Um menino com cheiro de verão

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Historicamente o mundo nunca havia sido um lugar justo. O mundo podia conter doses diferentes e variadas de agressividade e selvageria. Entre guerras, fome e diferentes níveis de ambição, o mundo era o mundo desde que o caminho de pelo menos duas pessoas com pensamentos diferentes se cruzaram. Ainda assim, nosso mundo era o berço da vida, e a vida, esta entidade teimosa, insistia em prosperar e evoluir aqui.

A vida encontrava felicidade entre dificuldades, amor em meio a guerras, via a fé além do desespero e assim mostrava ao mundo que não havia crueldade na história que conseguisse ser superior a benevolência daqueles que viviam. Com tudo que há de ruim no mundo, os Shifters eram vítima, réu e juiz. E mesmo que fosse insana, apenas a vida conseguia manter tudo isso em delicado equilíbrio; nem sempre compreendido.

Quando Arthit nasceu, o mundo aos olhos de sua amada avó parecia um lugar muito mais brando e calmo do que aquele território sem lei que ela mesma havia conhecido. Já aos olhos de seus pais, tudo parecia uma loucura absurda em que crianças já não podiam mais andar sozinhas na rua como eles mesmos faziam anos antes.

Para o menino, porém, o mundo apenas parecia um lugar muito injusto. Grande demais em tamanho, pequeno demais em possibilidades. Arthit era um ômega de Nakhon Phanon, a pequena província no extremo nordeste do país que apenas passou a ser mencionada e lembrada por todos por seu incrível feito ao descobrir e manipular supressores.

Um território pequeno em área, mas muito mais do que apenas o berço da evolução. Phanon era havia enriquecido com sua descoberta e a partir daí, a indústria de supressores havia se tornado sua principal fonte de renda; e para tal, a mesma tinha que se manter em constante evolução.

Por isto não era incomum os ômegas nativos da região serem Shifters que consumiam não apenas um, mas um verdadeiro coquetel de supressores. A propaganda geral costumava dizer fosse o que fosse que um ômega desejasse mudar em sua química natural, Phanon lhe daria.

As crianças ômegas da cidade culturalmente eram levadas aos médicos especialistas em supressão hormonal muito antes da conclusão do processo de maturação. Tudo para garantir que um "primeiro cio acidental" jamais acontecesse naquele lugar. Seus ômegas deveriam ser o exemplo de sua tecnologia para todo o país.

Durante todo o período da infância alfas, betas e ômegas eram aparentemente iguais. Estatisticamente, esperava-se que meninos se desenvolvessem como alfas ou betas, e meninas como ômegas ou betas. Todavia, enquanto crianças o segundo gênero não era identificado por nenhuma diferença em especial até mais ou menos três ou quatro anos antes de sua maturação.

Seria apenas neste período que o lobo interior de cada criança despertaria e registraria a primeira diferença física entre os três grupos; a cor de sua íris quando o lobo estava à frente da luz do controle do Shifter. Um dia, sem saber ao certo quando, o castanho nos olhos de uma criança daria lugar a um par íris amarelas, lilases ou azuis e isto iria mudar completamente a forma como ela via e seria vista na sociedade.

Mas apenas quando olhos violetas apareciam as crianças eram levadas ao médico o mais cedo possível. A maioria dos jovens tinha dificuldade em recuperar o controle e manter seu lobo em segundo plano, mas apenas pais de ômegas se esforçavam em esconder os filhos até tudo que voltasse ao normal; e isto muitas vezes apenas acontecia depois da primeira consulta.

Depois da primeira consulta, seu médico acaba virando algo próximo a um membro da sua família. Era tudo pelo bem estar de todos, acima de tudo do próprio ômega.

Trinta anos atrás cientistas de Phanom tinham colocado um ponto revolucionário na história e com vinte e um anos de idade, Arthit era um dos muitos ômegas que faziam parte desta história e que poderiam muito bem aparecer em alguma propaganda que promoveria a qualidade de vida de um ômega com seus hormônios suprimidos. Mais do isso, Arthit era um ômega cego pela gratidão de cada pequena capsula que colocava na boca.

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