Acordei atrasada. Muito atrasada. Por algum motivo, o alarme do celular não tocou, e eu não gastei um segundo para descobrir a razão. Pulei para fora da cama, chutando as cobertas quentinhas e sedutoras, encontrei um vestido roxo na caixa "para doação" e me vesti. Agarrei minhas sapatilhas favoritas e uma escova com uma mão e a mochila com a outra.
- Bom dia, Miss Sunshine. Pensei que já estava na escola. – tia Becky falou quando entrei na cozinha correndo. Ela me olhava por cima de uma xícara fumegante.
Com trinta e dois anos, cabelos curtos e em um bagunçado sexy, olhos amendoados e usando calças folgadas estampadas e regata que deixava a barriga parcialmente exposta, ela parecia uma modelo se preparando para um comercial despojado. Meu estado merecia um "Miss Sunshine" em tom irônico.
- Bom dia, Becky. – falei, enchendo minha garrafinha térmica com café. - Rola uma carona? - perguntei esperançosa.
- Uma sílaba: Max.
Concordei com um aceno e notei Calum em uma das cadeiras, mastigando cereal preguiçosamente com os olhos inchados.
- Noitada boa, Cal? – perguntei para meu irmão mais velho.
- Uma das melhores. – respondeu, com algo próximo a um sorriso.
- Pode me levar para a escola?
- Tenho uma entrevista de emprego e preciso de tempo para me livrar dessa cara.
- Você precisaria do dia todo. – resmunguei, mordendo uma torrada e queimando a língua.
Ele me ignorou totalmente. Calcei as sapatilhas e corri porta à fora.
O ar molhado e as folhas grudando em meus pés a cada passo me informaram que havia chovido durante a noite. Continuei correndo até o ponto de ônibus, chegando lá ofegante como uma boa sedentária magricela. O relógio triste e pesado, mas digital, no fim da calçada mostrava que eu tinha quinze minutos para chegar à escola, sem chance de conseguir aquilo indo a pé. Em momentos de desespero como aquele eu desejava ter um carro.
Ouvi um barulho ensurdecedor, um motor que parecia ter asma e, antes de olhar, soube o que se aproximava. Naquele ponto, duas linhas distintas me levariam ao colégio, uma com bancos confortáveis e aromatizadores e outra com blocos de metal sobre rodas e estofados vítimas de assassinos de assentos. A lata velha que parou era o pior veículo de todos, eu o chamava de tumba. Não tinha tempo para exigir algo melhor, então entrei e escolhi um lugar logo na frente para ter uma saída mais rápida. Usei a escova para dar um ar mais social ao meu cabelo mas, com toda a tremedeira do tumba, acabei com um aspecto pior. Dei dois goles no café e fiz uma careta, não era minha bebida favorita, mas serviria para disfarçar a falta de pasta de dente.
Enquanto o ônibus se arrastava pelas ruas, sonhei com um gigante cappuccino de chocolate. Em algum momento, passei a sonhar apenas com o chocolate.A John Quincy Prep estava com os corredores vazios, para meu desespero. Ignorei a existência dos armários e dos livros dentro deles e corri para a aula de biologia. O sr. Baker estava no meio de um falatório quando deslizei para meu lugar na frente da turma. O professor apenas ergueu uma sobrancelha para mim e seguiu falando. Talvez, ser a primeira da turma tenha os seus privilégios, pensei.
- Vocês realmente precisam fazer isso? De verdade? - Nicholas Miller perguntou, dois lugares atrás de mim.
- Fazer o quê? - quis saber o professor, erguendo outra fez uma sobrancelha grisalha. Will afirmava que ele era gay, eu apostava que toda aquela expressividade facial vinha de algum curso de teatro.
- Usar termos como copular. - respondeu o garoto.
- Estamos falando sobre reprodução, sr. Miller.
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Safety Pin
FanfictionLuke Hemmings sempre foi a perfeita figura de bad boy. Jogos de azar, sexo sem compromisso, festas, cigarros, bebedeira e, claro, sua "profissão" que era seu maior segredo. Coisas ilegais. Toda essa pose, no entanto, ocultava a rejeição do próprio p...