#42 - Bruaz

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Pareceu coincidência, mas agora Gloanloi sabe porque escolheu ir a Bruaz ao invés das outras duas cidades. Foi puro instinto: Bruaz é a cidade mais a leste das três. É das três a cidade mais próxima do reino de Surdi.

"Será que me precipitei ao sugerir tal divisão? Talvez fosse mais sensato termos escolhido uma das três cidades e termos investido todos juntos em um único ataque. A vitória seria certa, mas perderíamos outras duas cidades para os clãs. Nada devo temer desta investida. Suno nos guiará à vitória."

A montaria alada do paladino finalmente pode descansar após esses dois dias tão intensos. Ele comanda os soldados montado em um cavalo normal.

Os homens tem pressa. Gloanloi vai na frente, conduzindo a tropa para um confronto de guerra, de uma guerra tão difícil desses tempos sombrios.

"Deveria invocar minha montaria novamente? Olhar a estrada... Se bem que não faz sentido. É claro que eles verão nossa aproximação de longe, mas que tempo teriam para se esconder? Os ladinos talvez, mas há ainda os bárbaros e todo o material que eles levam consigo?"

Os batedores param. Parecem ter encontrado alguém. Em pouco tempo o grupo os alcança e todos seguem. Eram viajantes inofensivos de Wimow. A viagem continua.

Os cavalos demonstram cansaço e o pique é reduzido. Reduzido, mas os homens ainda se deslocam com considerável velocidade.

"Olhando agora, não devia ter feito isso. Eve não parecia bem, estava cansada. Como se sairá liderando esses homens? Agora já não importa: a divisão foi feita e marchamos para o combate. Que o Bem triunfe!"

O tempo passa e mais uma vez o ritmo da cavalgada tem que ser reduzido para poupar os cavalos. Todos notam as feições preocupadas do paladino.

"Já devíamos ter alcançado aqueles criminosos! Ou não? Será que calculei errado? Ou então se tratava mesmo de uma armadilha para nos dividir? Será que eles se apressaram e já estão todos os grupos, nas cidades a essa altura, nos esperando?"

O Sol queima o chão sem piedade e a poeira seca sobe, erguida pelas patas de tantos cavalos.

Os olhos de Gloanloi acompanham pasmos a paisagem.

"Não pode ser! Plantações?! Será possível já estamos nos aproximando tanto de Bruaz sem termos qualquer sinal do exército inimigo?"

Pouco depois Gloanloi e o grupo param, encontrando os batedores que voltavam.

- Senhor, chegamos a Bruaz.

- Encontraram a cidade?

- Afirmativo, senhor. Logo que avistamos as plantações, decidimos galopar mais rápido para que pudéssemos obter informações na cidade.

- Perguntamos a algumas pessoas, moradores – o outro batedor completa - e ninguém viu o exército inimigo por aqui.

- Não pode ser. Eu os vi vindo nesta direção!

- Eles podem ter se desviado e tomado outro caminho.

- Não há outro caminho...

- Um caminho fora das estradas.

- Esperem um pouco.

Os soldados estranham quando veem Gloanloi fechar os olhos e abaixar levemente a cabeça.

O tempo passa e angustia os que veem, mas logo ele sai de seu transe e diz:

- Eles estão no caminho.

- Como sabe?

- Não importa. Eles saíram um pouco da estrada para nos despistar, mas já estão vindo. Vamos encontrá-los. Dessa vez devagar.

O grupo prossegue. Gloanloi aproveita para, de tempos em tempos, fechar os olhos e focar à frente, confiando que o cavalo continuará o percurso.

De repente, eles param.

- O que é aquilo?

- Parece Bruaz.

- Não pode ser! Bruaz ficou para trás!

- Então é o quê?

- Está um pouco embaçada, não? É uma miragem?

- Não é Bruaz. - Gloanloi alerta. - Preparem-se para a batalha! Todos de armas nas mãos!

Sacando sua espada, ele grita e parte, contaminando os soldados com um entusiasmo sem tamanho. Entusiasmo que não salva aqueles seguidores dos dardos que vêm não se vê de onde.

E um grito de guerra vibra logo a seguir: são os bárbaros que aparecem do nada, como por obra de magia, diante dos soldados de Wimow.

Gloanloi é derrubado do cavalo enquanto tentava aparar um golpe de machado, golpe que destruiria seus músculos caso ele não fosse um guerreiro das forças divinas, que destruiria sua espada caso fosse uma arma normal.

De pés no chão, o brilho e imponência de Gloanloi parecem nunca terem sido tão imensos. É quando sua voz ecoa por todo o lugar.

- Vocês tem o direito de se arrepender do mal que fizeram! Façam isso e eu os pouparei!

Por um momento não há resposta e Gloanloi fecha os olhos.

"Então este é o truque..."

Ele abre os olhos e não vê ninguém, mas sabe o que está havendo. Saltando para a frente, golpeia o ar. A espada se suja de sangue, enquanto o corpo de um bárbaro de Klavorini Sul cai, aparecendo do nada.

"Eles têm um ilusionista! Isso explica muita coisa."


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