#11 - De Volta às Origens

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Já é metade da manhã quando Zand chega à pequena cidade de Uah. Seus olhos contemplam aqueles terrenos, aquelas plantações, e trazem de volta momentos da infância. Sim, ele já trabalhou aqui. Ele já viveu aqui, há muito tempo.

Plantações diversas, mas poucas comparando com outros lugares. Um povo simples, que vive do que planta e da pesca. O excedente que não vire impostos é o que garante utensílios, móveis e construções, quando são necessárias.

Cães começam a latir quando Zand se aproxima de uma casa de barro. Logo um rapaz forte e de jeito simples aparece à porta.

- Bom dia!

- Bom dia.

- Pode me dizer se o senhor e senhora Fangyat se encontram?

- Ah, eles não moram aqui não, moram mais ali pra frente.

- Então se mudaram... - Zand comenta, pensativo.

- Não que eu saiba, mas vá lá que não tem erro não. É só seguir ali direto.

Zand agradece e segue vendo a paisagem. Seu caminho o leva por uma pequena elevação, de onde ele pode ver o mar ao longe.

"Como está tudo diferente... E aquele pequeno castelo ali? As coisas estão mesmo diferentes."

- Bom dia?

- Oi.

Para decepção de Zand, quem o recebe na casa é uma menina de dez anos.

- Aqui é a casa dos Fangyat?

- É sim.

- Gostaria de vê-los.

- Quem é o senhor?

Zand fecha os olhos e suspira. A menina desiste da resposta e corre pra dentro de casa chamando "mãe".

Uma mulher aparece desconfiada. Jovem, ao menos tanto quanto ele próprio.

- É a senhora Fangyat?

- Sim, e você quem é?

- Não pode ser... Qual seu nome?

- Sou Xepyana. O que você quer afinal?

- Xepyana... Xepyana...

Zand tenta se lembrar desse nome, mas nada lhe vem à mente.

- O que é isso aí? - Ela pergunta.

- É uma lira.

- Hmmm... Qual o seu nome?

- Bom, eu acho que errei de endereço. Me chamo Zand.

- Zand Fangyat.

- Isso mesmo. Como sabe?

- Globru me falou de você. De como tinha saído pelo mundo em busca de aventuras. Vamos, entre!

Zand puxa da memória e finalmente recorda. Claro! O primo que morava perto da praia! Era dois anos mais velho e muito mais interessado em trabalhar e juntar dinheiro do que qualquer outra coisa.

Zand deixa a montaria e eles entram e se sentam num jogo de sofás.

- Ora, Globru falou de mim?

- Sim, claro! Vez ou outra ainda se lembra e comenta "como estará meu primo, Xepyana? Nunca mais tivemos notícias."

- Que bom! Mas lembro que ele nunca se interessou por aventuras, que achava meus sonhos fantasia demais para um adulto.

- Que nada! Ele te admira muito! Vai ficar muito feliz em vê-lo! Ei, Fran, venha cá! Esse é seu primo Zand!

A menina que o atendeu vem correndo e o cumprimenta desconfiada. E vai para perto da mãe.

- Quer alguma coisa? Café, água, bebida...

- Aceito água, obrigado.

- Pega lá pro primo, Fran!

- Então você e Globru é que são o senhor e senhora Fangyat...

Xepyana o encara pensativa por um tempo. Abaixa a cabeça e coça a nuca, antes de olhar de novo para ele.

- Acho que estou entendendo. Você esteve fora muito tempo, não é? Deve ter vindo à procura dos conhecidos, dos parentes. - Faz uma pausa, como se estivesse escolhendo a melhor forma de falar. - Bem, é que lamento dizer. Eles se foram.

- Como? - Zand pergunta, surpreso.

- É sim. Os seus pais, tios do Globru, faleceram faz já alguns anos... Sinto muito.

Zand mergulha em pensamentos, quando a Fran volta com um copo de água. Zand bebe.

- Bom, estou preparando o almoço. É claro que você vai ficar pra almoçar com a gente! Não faria uma desfeita dessas com seu primo, não é?

- Claro. - Zand sorri, meio sem graça.

- Bem, então vou lá preparar o almoço. Se quiser se deitar um pouco pra descansar da viagem, o quarto é ali e pode ficar à vontade. O que precisar pode pedir pra Fran, tá?

- Tá... - Zand responde, triste, e Xepyana vai à cozinha. Ainda quase tropeça em um dos cachorros da casa antes de chegar lá.

"Então aconteceu mesmo. Terminei ficando tanto tempo fora que nem pude falar com meus pais antes que eles se fossem."

- Primo?

Zand olha pra Fran, ainda sentada no sofá onde estava com a mãe agora há pouco.

- É de música isso?

- É sim!

- Que legal! Toca um pouquinho, vai!

Ele pega a lira de Knova e começa a dedilhar, com um sorriso sutil no rosto. De qualquer forma, a música é sempre um bom bálsamo.


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