A nossa última noite juntos

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Por: Vienna


Os dias que se seguiram até a festa na casa do Noah tiveram um gosto esquisito de despedida. Estava ficando mais frio, mais escuro e mais melancólico a cada dia, mas ao mesmo tempo, a presença do Daniel fazia com que tudo de repente tivesse luz.

Nós não fazíamos muita coisa além de comer juntos, ir ao shopping juntos e assistir filmes juntos e aquilo parecia ser o suficiente. Ao invés de ficar surtando por aquela festa, parecia que eu finalmente tinha aceitado algumas coisas dentro de mim.

Daniel não é permanente na minha vida e a presença dele se esgota conforme os meus sentimentos pelo Noah vão desaparecendo. É estranho como a vida da gente dá umas voltas malucas, como a gente vai deixando de querer algo que achava que queria mais do que tudo. Eu sonhava tanto em ter o Noah ao meu lado e agora que tinha chances reais com ele, eu ia perdendo a vontade de tentar a cada dia. Ele ainda era o cara mais bonito da universidade e também o mais cobiçado e não era como se a visão dele sem camisa na quadra não fosse uma coisa bonita de se ver. Mas estranhamente, ver o Daniel com a bochecha suja de mostarda enquanto jogava videogame esparramado no chão do meu quarto parecia ainda mais bonito.

Ou talvez eu só tivesse ficado maluca.

Ele é um anjo, no fim das contas.

De uma coisa eu tinha certeza, nós fizemos tudo errado. É claro que não era para ser assim – e ao ouvir meu irmão gritando e brigando o dia todo com o anjo cupido dele, eu meio que tinha certeza de que o Daniel e eu tínhamos feito algo errado – mas também não dava para voltar atrás. E não havia um depois, pelo menos não nesse caso. Daniel iria desaparecer, voltar para o lugar onde pertencia, e eu nunca mais iria vê-lo. Não era como em um conto de fadas em que tudo magicamente ia se acertar – não, ele logo iria deixar de existir para mim.

Então, para continuar mantendo o Daniel ao meu lado, eu continuei tentando cultivar nem que fosse um restinho de sentimento pelo Noah porque era isso que ainda mantinha aquele anjo do meu lado na cama, todos os dias quando eu acordava.

Eu sei que eu sou um lixo por fazer esse tipo de coisa, mas não é como se eu tivesse outra escolha.



– Perfeito.

Daniel me colocou diante do espelho do quarto e eu me assustei ao ver meu próprio reflexo nele. Nós tínhamos escolhido um vestido preto e branco justo para a ocasião e meu anjo havia feito um coque daqueles de princesa no meu cabelo, com trança e tudo. Eu estava me sentindo bonita, por mais surpreendente que fosse pensar esse tipo de coisa. Claro que não deu para não notar o brilho nos olhos do anjo, então eu fiquei me perguntando se eu estava bonita também aos olhos dos demais, ou se ele apenas estava admirando a obra que tinha criado. Porém, eu tinha coisas mais importantes para me preocupar agora.

– Você não precisa ir – falei de súbito e ele me olhou confuso.

– Não? – Daniel arqueou as sobrancelhas – Mas essa festa pode ser o ponto de virada que nós precisamos.

– Eu sei – falei um pouco sem vida – Eu vou fazer tudo certo, não se preocupe.

Daniel assentiu não muito convencido e me deixou ir sozinha. Eu não sabia por que eu não queria ele lá comigo essa noite, mas tinha a intuição de que eu tinha que fazer aquilo por mim mesma. Antes de entrar no carro do Noah, olhei uma última vez para a porta da minha casa e vi o Daniel parado lá, acenando pra mim, com um sorriso triste nos lábios.

Nós dois sabemos que isso está chegando ao fim.



Estúpido CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora