O mais puro e bondoso anjo

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Por: Cael


Eu estava diante do anjo do juízo novamente e nunca havia cogitado vê-lo tantas vezes seguidas como nos últimos dias. Porém, diferente da outra vez, agora estávamos em uma salinha pequena, na presença de mais dois anjos de cargos importantes.

E eu estava sendo julgado.

– Eu nunca pensei que teria que julgar um dos melhores anjos cupido dessa geração – o anjo do juízo começou parecendo honestamente triste – Dar a minha sentença a você hoje é uma das coisas mais difíceis que já tive que fazer.

Ele falou brevemente sobre como queria poder me dar uma segunda chance, sobre como seria obrigado a tirar o meu relógio e sobre como queria muito que eu pudesse continuar vivendo na cidade como um anjo normal, mas que infelizmente isso não era possível. Eles não poderiam me deixar continuar a ser um anjo cupido e eu honestamente nem queria mais. Ter me mostrado aos humanos já era algo ruim, mas ter voltado com as memórias da Vienna era algo que os céus não poderiam tolerar. Eu quebrei as regras duas vezes e eu não era mais de confiança para eles.

– Cael – ele prosseguiu – Eu sinto muito, mas para dar um bom exemplo aos demais, teremos que mandá-lo para a cidade dos banidos.

Engoli em seco e assenti, aceitando o meu destino. A cidade dos banidos era um local do qual eu ouvi falar diversas vezes, mas nunca sequer pensei que iria conhecer. Lá era onde todos que não cometiam o mais alto pecado, mas que pecavam em um certo nível, iam. Lá estavam todos aqueles anjos que, assim como eu, tinham ido contra as leis do céu. Diziam que era uma cidade cinzenta e sem vida, mas eu teria que me acostumar.

A pior parte seria ter que dizer adeus a todo mundo.



Fui para casa arrumar a minha mala e pensei em deixar um bilhete de despedida aos alunos do colégio em conjunto, já que não teria tempo de escrever para todo mundo. Depois que terminei de empacotar e guardar tudo o que tinha, sentei e escrevi um longo texto a eles, colocando todos os meus sentimentos. Quando acabei, fiquei algum tempo olhando para aquela casa onde eu tinha vivido por anos e anos e senti um grande aperto no coração.

Terminei de fechar a minha mala e tentei segurar as lágrimas, enquanto partia para o lado de fora. Eu não estava arrependido de forma alguma, sabia que tinha feito a coisa certa em tentar ajudar o Daniel e tinha certeza de que meu sacrifício valeria a pena. E talvez essa tenha sido a minha missão nessa vida, talvez eu tenha decidido ficar por aqui e nunca me tornar um anjo da guarda porque eu sabia, intuitivamente, que um dia alguém iria precisar de mim como o Daniel precisou.

Fechei a porta da casa e estava pronto para partir quando ouvi gritos e num instante, todos os meus alunos apareceram no meu jardim. Assim que desci as escadas, fui inundado por uma chuva de aplausos que tocaram o meu coração. Gabriel e Hanuel estavam bem na frente, carregando um bolo em mãos que dizia "Cael, nosso anjo da guarda". Ao contrário do que eu imaginava, todos os presentes estavam sorrindo.

– Por que todos vocês estão aqui? – perguntei enquanto as lágrimas escorriam violentamente do meu rosto, agora incapaz de segurar qualquer emoção.

– Como poderíamos deixar o nosso melhor professor ir embora sem uma despedida à altura? – Gabriel disse.

– Professor Cael, você é o nosso herói – Hanuel completou.

– Daniel vai sobreviver graças a você – Gabriel continuou – Não existe ato maior do que esse seu sacrifício por ele, você é um verdadeiro anjo da guarda.

Estúpido CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora