmo meu nome? E porque insistimos em ficar sozinhos, sendo que nunca seremos bons amigos. Respirei fundo. Terminei com a tal pessoa. Ela era tão legal, fazia de tudo para mim, movia o céu, o mar, e o mundo todo para me fazer sorrir. Só tinha um único e incurável problema: ela não era você.

Eu disse sim.

Cai em meu próprio buraco, porque até então, você mudou de ideia e disse não. De novo? Quantos anos eu tenho para cair numa coisa dessas? Suspiro, suspiro, suspiro, penso e logo existo. Depois do ano novo, adivinha o que aconteceu? Você disse sim! E eu disse sim! Ok, tudo estava indo tão bem. Mas dessa vez, ninguém disse não. Não houve nada que pudesse atrapalhar... E, nossa, aquela menina realmente é muito bonita, você se lembra? E como tudo se tornou um não novamente?

Não estamos mais juntos.

Algumas semanas depois.

Você disse sim, e eu disse não.

Eu disse sim, e você disse não.

Estou tão cansado. Parece que sempre iremos ficar nesse ciclo vicioso de sim ou não.

Finalmente estou com outra pessoa, e você com milhares dela. Uma coleção. A gente se tornou tão amigo, que mal posso me ver sem você; estou com você de alguma forma, e a gente se completa nisso. Só você me entende, e parece que sempre esteve em minha vida, qual foi a última vez que não esteve?

Terminei com a outra pessoa, foram tantas brigas que fiquei desgastado até em comer ou dormir. Foi cansativo, triste e humilhante, e você estava lá e me fez rir. A gente se olhou nos olhos e a respiração foi perdendo tanto o fôlego que a gente sabia que aquilo significava um sim. Mas foi tão diferente do que das outras vezes.

Ta bom, ta bom, de todas as outras vezes sempre foi diferente. Mas dessa vez, é diferente.

É como se tudo ficasse ao nosso favor, e nenhuma resposta concreta fizesse a gente se alarmar. Se a gente se beija, tudo bem, isso não quer dizer nem um sim nem um não. Só beijos trocados por sentimentos. Se você me toca, isso não quer dizer que chegamos ao nível de outro relacionamento que a gente não sabe se vai dar certo, e um relacionamento que nunca existiu. E se existiu, como a gente nunca percebeu? E se existiu, saiba que nunca foi tão leve e belo como este que estamos vivendo agora.

É fato que um lugarzinho em meu coração sempre vai estar, e sempre será isso. Então, depois de passarmos tanto tempo juntos e vermos que sim, era isso que queríamos. Passar tempo juntos. Você disse sim, e eu disse sim. Porém, nada mudou ou saiu do lugar. Passei um mês sem te ver, e afinal, só percebi que me consumi de saudade no momento que te vi. Continuamos no sim. E passamos duas semanas sem nos ver, e eu só reparei que tinha sentido falta da tua voz quando ouvi sua gargalhada comigo. E era isso que faltava na gente: sentir mais.

E quando percebi que nós dois éramos feitos de sim, eu saquei que deveríamos ser de talvez. E nós dois somos feitos de talvez. Talvez dê certo, talvez não dê, e talvez você tenha me machucado quando pisou no meu pé quando descemos daquele ônibus um dia desses e não pediu desculpa.

Eu estou tão ansioso para saber o que talvez significa, que não estou preocupado com as outras palavras. Talvez é enorme, e nele pode caber a gente, e finalmente dar uma resposta para tudo o que vivemos.

Diferente das outras vezes, não estou ansioso demais para descobrir, ou ansioso para que o final feliz aconteça. Só indo descobrir com você já faz do nosso talvez especial.

E quando esse dia chegar, saberei que é minha.

Durma bem,

De Alejando J. Carter

de todos os amores | textWhere stories live. Discover now