Capítulo 7

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“Aceita-me tal como eu sou. Só então poderemos descobrir-nos um ao outro.”
- Federico Fellini

O caminho de pedra até a mansão Malfoy era tão imponente dessa vez quanto foi da primeira, mas agora, sem um grupo de comensais debilitados, ele podia dar atenção a sua beleza singular. O corredor de arbustos que levava ao jardim da frente era cuidado com esmero, nenhum único ramo se sobressaia dos outros, era tão simétrico que teria feito Tia Petúnia em estase, Harry se forçou a não se sentir mal pensando no tempo que ele próprio tinha passado nos jardins da rua dos Alfeneiros tentando alcançar aquela mesma perfeição, ele não deveria sentir raiva dos mortos, mas ele não pode evitar um pouco de ressentimento.
Os pavões olharam para eles com curiosidade enquanto se aproximavam da rica porta de metal. Tom não bateu, ele não precisava, porque qualquer um dentro da propriedade poderia sentir o seu poder, e isso ficou provado quando um elfo atendeu a porta. A criaturinha não olhou ou falou com eles, apenas seguiu seu caminho em direção a sala de jantar onde os comensais estavam reunidos. Haviam mais cinquenta pessoas esperando por eles na imensa mesa de Mogno, muitos dos rostos Harry reconhecia como sendo os comensais que ele libertou de Azkaban, outros ele se lembrava vagamente de ter visto antes, mas nunca tinha prestado qualquer atenção, Nott estava sentado ao lado de um casal de bruxos que se parecia muito com ele, mas era o único de seus colegas que estava lá, mesmo Draco estava ausente apesar de ser sua casa, o Sonserino olhou para ele com um sorriso conhecedor que Harry não retribui, ele estava sentindo a excitação nervosa de Nott através de sua conexão, mas ele não sabia de dizer se era intencional ou não.
O lorde seguiu até a cabeceira da mesa e se sentou, a cadeira a sua direita estava vazia, ela esteve vazia por todas as semanas em que ele esteve ausente, ninguém ousou tentar tomar o seu lugar, todos sabiam que aquele lugar pertencia a Mordred. Os dois se acomodaram sob os olhos de todos, cada um demonstrando diferentes níveis de animação e medo. Sirius não estava lá, mas Barty e Snape estavam, cada um deles prestando mais atenção a Harry do que ao próprio Lorde, ele quis que eles parassem de se preocupar, ele não era nenhuma criança e apesar da explosão do dia anterior ele poderia lidar com essa reunião.
- A maioria de vocês sabem porque estamos aqui esta noite. – Começou o Lorde – Para os que não sabem, ouçam com atenção. Ontem à tarde, a família trouxa de Harry Potter foi encontrada morta na frente da entrada trouxa para o ministério. Yanxley teve acesso aos seus corpos, e vai nos dizer o que encontrou.
- Cada um deles parecia ter sofrido privação de agua e comida por cerca de três, no máximo quatro semanas. Fisicamente não sofreram qualquer abuso violento, mas havia vestígios de intensa atividade mental, como se alguém tivesse vasculhado suas memorias incessantemente, isso era mais perceptível no mais jovem. Mas não posso imaginar o que qualquer um esperava encontrar lá, todos sabem que a mente trouxa reage mal a invasão mental, não haveria como obter uma informação útil a partir deles. – Disse o homem, sua voz clínica e distante, Harry quase podia imaginar que estava ouvindo sobre desconhecidos e não sobre sua família - Gawain Robards está liderando a investigação, mas ele não tem muito com o que trabalhar, não há pistas uteis nos corpos.
- Como a população está reagindo a isso? – Perguntou Voldemort.
- O profeta noticiou isso esta manhã. Disseram que está é a prova irrefutável de que o Lorde das trevas retornou. – Respondeu o homem ao lado de Nott – Há pânico nas ruas, muitos bruxos estão tentando sacar suas fortunas em Gringotes e sair do pais. Outros estão organizando grupos de ódio, destinados a combater todos os bruxos das trevas, com ou sem marca negra.
- Dumbledore está reagrupando a Ordem da Fenix. – Disse Snape sombriamente, todos olharam para eles – Ele convocou uma reunião de emergência ontem à noite. Haviam nomes novos lá, como os Delacour.
- Eles não tinham se alinhado com ninguém durante a última guerra. – Divagou Lucius.
- Parece que a jovem campeão de Beauxbatons se afeiçoou bastante a Harry Potter. O suficiente para convencer seus pais a apoiar sua causa. – Explicou o pocionista, sua voz cheia de desprezo.
- Não é a causa de Harry Potter. É a de Dumbledore. – Afirmou Mordred atraindo a atenção de todos, alguns ergueram uma sobrancelha confusos, outros, aqueles do círculo interno que tinham suspeitas muito especificas sorriram maliciosamente.
- No que diz respeito a população, Dumbledore e Harry Potter lutam do mesmo lado. – Continuou Snape – E com o garoto desaparecido, o ódio e o medo gerado nas massas só está levando mais e mais bruxos a se alinharem com Dumbledore. Esse ataque aos seus familiares foi muito oportuno.
- Suspeitamente oportuno. – Bufou Barty, mas ninguém lhe deu muita atenção.
- Os Delacour se alinhando com a luz pode se tornar um problema. Eles tem o maior império medimago da Inglaterra, a maioria dos Healers aprendem em suas escolas especializadas. O que vai acontecer se eles começarem a se recusar a tratar bruxos das Trevas?! – Perguntou o lorde em voz alta, e todos na sala ofegaram preocupados.
- Eles não podem fazer algo assim. – Sussurrou Narcisa, mas no silencio sepulcral todos podiam ouvir – Vai contra todos os ensinamentos de um Healer.
- Não haverá ninguém para impedi-los. O ministério não vai se pronunciar e menos ainda a população. Estão com muito medo agora para pensar sabiamente. – A voz de Voldemort era sombria e suas palavras pesadas – Será como a expurga outra vez.
- Não podemos convencer os Delacour?! – Perguntou Sophia – Eles tem uma razão muito fraca para se alinhar. Anthony é mais ambicioso do que idealista. Ele vai estar disposto a ouvir o que temos a dizer.
- O que você acha, Severus? – Disse Voldemort olhando diretamente para o pocionista – Ele parecia comprometido para você?
- Ele parecia estar analisando os fatos, a menina Veela falava com muito mais paixão. O pai apenas a permitiu falar.
- Se Fleur mudasse de ideia, seu pai mudaria?! – Questionou Mordred.
- É o mais provável. – Admitiu Severus – Mas a menina está determinada, como só uma criança pode ser.
Harry sentiu a alfinetada de Snape, mas ele a ignorou.
- Fleur tem uma prima chamada Justine. – Começou Mordred – Ela é uma Fox, e elas são muito próximas. A melhor forma de chegar a Fleur, é através de sua prima.
- Você está sugerindo que coloquemos nossas esperanças em uma criança?! – Perguntou um comensal que Harry não sabia o nome, rindo debochadamente – Teríamos mais sorte simplesmente matando Anthony Delacour. Se o patriarca morrer, a família vai...
- Ficar ainda mais determinada a seguir seus desejos. – Interrompeu o mais jovem – Matar, nesse momento é a coisa mais estupida que poderíamos fazer, e você tem que ser particularmente obtuso para cogitar isso. Se o Delacour morrer, Fleur vai assumir em seu lugar, ela é legalmente uma adulta agora. E como Snape disse está determinada a se juntar a luz, de a ela uma razão para isso e não teremos qualquer chance de impedi-la.
- Então nós a matamos também. – Insistiu o homem e Harry revirou os olhos, decidindo que não valia a pena discutir com ele, o mais jovem virou-se para Voldemort.
- Meu senhor. Eu sugiro falarmos com Justine Blanchard. Ela é sensata e...
- Você não ouviu o que eu acabei de... – Começou a dizer o comensal, mas Harry não queria mais ouvir sua voz, então apontou sua varinha para ele.
- Nagatio. – Entoou Mordred, o homem agarrou o próprio pescoço desesperado enquanto sua respiração era suspensa, seus olhos se arregalaram e ele olhou ao redor da sala em desespero – Não me interrompa.
O homem ficou olhando por alguns segundos, ficando mais e mais vermelho, até que ele entendeu que Mordred estava esperando uma resposta, ele acenou afirmativamente com a cabeça de forma apressada e o rapaz suspendeu o feitiço, o comensal começou a puxar o ar com desespero. Voldemort deu uma risada curta, mas fora isso ignorou-o completamente.
- Vamos atuar duas frentes. – Anunciou o Lorde – Mordred e Sophia, vocês vão cuidar de entrar em contato com ambos, Anthony Delacour e Justine Blanchard.
A reunião não durou muito mais, alguns dos comensais tinham coisas pequenas sobre as quais relatar, mas a maior parte tinha haver com arrecadação de fundos e reconquista de patrimônios, Harry não estava prestando muita atenção. Em algum momento da reunião Nott enviou com sucesso seu sentimento de tedio absoluto e Harry respondeu da mesma forma, o moreno tentou encontrar a mente de Draco na mansão, o rapaz estava se sentindo inquieto e ansioso, provavelmente estava no quarto esperando a reunião terminar para poder ouvir tudo de Nott. Gael e Nagine conversavam entre si, discutindo o que gostariam de estar comendo e Harry estava tão entediado que queria participar da conversa, mas sabia que não era uma boa ideia deixar os outros saberem sobre seu dom.
Quando se despediram, o Lorde ordenou ao círculo interno que fosse até a mansão no dia seguinte. Harry sabia porque, eles dariam início ao seu plano de regresso, o lorde não estava muito satisfeito com isso, mas também sabia que era a melhor ideia por agora.
Eles voltaram para mansão e seguiram para a própria sala de jantar onde uma ceia deliciosa estava esperando por eles. Harry serviu as serpentes com carne assada antes de servir a si mesmo, e ambas pareciam animadas por seus desejos atendidos. Tom sorriu e disse que o rapaz deveria parar de mima-las.
- Eu não acreditei quando você disse que as reuniões de comensais eram entediantes. – Disse Harry quando eles começaram a comer.
- Essa foi até mais divertida que o normal. Assistir você colocar Carrow em seu lugar foi o ponto alto da minha noite.
- Eu não deveria ter feito aquilo. – Começou Harry, não é que ele se sentisse culpado por fazer, mas ele deveria estar, ele sufocou uma pessoa apenas porque ele estava sendo irritante.
- É claro que deveria, ele não apenas lhe faltou com respeito, ele estava sendo um imbecil. – Disse o lorde sorrindo para Harry – Eu teria feito muito pior, eu estava a ponto de ataca-lo eu mesmo para que calasse a boca.
- Que bom que fui eu então. – Sorriu Harry – Tenho certeza que os elfos de Narcisa não ficariam felizes de limpar o sangue do carpete.
- Eles já fizeram bastante disso ultimamente.
Os dois ficaram quietos enquanto terminavam suas refeições, apenas apreciando a companhia um do outro, estavam comendo pudim quando Harry falou outra vez.
- Você acha que foi Dumbledore que matou os Dursleys?
- Não com as próprias mãos. – Respondeu Tom, pensando um pouco sobre isso antes de continuar – Acho que mais provável que tenha sido Karkaroff. Seus parentes parecem ter recebido um tratamento parecido com o seu. Talvez resgata-los fazia parte do mesmo plano de resgatar você.
- Eu quero matar Karkaroff. – Admitiu Harry, muito baixo como se tivesse medo de escutar a própria voz dizendo isso – Não só pelo que ele fez comigo, mas pelo que deve ter feito aos meus parentes. Eu não posso imaginar o que o Duda passou. Ele era uma criança. Ele ainda guardava os seus carrinhos de brinquedo no quarto. Eu sou uma pessoa muito ruim por querer mata-lo?
- Eu quero o mesmo. Mas não sei se isso vai fazer você se sentir melhor ou pior por ouvir. – Disse o Lorde – Eu passei minha adolescência inteira querendo matar meu pai apenas por ter me abandonado. Sua razão é muito mais válida.
- Sua razão para matar seu pai também era. Ele não podia ter feito o que fez. Principalmente na época que você viveu. Eu lembro de aprender isso na escola trouxa. Como a guerra estava devastando Londres, o mundo bruxo não sofreu tanto, mas você era obrigado a voltar para o mundo trouxa, ver e passar por coisas que ninguém da sua idade deveria passar. Ele era seu pai, era obrigação dele cuidar de você. Eu quero mata-lo por isso.
- Eu não pensei que veria o dia em que alguém realmente entenderia porque eu matei meu pai. Os poucos que sabem supõem que eu fiz porque ele era um trouxa. – Tom falava com intensidade crua, e Harry achou que faria algo tolo se olhasse nos olhos dele agora, algo como abraça-lo sem uma razão válida para isso – Nunca achei que alguém me entenderia como você entende.
- Ninguém além de você me entende também. – Respondeu o mais jovem dando de ombros – Eles tentam, meus amigos, mas não entendem realmente. Acho que Hermione teria nojo de mim se soubesse as coisas que eu quero fazer para Karkaroff.
- Você vai faze-las. Eu já disse, vou encontra-lo e dá-lo de presente a você.
- Obrigado, Tom.
Eles não permaneceram na sala muito tempo depois disso, Tom se retirou para seu quarto, mas Harry não estava com sono, então ele seguiu para a biblioteca e passou o resto da noite estudando sobre paredes mentais de oclumência.

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