11- Desesperada para mudar.

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Peguei o rapaz da mercearia olhando para mim. Foi discreto, mas eu percebi que ele gostou de mim. E me senti muito bem por ele me olhar daquela forma. Como se ele realmente me quisesse. Como se ele soubesse que sou uma mulher. - Jihyo está contando sua história. Ela parece tão cheia de esperança, mas eu não consigo evitar olhar para o relógio. O tempo está se esgotando. Estou educadamente esperando que Jihyo termine sua história. Eu não preciso de apoio emocional - preciso descobrir como fazer isso. Como vai funcionar. Como será a mudança.

- É errado eu me sentir como... quero dizer, eu não sou uma pessoa oferecida - Jihyo continua, e eu me sinto egoísta por querer que ela pare de falar, mas preciso esperar que ela termine.

- Não, querida, não é errado. Uma mulher gosta de se sentir bonita de vez em quando.

Hyungseo é gentil com seus "filhos adotivos". Eles ouvem seus conselhos porque Hyungseo foi uma das primeiras, uma pioneira. Ela viveu por mais tempo como seu verdadeiro eu do que o restante de nós. Ela conviveu por mais tempo com seu verdadeiro eu do que eu viverei, se chegar a fazer a mudança. Depois de ouvir as histórias deles no último encontro, sei que nenhuma das dificuldades que enfrentam é fácil.
Hyunjin falou até de como tem sido difícil seu relacionamento com a irmã, desde que passou pela transição. A irmã de Hyunjin sentiu como se tivesse perdido sua melhor amiga e ganhado um estranho como irmão. Ele diz que ela está melhorando, já consegue chamá-lo de Hyunjin em vez de Taeyeon.

Os olhos de Jihyo estão cheios de lágrimas, mas ela está envergonhada demais para deixar que caiam.

- Estou cansada de sentir pena de mim mesma. Eu me sento em meu quarto o dia todo e me pergunto se não seria melhor se eu tivesse morrido.

- Provavelmente.

Todos engasgam e ficam indignados diante da resposta de
Nayeon. É a única coisa que ela disse no encontro todo. Nayeon está furiosa. Às vezes eu a invejo. A facilidade com que demonstra orgulhosamente sua fúria. Eu sempre me sinto culpada quando estou com raiva. Oppa está trabalhando num conjunto para sala de jantar feito sob medida, mas eu percebo que seu pensamento não está no trabalho. Eu não deveria dar uma bronca nele, mas não me contenho. Bem, não vou ficar por perto por muito tempo, de qualquer forma. Duvido que ele vá me aceitar depois que eu tiver passado pela mudança. Posso ficar com Tae. Enquanto isso, sinto o casamento se aproximar. Tenho sonhos recorrentes com Lee e seu sorriso idiota. Ele segura a mão de Tzuyu enquanto ela fica ao lado dele, sorrindo com um olhar cheio de medo. Tzuyu fica chamando por mim, mas eu nunca apareço. Quando chego lá, eles desaparecem diante de meus olhos. Eu sempre acordo depois disso.

- Só não entendo por que Deus faria isso. Por que o misericordioso me criaria de uma forma quando eu deveria ser de outra? Por que sempre sinto que troquei uma prisão por outra? Meu corpo pelo meu país.

Jihyo está soluçando. Jeongyeon coloca um braço em volta do ombro dela. As emoções demandam muito tempo. Precisamos nos apressar.

- Mas não é maravilhoso que você viva na Coréia? - Jeongyeon a consola. - Onde o governo reconhece a sua luta? Você sabia que há lugares no Ocidente onde o governo nunca ajudaria a pagar pela cirurgia?

Hyungseo nos disse no último encontro que a Coreia tem um bom número de cirurgias de mudança de sexo do mundo, e que a Tailândia e o Irã são os países mais fortes sobre isso.

- Ah, sim - diz. - É tão maravilhoso receber o ultimato de mudar de sexo ou morrer como um pecador.

Geralmente ela mostra seu desprezo por Hyungseo e seus clichês soltando um rosnado de indignação ou revirando os olhos com exagero. Esta noite ela está mais falante do que de costume, e uma parte de mim quer mandá-la calar a boca, para que eu consiga minha vez de falar. Eles têm que me deixar falar.

MINE: Se você pudesse ser minha. - SaTzuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora